O crime
João estranhou o carro parado
em frete a sua casa. Franziu a testa, achou que conhecia aquele carro. O vidro
fumê não deixava ver o motorista. Quando abriu o portão baixo de ferro, ouviu a
buzina e se virou. O vidro do Monza azul escuro foi descendo devagar e ele
reconheceu o homem que lhe apontava um 38.
Na noite antes do crime
- Alô.
- Oi, sou eu de novo!
- ....
- Num desliga não. Eu sei que
você não está sozinho, mas escuta...
- Olha, eu não quero te
magoar mais do que magoei, mas bota na tua cabeça que acabou, eu tô em outra,
me esquece, bota tua vida pra frente, arranja outro, me esquece.
- Eu te amo, não quero saber
de mais ninguém.
- Levanta a cabeça, bota um
daqueles teus vestidos justos e sai à caça criatura. Você ainda tem muito que
dar.
- Você pensa que é fácil para
uma mulher na minha idade.
- Mas você ainda tá bonita,
bem conservada e ainda por cima experiente. Tá assim de homem solto nesse
mundo.
- Mas tu sabes o que eles querem
né?
- O que é que tem? Solta a
franga criatura. Libera tua cabeça. Foi justamente esse teu grilo com o sexo
que atrapalhou nossa relação. Abre tua cabeça. Experimenta, te solta, cai na
vida.
- Você deve estar bem
satisfeito com a puta que arranjou né, cachorro?
- Olha lá, deixa de ofender a
Cidinha que eu desligo essa porra na tua cara.
- Pois então me aguarde....pu
pu pu pu pu pu pu pu .
Na manhã antes do crime.
- Bom dia Dona Glória.
- Oi João. Na hora do almoço
sobe lá no apartamento, que eu tenho um serviço extra pra ti.
- Certo Dona Glória.
- Até mais tarde.
Na tarde antes do crime:
- Alô.
- Pronto, fiz o que você
mandou.
- O que mulher?
- Dei pro João da portaria,
aquele moreno bonito, alto e forte.
- Que diacho tu tá falando?
- Gozei que nem uma cachorra.
- Filha da puta. Tu quer é
desgraçar minha vida?
- Só segui teu conselho, me
liberei.
- Mas logo com o porteiro,
sua vagabunda.
- E o que é que tem. O troço
dele é enorme, dá de chinelo no teu!
- Safada, isso é coisa que se
faça com um homem direito como eu.
- Tu num me trocou pela tal
de Cidinha.
- Mas é diferente, ela nem
mora no bairro.
- O João mora longe também.
- Aposto que ele vai contar
para todo mundo no condomínio.
- E eu com isso. Eu quero é
ser feliz e sem homem eu num fico.
- Quando vivia comigo era
cheia de não me toques. Vivia de bode, com enxaqueca...
- Mudei, agora sou uma mulher
largada, e mulher largada tem de aproveitar tudo que a vida pode dar, meu bem.
- Como é que eu vou ter cara
de ir pegar os meninos? Todo mundo vai me chamar de corno do porteiro.
- Liga não. Você mesmo num
vive exibindo a talzinha pela vizinhança.
- Mas com o porteiro, é
sacanagem da grossa. E a minha moral, como fica?
- É sacanagem grande mesmo, o
bicho é brabo na cama. E o sacana me disse que tinha ficado tão animado que ainda
ia dar uma com a mulher quando chegasse em casa.
- Filho da puta. Ele me paga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário