O movimento é
intenso, um entra e sai constante, meninos correm pelos espaços entre as
cadeiras de plástico. Enquanto o pastor prega no palco, muitos gritam aleluia e
outras manifestações de fé e amor ao Senhor. O clima é intenso para quem não
está acostumado e num passado distante frequentou as anódinas missas católicas.
Muitos se ajoelham e se debruçam sobre a Bíblia deitada no assento das
cadeiras. Um ou dois homens de vermelho, igualmente ao pastor (depois fiquei
sabendo que era na verdade um obreiro), me estendem a mão e oferecem a paz do
senhor. Dou meu melhor sorriso amarelo e ouso retribuir a saudação, embora saia
sem graça de minha boca sem fé. Um inquieto rapaz senta na minha frente, muda
constantemente a cadeira de lugar, mexe a cabeça insistentemente, parece que
esta conversando com alguém ou mais provavelmente com ele mesmo. Silvana me
chama a atenção para seus dedos em forma de baquetas de tambor, diz ser sinal
de viciado em crack. Minha preocupação não aumenta e sim minha curiosidade. Num
supetão ele se levanta e se aproxima de uma jovem que esta duas cadeiras ao meu
lado direito. Põe as mãos em concha ao redor de seu ouvido e lhe faz uma
secreta pregação que termina com um sonoro berro, felizmente abafado pelo coro
que canta em honra do Senhor. Ele volta à sua cadeira em minha frente e a jovem
franzina permanece em pé, olhando em frente, sem abrir a boca, talvez orando
pela paz que tanto anseia, ou quem sabe desejando o fim próximo da própria
vida. Imagino uma lágrima retida que não ousa sair. Com sorte seu algoz não
dure muito e ela encontre um bom pai entre os irmãos em Cristo para sua filha
que daqui a pouco estará rodopiando feliz nos braços do desnorteado e amoroso
pai.
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