A teoria da evolução de Darwin
deu argumento biológico e filosófico para a desigualdade entre os indivíduos e
as espécies: vence o mais forte. Mesmo assim o capitalismo continua afirmando
que todos têm as mesmas oportunidades e podem chegar ao topo; só não ensina
como, e faz mesmo questão de manter o segredo patrimônio de poucos. Se fosse
possível fazer a divisão da riqueza do mundo certamente todos seriam pobres,
mas nem notariam pela simples ausência da comparação. Alguém vai certamente
argumentar que desta forma a humanidade não se desenvolveria, não correria atrás
de novas conquistas. O desaparecimento da ambição nos transformaria em seres parasitas,
pois a maioria fraca viveria à custa dos fortes. Embora não seja louco em discordar
de tais argumentos, confesso minha sincera simpatia por um mundo menos
competitivo. Não defendo com fervor a necessidade de ter de ser bom em tudo,
aprender muitas línguas, ser pau para toda obra, estar disponível a qualquer
momento, dançar conforme a música e tantas qualidades indispensáveis para o tão
sonhado “vencer na vida”. Mas o que
fazer com os Jakobs Von Gunten do nosso mundo? O personagem do livro lançado em
1909 pelo Suíço Robert Walser entra no Instituto Benjamenta com a simplória
pretensão de não ser grande. Não possui o sonho do sucesso e rema contra a maré
da busca pelo lugar no topo da sociedade, e se resigna a simplesmente viver
para servir. O fato inexplicável do porque da existência de uma escola que não
possui currículo nem professores, onde todos os alunos são estranhos e
possivelmente doentes, provavelmente a escória de uma sociedade competitiva do
início do século 20, e do após guerra, nos remete imediatamente ao universo
kafkaniano e não a toa muito se fala que Walser influenciou o escritor tcheco.
Seja fato ou mera especulação, a esquisita escola me lembrou o Castelo de
Kafka. Um lugar tão improvável de ter sido construído só poderia acabar sem
explicação alguma. Os Jakobs, porém, continuam a existir, não por menosprezarem
o propagado sucesso (será que conseguiremos algum dia nos livrar da indução ao
consumo), mas pela impossibilidade de alcança-lo.
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