Existe
certa dose de hipocrisia na crítica ao excesso de impostos. As vozes que
alardeiam contra a pesada carga imposta pelo governo são as mesmas que
sussurrando, confessam a façanha da sonegação e das propinas pagas a fiscais. Desconfio
que a tríade altos impostos+alta sonegação+corrupção satisfaça muita gente que
grita alto para abafar o zumbido intermitente da tão mal afamada quanto
indispensável caixa dois. Baixar impostos e esperar menos sonegação me parece
utópico; o lucro é o motor da economia capitalista e quanto maior melhor.
Baixar impostos significa menos dinheiro para cumprir com as obrigações que
todos esperamos do governo: educação, saúde, segurança, limpeza urbana, lazer.
Todo governo é criticável, pois reflete a sociedade que representa. Nossa
sociedade esta longe de atingir a consciência de cidadania, embora tenha havido
avanços nos últimos anos. Lembro que há um par de décadas era inadmissível se
vaiar abertamente um presidente, ver um juiz de algemas, assistir um senador
responder por atos supostamente ilegítimos. Embora saibamos que muitas
acusações não passarão disto, fica a mensagem que todos estão bem vigiados, que
não podem fazer abertamente o que praticavam num passado recente, que a
arrogância e a prepotência são incompatíveis com o cargo público. A mais
coerente reclamação de quem paga impostos é de que não ver o resultado, o
destino de seu dinheiro, ou seja, aceita pagar impostos desde que tenha certeza
que ele irá para destino certo e não para os bolsos da corrupção. Uma solução
para isto me parece a isenção de impostos por trabalho realizado na comunidade
pelos cidadãos e empresas. Isto já vem sendo realizado no Rio Grande do Sul com
descontos no IPTU para quem planta árvores em sua propriedade, e pode ser
expandido para todo país e para outros serviços. A Coelce tem programa que dá
descontos na luz em troca de produtos recicláveis. O governo poderia dividir
suas obrigações com o cidadão e pagar este serviço sob a forma de descontos no
imposto. Pague a escola de crianças carentes e debite o valor do seu imposto de
renda. Atenda paciente do SUS em seu consultório e receba isenção do ISS. Faça
a manutenção da praça em frente a sua casa e desconte do IPTU. As
possibilidades são inúmeras. Cada cidadão pode dar sua contribuição e o estado perderá
receita, mas terá menos encargos. Fica aqui a sugestão. Não adianta criticar o
governo se a sociedade não está preparada para exercer a cidadania de exigir
direitos e cumprir deveres.
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