Seguiu os conselhos da
vizinha e foi bater no culto. Fizera mais despesas que o necessário e estava
atolada em dívidas. Só de cartão eram mais de dez mil. O colégio dos meninos
estava atrasado já três meses, tivera que implorar para o diretor financiar a
dívida. E o pior é que já não podia pedir para ninguém, todos já tinham
participado com algum e não queriam nem ouvir falar de mais empréstimos: Tá me achando com cara de otário, rasgou o
cunhado quando ela chegou de mansinho, pedindo conselho em forma de notas de
cem. Apelar para a mãe já não podia, o irmão tinha proibido a velha de soltar
mais algum, embora aqui e acolá descolasse uns trocados para a merenda dos
netinhos. O ex-marido continuava surdo a suas súplicas. Pagava a pensão e ela
que se virasse. Sua nova família também tinha necessidades e uma mulher
equilibrada na contabilidade da casa. O desespero faz milagres, pensou ela e se
entregou de alma às preces, suplicando ao senhor que mal conhecia de perto, a
solução de seus problemas. Depois da celebração a vizinha a chamou a conversar
com o pastor, sugeriu que ela se abrisse, contasse tudo ao representante do
senhor e seguisse seus santos conselhos. Saiu da igreja com a alma leve.
Parecia que todos os problemas tinham sido desencarnados de seus ombros. Chegou
à casa silenciosa, com fácies angelicais, motivo de espanto dos filhos
famintos, e se recolheu a sua santa tarefa. Orou a noite toda, tudo prometendo,
tudo pedindo. O sol que ainda nem bem nascera a encontrou de joelhos, o tronco
debruçado sobre a cama, num cochilo divino, quando o irmão bateu forte na
porta. Ainda no velório quis saber do primo corretor quanto achava que valia a
casa da mãe. Dividiu a resposta por três e ninguém entendeu seu tosco sorriso.
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