Acordou às cinco em ponto com os pingos na janela de março.
Para você ver como as coisas andam estranhas na época em que se passa essa
estória, virou a torneira e um sopro vazio sem água fez puf e se apagou. Ainda
bem que se prevenira e deixara um baldo de plantão debaixo da pia, com o que
ele fez uma ligeira ablução. Abriu uma latinha de refrigerante de cola para
acompanhar o pão com salsicha e maionese. Vestiu seu terno bem cortado - hoje é
dia de reunião da diretoria - e desceu. Ligou o carro por uns dois minutos até
deixar o motor quente e macio e desligou. Abriu o portão e deixou-se levar pela
corrente de gente que fluía tortuosa por entre os teimosos veículos que ousavam
enfrentar o rush eternizado pelo sonho do carro próprio, muitos deles
abandonados pelos donos em plena via. Pegou a fila do elevador as sete e trinta
e nem bem dava oito quando pontualmente adentrou sua sala. Passou o antivírus
no computador e abriu o relatório que havia preparado para a reunião. Um aviso
de notificação no Face o atrasou um pouco; teve que compartilhar a piada com
todos seus amigos. Mesmo assim foi o primeiro a chegar à reunião. Depois de
muita discussão marcou-se outra para próxima semana, para se acertar detalhes.
Voltou à mesa e pediu seu almoço pelo telefone. O sanduiche de presunto e
queijo mais o suco de caixinha chegou meia hora depois. A tarde passou sem
percalços, fora o ar-condicionado que pifou e a manutenção prometeu vir semana
que vem. Tentou ligar para a moça que
andava ficando, combinar um jantar a dois, mas o celular dela esteve sem sinal
a tarde toda. Sem coragem para arriscar voltou para casa nos mesmos passos da
vinda. Depois de ser roubado em uma ou duas esquinas, chegou a casa em tempo de
assistir a novela das sete, enquanto comia a pizza pronta esquentada no
micro-ondas. Bebeu quatro cervejas vendo o jogo final da série C do futebol
brasileiro e dormiu feliz, sonhando com o inadmissível.
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