“Dizem que os velhos são egoístas, materialistas, roncadores.
Uns verdadeiros porcos”. Só na metade do livro encontramos a explicação para o
nome da guerra que se inicia sem se anunciar, fato digno do realismo fantástico
latino americano. Tomados por um ódio repentino os jovens de Buenos Aires
passam a espancar até a morte seus velhos. Vista pelo olho de um quase
sessentão aposentado, algo impossível nos dias de hoje, onde a idade mínima
para o homem dar por encerrada sua vida produtiva é sessenta e cinco anos, as
razões para a tal Guerra dos Porcos quase que se justificam. Por que viver uma
vida improdutiva, sem o conforto do amor e o consolo de uma companhia decente?
Os poucos amigos com quem divide o tempo ocioso num jogo de truco cheio de
manobras não muito honestas, são mero passatempo, companheiros de uma solidão
interior impossível de preencher. Bioy desnuda o medo que todo velho tem de se
descobrir inútil, indesejável e invisível. A morte violenta e precoce do velho
seria uma espécie de eutanásia a favor de uma sociedade sempre em busca da
produção vigorosa e do movimento incessante, que não dispõe de lugar para os mecanismos desgastados
pelo tempo. Mas toda guerra acaba. A trégua chega de forma inesperada coincidentemente
quando uma jovem mulher troca inopinadamente seu viril pretendente pelo nosso
vetusto personagem. É como se Bioy nos ensinasse que está no amor a solução do
drama humano e que nada, nem a morte, ou sua proximidade, é maior que ele.
Belíssimo, de uma realidade mortal! Quero ler o livro.
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