sábado, 23 de agosto de 2025

Cólica

Quando o sol 
For maior que o céu,
Mais salgado 
Que o sal,
Mais doce 
Que o mel,
Vou engolir tudo,
Remoer bem moído 
E cagar bem tranquilo,
Numa bosta de paixão.

Vigilante

Olhando para dentro
A gente se descobre 
Tão só quanto nasceu.
Se não fosse a mãe,
O que seria de cada um? 

Não há encontro
De dois no infinito.
Só um desejo de mar,
Um raio de sol
Invadindo as razões 

Não há colo
Suficiente para a dor,
Nem peito que alimente 
Os sonhos que a gente 
Quer sempre ter. 

Olhando para fora
O mundo não é grande,
Mas suficiente para a
Maneira imperfeita 
De o entender. 

sábado, 16 de agosto de 2025

Baron Vermelho

Se batons fossem eternamente vermelhos o mundo mal respiraria branco ou rosa. Os fluxos não respeitariam regras ou ideias. As redes balançariam sem fim ao embalo do doce fluir. Prazer seria detalhe. Brincar um retalho. Viver em três palavras. Fácil serem quatro. Tudo sem porque. Cheiro de suvaco. Tentar ser um. E ser dois. Dor na alma. Talvez no rim. Onde está você? Vento corre frio. Mudar para o que não encanta. Jogo besta de quem não tem o que justificar. Queria sentir a ferida esquecida, a agulha profunda que preenche a ausência do desejo da dor. 

luta

Perseguir a luta
De um destino sem fim.
Fonte de luz que flutua
Entre o azul e o carmin.

Quando menos se espera
O destino já passou.
Resta uma torpe quimera
Do brinquedo que quebrou. 

Brincar parece até briga,
Barulho brinca de canção.
Cachaça é quase desgraça
Fumaça é pura ilusão.

Manias que flutuam 
Entre desejo e utopia
Achar graça da bagunça 
Louça suja sobre a pia.

Lembrar que o amanhã 
Não existe na justa
Intenção do puro ser.

Cadê meu caminho?
O que me prometeram?
Sigo só e sozinho! 









sexta-feira, 15 de agosto de 2025

haikai 1

Não devo acreditar 
Em Santos e heresias.
Durmo no silêncio que 
Habita todas as utopias.



Dados

Apostei tudo 
Em algo maior que eu.
Os dados rolaram doidos 
E a sorte não me deu.

Acreditar nunca 
Foi o meu forte,
Olhar para o sul sim
Sempre foi meu Norte. 

O vento do mar
Insiste me perseguir 
Frio que aprendi acalentar 
No calor do doce Rio. 

Navego além do luar
Carente de todo estio.
Seco de tanto esperar
O sabor do próximo navio.

Onda a pureza do céu,
Onde a beleza do mar?
Onde se perde a ilusão 
Se é proibido sonhar?

Bazófia

Não há direito animal maior que o de estribuchar. O bicho acoado vira fera, pela simples perspectiva do tudo ou nada. Toda boa estratégia de guerra deve permitir uma rota de fuga ao inimigo. Uma fera sem opções tem tudo para virar um monstro imprevisível. Os vencidos, principalmente os que foram por pura força bruta, recuam anunciando suas razões e desencantos, mas reconhecem a derrota e seguem adiante na perspectiva de alcançar melhor sucesso no futuro. Afinal o mundo gira e o pavão de hoje será o espanador do futuro, como não cansa de dizer um dileto amigo. Mas o que fazer com os pavões que não percebem a toza das penas? Os que estufam o peito, escondem sua decadência sob tosca maquiagem laranja e piam ou pupilam as mais absurdas idiossincrasias sobre toda comunidade aviária ou não? A turbulência sempre fez parte dessa aventura animal sobre a crosta terrestre, onde nenhum deus conseguiu a unanimidade para proporcionar a harmonia natural a sua suposta criação. Alguns tentam a pacificação com o eterno através do livre-arbitrio, o que outros se utilizam e confundem com liberdade sem fim. A tecnologia permitiu a possibilidade de se espalhar qualquer coisa que brota de qualquer oca cabeça, sem o medo do retalhiamento real e imediato. Pouco importa se o gatilho do inimigo é mais veloz se eu posso atingi-lo de longe, seja com calúnias e difamações. O escrúpulo não incomoda ao pavão sem penas que conta com a plateia de minhocas que ele tem até nojo de bicar. Ou seria só medo de perder a mesmo que torpe e simplória platéia? O mundo é grande. Os mares ocupam 2/3 da superfície da Terra. Nenhum império durou para sempre.