Estava eu saindo do trono, já fechando a porta para que o
bafo do eliminado não servisse de reclamação e chacota dos presentes, quando o
colega entra vociferando sua indignação diante do que lhe acabara de ocorrer.
Como poderia ser isso possível? O flanelinha se recusara a lavar seu carro.
Diante na interrogação dos presentes o reclamante passou a destratar o dito
cujo. Que era um cachaceiro, só trabalhava o suficiente para comprar a pinga do
dia. Que o país não poderia ir para frente com gente daquela laia. Bem feito
que pegasse uma cirrose. Que não mais lavaria o carro com aquele vagabundo e
que tudo era culpa do “Bolsa Família”. Tomei meu café sossegado, expressando
minha concordância com um singelo balançar de cabeça. Joguei o copo no lixo,
botei a mochila nas costas e me despedi com meu mais sincero e pra cima
polegar. Quando ia saindo no portão vi o sujeito do outro lado da rua, já na
calçada do boteco, mas ainda lambendo os beiços, dando mais um tempo para a
vontade. Desci o vidro e o chamei. Ele veio desconfiado, pronto para receber
minha repreensão. Tirei uma nota de cinco do bolso, disse que achava que ia
chover e pedi que tomasse uma por mim.
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