A fila avança lentamente ao lado do caixão do amigo.
O véu fino não esconde a careca e o bigode ridículo, que a mulher não permitiu ser tirado, nem depois de morto. O grupo se junta num canto. Fala-se pouco, um fungado aqui outro ali. É Sexta; finda a tarde.
Enterrado o amigo, se despedem sem palavras. Um adeus de mão é mais que suficiente. Falar abriria a barreira que retêm as lágrimas.
Meia hora depois o primeiro chega ao bar. Logo são dois; ninguém gosta de beber sozinho. Bebem devagar, sem sede. O álcool sobe devagar à cabeça e as palavras vão se tornando mais soltas e espontâneas. Os celulares tocam uníssonos, as mulheres reclamam do despautério. Dão a sincera e óbvia desculpa:
- Ele adorava esta cerveja de sexta!
- Era sempre o primeiro a chegar!
Depois da missa de sétimo dia combinam se encontrar para beber o amigo. Hoje são três:
- Nunca faltou uma sexta!
- Só saia quando apagavam a luz do bar!
- Era quem dividia a conta!
Mês seguinte estão no bar, quando chega o quarto:
- Porra vocês não foram pra missa de mês?
- Aquele ateu lá queria saber de missa, gostava mesmo era de tomar uma gelada;
- Saia sempre por último já melado;
- Dividia a conta e sempre pagava menos que todo mundo.
Ano seguinte: estão todos lá:
- Poxa, esquecemos a missa de ano;
- Se fosse a minha ele não teria ido;
- É, mas ninguém aqui me diz que ele não faz falta;
- Era um irreverente!
- Um brinde ao amigo que nunca saiu da nossa mesa!
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