Ninguém
passava pela calçada incólume ao par de coxas na porta do bar. Quem não
conhecia o João olhava de soslaio e seguia adiante, a água na boca afogando a
inveja do “felizardo”. Os que o conheciam de vista davam boa tarde, sorriam
amarelo e iam sonhar mais adiante com a imagem impudica fresca na memória.
Havia muitos outros, mas os que interessavam ao nosso felizardo eram os
companheiros que viriam sentar a mesa com ele para beber e jogar conversa fora.
“Senta
aí cara, a Rosinha não se incomoda não”, fingia um tom casual, mal disfarçando
o orgulho.
Com
pouco a mesa estava lotada. Rosinha, flor arrodeada de zangões, monopolizava o
papo e as atenções, com muito respeito, é claro, ninguém ultrapassava o sinal.
“Mulher
de amigo meu pra mim é homem”, todos tentavam se convencer, mas estava difícil
pra burro.
Diante
do mictório dois deles comentaram.
“Eu
não disse que o cara não era bicha coisa nenhuma”, afirmava um.
“É,
pra pilotar um avião daqueles tem que ser muito macho”, confirmava o outro.
“Foi
criado pela Avó, é só pinta”, explicava.
Enfim os pombinhos se despediram. Era o primeiro
dia dos namorados deles.
“Tinham
muito que comemorar”, disse João sem deixar nada escondido nas entrelinhas,
enquanto Rosa se enroscava despudoradamente em seu corpo, que só soltou quando
dobraram a esquina.
“Passa
a grana boneca”, estendeu a mão gulosa.
“Já
sabe né, bico calado”, obrigado.
Enquanto
a boazuda se afastava faceira ele entrou no carro do namorado.
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