Fazer cinquenta anos não foi mais
difícil que colocar mais de trinta familiares na exígua sala de meu modesto
apartamento. Mas acabou tudo bem. Todos elogiaram a comida da Livramento, minha
valorosa e paciente secretária. Tive a sorte de passar por poucos e indignos de
nota pequenos problemas. A saúde nunca
foi abalada a sério, a não ser as inevitáveis dores osteomusculares
consequentes a uma ininterrupta atividade física e uma rinite que pouco
perturba o sono. Perdi um pai e uma irmã com muita dor e algum conformismo.
Vivo há 25 anos com uma mulher dedicada e amorosa com quem divido as despesas
da casa e criação de duas lindas, inteligentes e pouco trabalhosas mocinhas. Minha
falta de fé e racionalidade diante da vida e da morte faz de mim um pessimista.
Não dos que vivem reclamando de tudo. Mais para um fatalista. Procuro poucas
respostas, embora esteja sempre lendo. Prefiro as ficções. Gosto de pensar em
paralelo com os outros. A noção do “enquanto isso” me fascina. Sou um pobre
animal que gosta de comer bem e se pudesse dividiria mais. Perdi o bigode no
último carnaval, com a devida licença da mulher e acho que passarei algum tempo
com este novo visual. Seria preocupação em parecer velho? Acho que sim, embora
prefira explicar como um recomeço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMeu querido e admirado primo, sempre me fascina sua forma de ver a vida e descreve-lá. Seu meio século não te fez diferente e sim deixou mais charmoso em todos os aspectos, na sua irreverência, na sua sutileza, e na sua aparência física...Parabéns pela vida.
ResponderExcluirElogios de uma tão conceituada e sensível pessoa como você muito me envaidece e estimula a tentar sempre ser uma pessoa melhor. Obg.
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