quinta-feira, 27 de março de 2025

Caminhos

Caminhos são tantos
Quantas as possibilidades.
Pais e Mães respondem
Por toda e sincera vontade.
Filhos são tão improváveis
Quanto a incerta realidade.
Herdar o nariz
Ou a média das alturas
É tão indiferente
Quanto ousar 
Dividir sonhos. 
A matéria que nos une
Devia ser suficiente 
Para nos fazer únicos. 
Caminhos são tantos 
Quanto são as verdades. 






sábado, 22 de março de 2025

Assinaturas

Nada mais para fazer senão lembrar. Enquanto assisto a vida correr para lá e cá, entre tantos rostos para quem sou um perfeito invisível, passeio o pensamento por aqueles que se fizeram saudade. Revejo as lições da infância, as pequenas palmadas pela pequena malcriação, as brigas por motivos incertos, os incontáveis copos brindados, as pequenas e grandes confidências, os cafunés que valiam moedas, os braços que me carregavam para a cama, os xaropes e infusões que aliviavam as incômodas gripes, as viagens vividas e as nunca realizadas, os olhares cheios de compreensão, mas também de repreensão, tudo assim embaralhado, coisas e fatos tão cotidianos que fica difícil explicar o porquê de permanecerem registradas na memória. Enquanto o mundo gira, e com ele cada um de nós, vira dúvida nosso sonho de eternidade. Será que somos esse sonho? A resposta é tão incerta quanto é real a presença de todos que assinaram o caderno de nossa história. 

Ausência Anunciada

Não é dor.
Passa bem perto 
De uma ausência 
Anunciada. 
Sabe aquela cantiga
Que a gente sabe 
Que vai ouvir,
Mas teima em mudar
O dial ao mínimo acorde? 
Mas sempre chega o dia,
E a gente sente 
Tanto cheiro conhecido,
Ouve todos os conselhos 
Reincidentes,
Lembra de cada 
Minuto de embalo
E de real companheirismo,
Que fica difícil não
Sucumbir a um sentimento 
De vazio. 
Assim se conta e faz 
História. 
Um dia de cada vez. 
O amanhã não pertence 
A quase ninguém.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Corações

Mais um coração veio morar e pulsar no meu peito. Meu eletro espiritual não é feito de linhas, mas de nomes: Seu Teúnes, Dona Helena, Tiquinha, Hermênio, Tio Vicente, Tio Egberto, Primo Edmilson, cada um e tantos outros fazem parte e contam um muito de mim. As lágrimas que me surgem ao lembrá-los "quase" secam ao senti-los bater forte aqui dentro e saber que se instalaram de forma tão mansa e natural quanto é a justa realidade de uma vida plena de amor. Eles me ajudam a empurrar cada gota de sangue, aparecem nos sonhos que me acordam no meio das noites e se insinuam misteriosamente em cada arco-iris de madrugada úmida. 
Entao tá.
Então tum.
Ausência carente de dor.
Então tá 
Então tum.
Doce sentir esse calor.
Então tá 
Então tum
Guardo todos com muito amor. 

terça-feira, 11 de março de 2025

Abismo

Cadê a solidão que

abandonei na esquina,

sem migalha ou gota? 

Pode ter chovido.

Do chão um pão seco nasceu. 

Criança maldita. 

Nenhuma mãe quer. 

Tua sorte é a franqueza. 

Tiro no meio da testa.

Abismo que a planta do pé anuncia. 

Vazio que o horizonte empresta.

Afago de mão fechada e vazia. 

segunda-feira, 3 de março de 2025

Carnaval

Tomara que chova.
Três dias parecem pouco
Para quem nunca
Esqueceu o que é brincar.

Chuva de alegria 
Passo dado sem galocha.
Chuva de euforia.
Para quem não se importa.

Lá vem ela.
Gabriela que sobe telhados
Odor de gente 
Sem pena dos enjeitados.

Queimar incensos
Adorar tantos deuses 
Quantos eles são.

Consumir a alegria 
Sem a parcimônia 
Nos desejos eternos. 



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Torpor

Delícia 
Essa sensação estranha
E concreta 
De não pertencimento.
Nenhum sonho
Cabe no momento,
Só uma nuvem
Que passa sem permissão,
Canto de galo 
Em pleno sol a pino.
Vento que leva 
Para bem longe 
A pipa do menino. 
E depois da curva, 
Entre mil encruzilhadas,
Decidir pela mais longa,
Mais infinita
Das estradas.