Entra
no salão do bar. O cheiro de limão enche o ambiente de frescor. Eita mulher
trabalhadeira e caprichosa que eu arrumei. O balcão todo arrumado: caneta e
bloco de papel pros pedidos. O cesto vazio, pronto para mais um dia de
arremessos. A gaveta organizada, cada nota e moeda com suas irmãs. O chão
brilhando que dá gosto, pra freguesada elogiar. A pia sem um pingo sequer, os
copos emborcados prontos para receber as manchas dos dedos. O freezer até a
tampa de mofadas. Toalhas brancas e limpas cobrem as mesas. Ri satisfeito, vá
ter sorte assim na casa do Chico. Essa
conhece o ofício, pensa sem medo. Vai até o calendário mudar a folhinha. Chama
a fulana aos berros, era bom demais para ser verdade. A moça chega da cozinha
de cabeça baixa. Tá tudo muito bem, mas o que dizer do calendário atolado na
poeira. Desculpa seu menino, mas essa imoralidade eu não alimpo não, e volta
ligeiro para a cozinha.
Pega
a flanela e faz o serviço, se o dono não tiver com o olho pregado o negócio
degringola. Empregado é tudo igual, não se pode confiar. Onde se viu tamanha
imundice. Deixar a minha menina toda suja, sussurra indignado.
O
dia corre quente. Pernas entram e saem, braços abrem e fecham portas, mãos
recebem e dão troco.
Porta
baixada, dinheiro contado, banho tomado, recolhe-se exausto. O cheiro de
sabonete vem devagar. Vira-se para ela já pronto para a luta.
A
moça resmunga e dá as costas. Quem devia tá com raiva, e com razão, era eu, o
calendário estava imundo, o reclamo sai meio dengoso. Mas já esqueci, dá cá um
cheiro, puxa de leve pelo ombro. Ela se volta ligeira. O senhor devia de tirar aquela
sem-vergonha da parede, diz com os olhos molhados. Isso tudo é ciúme da moça da
foto, a pergunta sai no meio do riso pela inocência da menina. É só o retrato
de uma magricela seca e sem bunda. Mas os fregueses gostam, que é que se há de
fazer, questão de negócio. Nem se compara com a minha gostosona, diz já em
pleno engolfo.
Depois
do amor tomba sonolento sobre o travesseiro. Acorda, o lado vazio como sempre.
Entra
no bar. Tudo nos trinques como sempre. Vai direto para o calendário. Ela entra
satisfeita e pega ele de flanela na mão. “Num precisa mais de limpar não seu
menino, eu já tirei o pó de cima da coitadinha.”
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