Pipipipi, o relógio interrompe o
último sonho - que sempre é o melhor porque é o único que lembramos. Hummmm, a
mulher reclama da noite curta demais para seu excesso de sono. Trum, o
ar-condicionado retruca, ao desligar a chave e interromper seu zunnnnn monótono
e feliz. Crec, viro o trinco e a mulher, hummmm, se vira pro outro lado.
Chiiiiii, a água escorre entre meus dedos e molho o rosto antes de encarar meu Uauuuu de urso no espelho. Tummm,
responde o piso da sala a cada passo e lembro com raiva que o pedreiro não
sentou o granito que espera a mais de dois dias no corredor. Friiiii, procuro a
página do livro que abandonei ontem a noite e sigo pro banheiro. Os tibuns e
pruns que se alternam continuamente não incomodam a primeira leitura do dia.
Outro chiii e a ducha limpa impetuosa meu fiofó. Tec, fecho o boxe de alumínio
encardido de dez anos. Chiii, de novo! O chuveiro elimina meu último torpor com
sua água tépida de verão. Cueca, calça, meias, camisa e sapatos são personagens
tímidas e discretas, não querem aparecer nesta história, fazem parte do
intervalo mudo desta epopeia sonora. Zummm, o elevador se aproxima, Zummm, e me
leva até o pátio. Bom dia, finalmente uma voz humana interrompe minha solidão,
não custa nada ser educado. Tum-uou-tum-uou-tum-uou, meus passos e os pombos
ensaiam uma sonata quando o Cruaa do papagaio, última aquisição de algum
vizinho solitário, vem completar o trio. Do outro lado do muro alto pás,
picaretas, martelos e rodas constroem a expansão do shopping vizinho. Beep,
destravo a porta do carro. Viro a chave. Tchuc-tchuc-tchuc, o motor refuga, mas
Vummm, amacia em poucos segundos. Ligo o rádio e me deixo voluntaria e
definitivamente dominar pela música popular brasileira. 07/01/03.
Saudações,belos textos,segue o exemplo do pai Teúnas que publicava no jornal "O Acaraú", coloquei seu blog como sugestão no Blog Acaraú pra recordar,abraços
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