sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Namorado da Dor

Meu ar é a dor.

Me alimenta o pensar 
que ninguém 
namora a morte
como eu.

Pois sofro pela simples
razão de respirar
e espero ser 
incompreendido,
o ser vivente 
que não sonha 
com a eternidade.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Éter


Não quero falar de amor,

Nem esquecer que existe o ódio.

Quero dizer que existo

E isso devia bastar.

De tudo que sei

Muito queria esquecer.

De muito que sou

Tudo quase desejo mudar.

Nada é tão absoluto

Que não admita questão.

Nada está completamente cheio.

Não existe a ausência do vazio,

Nem a concretude de qualquer razão.


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Creio



Crer:
Necessidade ou obrigação?
Algo que se aprende
Ou que brota macio
Do fundo do coração?

Um dia ousei
Dizer que não cria.
Hoje sei, estava errado:
Só não crer
Quem tem vida vazia.

Creio no sorriso verdadeiro
Dos meus pais quando aqui chego,
No seu beijo que me faz criança,
Neste ninho, onde esqueço o medo.

Creio no amor quase materno
Nos olhos de minhas irmãs
Como no sol que brilha eterno,
A cada nascer da manhã.

Creio no calor amoroso
Dos braços de meus irmãos
Creio na lua que enfeita
O céu dos homens bons.

Creio nos meus sobrinhos
Meninos e meninas que vi crescer
Bonecos moldados pelo carinho
A quem quero ensinar e com eles aprender.

Creio nos tios e cunhados
Pais, mães, irmãos segundos de tantos caminhos.
Creio na palavra sincera
E fraterna de todos os amigos.

Creio nos pais que me adotaram
Que me querem que nem filho
Pais da companheira
Com quem meus dias partilho.   

Creio nesta mulher
Que no frio me dá calor.
Ela é prova inconteste
Que existe o eterno amor.

Creio nas lágrimas que choro
Ao lembrar das nossas filhas
Pingos de luz e amor,
Nossas duas maravilhas.

Razão de toda uma vida
Emoção que toca mais fundo
Duas almas pequeninas
Tudo o que se quer do mundo.


Creio que a vida é melhor
Quando de tudo se partilha.
Creio que nada existe maior
Que o amor da nossa família.



Natal de 2007. 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Gente que se foi



É preciso preencher estas linhas,
Borrá-las de tinta e de emoção.
Assim como seguir seguindo
Como diz uma bela canção.

É preciso engolir o pranto
E transformá-lo em alegria,
Pois o riso nos dá força
De seguir o dia a dia.

É preciso olhar longe
Sem esquecer o que ficou
Gente que foi embora
Mas deixou o seu amor.

É preciso seguir o arco-íris
Regar a vida com desejos.
Saber o valor do carinho
E nunca negar um beijo.


sábado, 22 de dezembro de 2012

Sobrevivente Transitório


Uma a uma
A vida ia se perdendo
E o pouco de oxigênio
Que sobrava
Só enchia de temor
Os pulmões dos
Sobreviventes transitórios;
E a água que ficava no copo
Não conseguia matar
A sede do último ser. 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

211212



A noite se fez dia

E tudo se apagou


Num clarão de


Mil sóis. 

A vida se esvaiu,


Os sonhos perderam o sentido,

O amor já não conta

E nada mais dói.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Terror - Antologia Sobrames 2012


Acordei com uma bruta dor na boca. No lugar dos incisivos centrais um coágulo quente e macio chamava a atenção de minha inquieta língua, vítima comum da noite anterior. Tinha sede. Tateei no escuro a procura de um mínimo de humanidade em forma de água e nada. Gemi, inicialmente baixo, um lamento, um sussurro em busca de piedade, um lamento cheio de dor e desespero, um pedido de socorro, um fio ínfimo de esperança. Um click antecedeu em impercebíveis milésimos de segundos o clarão que encandeou minha retina. Minha ofuscada figura foi carregada por dois fortes pares de braços através de um corredor de lamurientos gemidos até uma sala grande próxima o bastante para que minha visão não pudesse ter recuperado a lucidez. As vozes se misturavam trazendo-me maior inquietação. Uma delas pediu que me encapuzassem. Por um instante vivi a ilusão que conhecia seu dono e já ia inspirar um pouco de esperança quando um soco me quebrou o nariz. Antes que abrisse a boca para poder respirar, um jab de esquerda me descolou a mandíbula impondo pela força o ato que faria por pura e voluntária necessidade. O zumbido no ouvido perturbou minha percepção auditiva; as vozes se misturaram deixando-me órfão de qualquer consolo. Desejei que a morte chegasse célere e este pensamento trouxe-me paz e resignação. Tentei entregar minha alma a Deus, mas o exercício de incredulidade dos vividos anos sem fé falou mais alto e mudei imediatamente o foco para a inviabilidade do eu diante da enormidade impenetrável do universo cósmico. Um balde de água gelada me acordou do sonho de Nirvana. Senti a dureza fria do concreto contra minhas proeminências ósseas. O foco cirúrgico me mantinha cego. A voz - teria sido aquela que julgara conhecida? - pediu com um grito quase desesperado que apagassem a luz.   

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Na hora do rush


Na hora do rush
Todo mundo vira um.
Cada qual susta sua pressa
No gemido trêmulo e manso
Do motor em ponto morto.

Na hora do rush
Perde-se a noção do movimento
E o segundo não soma metros.
Mede-se somente o tempo
Que se perde em cada
Centímetro de asfalto.

11/01/12

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Mil Fins


Antes de cada recomeço
Existem mil fins.
Uns alegres,
Muitos tristes.
Alguns deixam saudade,
Outros não, de tão ruins.
Vários são rios de pedras
Poucos floridos jardins. 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Cadeia Temporal


Tomei as rédeas do tempo
Na intenção de colher
Só bons momentos.
Foi então que entendi
Que ele é uma corrente
De elos inseparáveis,
Indiferente à nossa
Cadeia de (in)felicidades.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Tudo é mesmo relativo?


Vá lá que tudo seja relativo, mas certamente algumas coisas são mais relativas que outras. A felicidade é possivelmente mais relativa que a verdade, que são infinitamente mais relativas que a beleza. 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Abdução.


A noite estava fresca e o céu me recebeu tão salpicado de luz que resolvi, contra todos os instintos de sobrevivência, me sentar no banco central da praça, àquela hora praticamente vazia, exceto por um ou dois casais impudicamente engalfinhados – embora desconfiasse que muitos outros exercitassem o amor por entre moitas e sombras periféricas. O rapaz que me pediu um cigarro seguiu em frente sem esperar que eu me desculpasse por não fumar. Segui-o destemerosamente até perder sua figura e todo problemático pensar para a escuridão. Quando ele voltou, já com o dedo no gatilho, encontrou somente o banco vazio.  

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Janela Vazia


Olho a janela vazia e quero chorar. Cadê o sorriso, prenúncio de um dia bom? Saí do elevador com a intensão de olhar sempre para frente, mas o hábito de receber sua graça foi mais forte que a realidade. Ligo o som do carro, dou uma ré e buzino para o porteiro abrir o portão da saudade. 30.11.12

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Pausa Para Leitura


Ler é fugir, quando menos uma desculpa para o isolamento, coisa tão difícil no mundo do celular. Perdemos a privacidade, o direito de ficarmos sós com nós mesmos. O homem tem medo da solidão do eu. Tem medo de pensar, ato perigoso para quem acredita no pecado e no julgamento moral. O ato solitário de ler resgata a busca do eu interior. Lemos para experimentarmos o que jamais viveremos. Imergidos em nossa deliciosa rotina, procuramos na leitura a tormenta da tempestade, onde podemos mostrar nosso valor, viramos Quixotes, ou mesmo Panças, heróis, auxiliares, ou mínimos expectadores. O leitor não pode ter o pudor de se declarar egoísta, mas deve saber a hora de parar para escutar quem pede sua atenção. Importante fechar o livro sem aparentar que faz uma concessão, mas não deixar dúvidas que é apenas uma pausa, e quanto mais curta melhor.     

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Medo


A verdade é que não quero a morte. Menos a dos meus queridos que a minha. Tenho medo de sofrer, sentir a ausência do consolo amigo, da alegria do companheiro, do morno abraço que acalenta a solidão. Por vezes, não poucas, me pego imaginando, antevendo os prólogos de minha despedida, tentando em vão experimentar sua inefável sensação. Enquanto ela não chega sigo sem pressa, colhendo funerais e empilhando saudades no meu pobre e pulsante coração. 

sábado, 1 de dezembro de 2012

Questão de Gosto


Quase nunca sei o que digo.
Quase nunca digo o que sei.

Acredito mais na dor
Que na morte,
Mais no labor
Do que na sorte.
Mais no choro
Que no sofrer,
Mais na dor
Do que no querer.
Mais no sexo
Do que no beijo,
Mais no feijão
Do que no queijo.
Mais no sofrer
Que no fingir,
Mais na porrada
Que no mentir.
Mais na torrada
Do que no pão,
Mais na caipirinha
Que no limão.
Mais na harmonia
Que na canção,
Mais na tristeza
Que na solidão. 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Chuva de Verão


O sol que tem nascido mais cedo prenunciando o verão não aquece o frio de minha angústia.
As nuvens que encobrem impudicamente o astro rei não passeiam faceiras para meu deleite.
Os pingos que escapam sorrateiras de sua algodonosa moradia não regam minha esperança.
Até mesmo o azul límpido e imaculado do céu não oferece a paz que preciso.
A natureza segue indiferente à minha dor. É sua maneira de me fazer parte dela. 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Vento da Noite


O vento frio,
Prenúncio da noite,
Me congela o por vir
E faz tremer o coração:
Trrrrrrrrum-Trrrrrrrra,
Trrrrrrrrum-Trrrrrrrra.
Saudade dos meus claros dias
Medo insensato da escuridão.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Vida Imperfeita


Nenhuma vida é perfeita, isenta de problemas. A felicidade não implica necessariamente no monopólio da solução. Muitas equações deságuam no abismo da incerteza e da desilusão. O mais feliz dos homens deixou muita cabeça de dedos nas pedras que topou e arrancou muito cabelo no desespero de saudade pelos entes queridos que perdeu. Se as feridas são inevitáveis, as cicatrizes fazem a diferença...  

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Entre Amigos.


Há momentos raros que valem por toda uma vida. Um muito especial é quando me descubro só entre meus amigos. Fico calado, escutando sem ouvir o que falam de mim. Meu sorriso é apenas um esboço, impressão tímida de carimbo sem tinta. Sinto uma imensa paz, não identifico nem personalizo nada ao meu redor. A vida não me conhece. Nada me aflige, não tenho desejos, nem mesmo que aquele momento se perpetue. Não sinto amor ou ódio por quem esta do meu lado. Não estou em guarda, desconheço a ameaça.    
O retorno à realidade é sem remorso ou dor. A consciência porém traz-me o desejo, a esperança e a angústia da espera pelo próximo momento de felicidade. Mesmo assim, entro no purgatório com o coração justo, sem pecados. (Texto escrito em 09.12.05 após uma tarde no Aquaville com os amigos de sempre). 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Divagações atemporais


A felicidade existe somente na lembrança. Somos seres insatisfeitos com o presente, desiludidos com o futuro e saudosos do passado. Tudo  hoje é pior do que no “nosso tempo”. Certamente porque “naquele tempo” ficou perdida nossa juventude, nossa ânsia de crescer e descobrir o que se passa do outro lado da porta trancada, de viver sem medo de errar. Só ao jovem é dado o direito de errar. Ao adulto ficou o de lembrar. O tempo é nosso inimigo. Ele mata a nossa inocência e enche de culpa a nossa consciência. O tempo, via de mão única para a morte, é pai carrasco, porém imparcial. Lembramos para esquecer os sonhos que se perderam num casamento mal feito, numa profissão mal escolhida, num círculo de amizade mal arregimentado. Colhemos as más escolhas, e deixamos as boas no solo fértil da memória. Tudo antes era bom porque já passou e nós resistimos, escapamos com feridas que bem ou mal cicatrizaram. Tudo agora é tão real que mal podemos tolerar a dor desta verdade. O que será é impossível de imaginarmos porque perdemos a capacidade de fazê-lo. ( Inspirado em “O Cantor de Tango”. 31.01.05

sábado, 17 de novembro de 2012

Desespero


O carro não pegou. A bateria vinha dando sinais de falência há bom par de dias. Botei a mochila nas costas e saí andando. A noite estava agradavelmente fresca e uma lua nova riscava o poente já muito esquecido do sol. Tomei aquele rumo, guiado pela Dalva, sem intenção de destino. Senti sede e nenhuma porta aberta. Um leve rumor distante guiou-me os passos. A boca se encheu de saliva espessa que desceu com um espasmo de dor.  Abandonado pela consciência, senti o vazio tomar conta da própria noção do existir. Sentei ao pé da porta. A eternidade daquela espera não passaria de um átimo de  desespero. 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Possível Radical


Se tudo
Me fosse permitido
Eu partiria feliz
Rumo ao desconhecido.
Me entregaria
Ao balanço do mar
Mesmo sob forte
Tempestade. 
Me esqueceria
De tudo que sei
Pelo prazer de
Aprender de novo.
Me deitaria numa rede
Bem branca e ficaria
Esperando a chuva
Passar.
Me arremessaria
Em infinito abismo
Só para saber
Que sou capaz de voar.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Equilíbrio

Conheço três tipos de pessoas. As mais racionais, as mais emocionais e as equilibradas. Cinquenta por cento fazem parte do primeiro grupo e a outra metade do segundo. 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Caminho do Meio


Não lembro os meus sonhos. Um segundo após o despertar é suficiente para perdê-los da memória. Devo ser escravo da realidade, o que me coloca no caminho estreito do meio, onde teimo em encontrar razões para fatos e procedimentos. Já fui acusado de murista, de inocente idealista e até de anarquista. Aceitei esses adjetivos até com certa simpatia e reconhecendo-os bastante plausíveis. Só refuto a de arrogante. Se tenho opiniões elas nasceram do pouco que vi e sei, mas nunca quis ser dono da verdade e entendo que cada um pensa como quer e pode.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Reclamação


Porque não foi assim
Que eu quis.
Não assinei nenhum contrato,
Nem fui fiador
De compra fútil.
Não implorei
Vitória plena,
Nem rezei
Pelo fim da dor.
Pedi, sem fé, o pão
Que me saciasse
A fome do mero viver.
Pedi enfim
Por uma verdade
Que preenchesse,
Mesmo pela metade,
Uma singela ilusão de não saber.

domingo, 7 de outubro de 2012

Elegância às escuras



-        Epa !
-        Desculpa, eu não lhe vi.
-        Perdão, eu não vi que você não me viu.
(Dois cegos nunca brigam) 

26/06/03

sábado, 6 de outubro de 2012

Resurreição.



Enterrei meu amor em cova rasa.
Quando é lua cheia
E o vento sopra nas folhas secas
Uma música tímida e quieta,
Ele se desterra
E vaga solto pelas voltas
De teu corpo. 

18.09.08

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Pássaro Nu


Sou homem nu.
Nada visto que esconda
Meu vero querer ou pensar.
Sou simples como um pássaro
Que voa sereno
Cúmplice do ar.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Serena _ Sweet Tooth



Quem já leu outras obras de Ian McEwan vai se decepcionar um pouco com este livro lançado mundialmente aqui no Brasil durante a FLIP. Serena foi o livro que levei para a viagem, primeiramente por se passar em Londres e por ter a esperança de uma leitura magnética que me prendesse e mantivesse ocupado durante as longas insones jornadas intercontinentais, as madrugadas costumeiras esperando a amada acordar para mais um dia de visitações turísticas e para os programados percursos ferroviários entre Londres Amsterdã e Bruxelas. Encontrei um exemplar em capa dura e assinatura, muito estranha por sinal, do autor em uma livraria do Canden e não pude resistir em comprá-lo apesar de ter plena convicção de que meu parco domínio do inglês é insuficiente para encará-lo honestamente. O que me impressionou foi o intenso trabalho de pesquisa  que Ian deve ter feito para contar a história da linda candidata a espiã inglesa no início da década de 1970, quando a preocupação com a guerra fria estava nos seus estertores finais e a Inglaterra estava vivendo uma época difícil de sua luta com o IRA. Para quem nunca leu o autor aconselho experimentar Reparação ou Sábado e quem sabe, tomando gosto por sua literatura, decida tirar suas próprias conclusões sobre “Sweet Tooth”, título inglês original de Serena.

sábado, 22 de setembro de 2012

Num próximo encontro


Num próximo encontro
Divide comigo
Seu sorriso;
Finge que
Precisa
De abrigo.
Me ilude;
Diz que sou
Tua solução.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O dia que chega


O dia sempre chega.
O dia do sonho
E o do temor,
O dia do ódio
E o do amor,
O dia do frio
E o do calor,
O dia do encontro
E o do adeus,
O dia de chegar
E o de partir,
O dia do brilho
E o da escuridão,
O dia da vingança
E o do perdão,
O dia de dar
E o de receber,
O dia de ganhar
E o de perder,
O dia de lembrar
E o de esquecer,
O dia do azar
E o outro da sorte,
O dia que nasce no sul
E o que se faz noite no norte.

03 e 04.09.12

domingo, 2 de setembro de 2012

Paz do João Ninguém


Fujamos para a lua,
Para o sol,
Para o céu,
além.

No rumo incerto
Da felicidade
Encontremos ao menos paz
Onde sejamos ninguém.
25.05.12

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Conselheiro



Sentado na pedra fria
Escuto o mar me falar:
- Vou, não vou;
- Vou, não vou.
Dúvida cruel de amor.

28.10.03

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sou José


Boa Noite,
Sou José:

Que dorme em cama macia,
Mas adora assistir a vida
De um banco de praça.
Adora tomar cerveja,
Mas não foge da cachaça.
Que em muito pouco acredita,
Mas vive cheio
De graça.
Que teme a violência,
Mas não usa carapaça.
Não tolera
Opinião dogmática,
Pois ao mundo
Inteiro abraça. 

Boa Noite,
Sou José:
Aquele que vive caindo,
Mas logo se põe em pé.
Que desconhece
O destino
Mas chega onde quiser.
Que vive
A base de carinho
E do amor
De uma linda mulher.

2011

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Pensando Alto


Desconfio de que a felicidade está mais perto de quem luta muito pela vida e pouco contra a morte.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Nada é para sempre


Porque nada é para sempre
Nem tudo é muito pouco.

Porque ninguém tem a verdade
E cada um tem sua razão.

Porque muitos são os caminhos
Quase nenhum de linha reta.

Porque ninguém nasce sozinho
E cada um esconde sua solidão. 

sábado, 28 de julho de 2012

Superfície


Não sou profundo.
Habito a superfície
Que o sol do meu
Querer banha,
E me refastelo.
Renego os argumentos
Profundos e prolixos.
Sei o que é bom
Para mim e não julgo
O alheio pelo seu mau gosto.
Apenas respiro;
Sobrevivo boiando
Entre uma onda e outra
Aproveitando o balanço
Que delicia e embriaga.

domingo, 15 de julho de 2012

sábado, 14 de julho de 2012

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Duas Normas


Todos reclamam
Da Norma.
Não da bela
Fêmea que desfila
Faceira pela praia
Da vida,
E que se vira
Ao ouvir este nome,
Mas a da regra
Da insaborosa  rotina,
Do mesmo e constante embalo
Que move o dia a dia.

Todos porém
Se enraivecem
Quando a Norma
É quebrada,
A rotina é rompida
E o inusitado
Corrompe o
Manso e tranquilo lago
Do cotidiano.  

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Brincando com a Lógica


Gosto de brincar
Com a lógica,
Trocando-a vez ou outra.
Assim não fujo da rotina
Deixando a vida meio louca. 

sábado, 30 de junho de 2012

O amor faz falta


O amor faz falta
Numa madrugada
Que se insinua,
Numa manhã
De preguiça;
Numa tarde
De céu sem nuvem,
Numa noite de lua nua. 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Novo Começo



Não temo a morte
Por saber que
A mereço.

Chego mesmo
A vislumbrar
Um passado
Sem meu berço.

Por isso
Caminho bem lento
Sem pressa de chegar.
Cada passo
Um novo começo. 

sábado, 23 de junho de 2012

Barba Mal Feita

A madrugada entrava silenciosa e fria pela fresta da cortina quando um suspiro mais profundo anunciou seu despertar. De início, ainda cheia de torpor, foi ganhando, num rito já conhecido, pequenos movimentos do corpo, passando pelo hálito morno do beijo até se consumar no ato concreto do amor. Liberta da languidez do gozo, começou a passar a mão nos pelos que brotavam na barba matutina. Cheia de carinho resignado disse que a havia machucado um pouco. Menos do que uma reclamação era o início de uma despedida.  

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Pensando Alto

Duro não é desconfiar que tudo poderia ser diferente, mas ter a certeza de que nada deveria ser igual.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Defunto Grande


O lençol é pequeno para o tamanho do homem. Passeando por seu comprimento, uma mulher puxa o lençol e lhe cobre o rosto. Outra, com asco do pé esfolado, puxa o lençol e descobre o rosto deformado pela bala. Alguém sugere que dobrem suas pernas como única maneira de esconder tamanha desgraceira, mas uma voz cheia de juízo avisa que não podem bulir com o corpo antes da perícia chegar. 

sábado, 16 de junho de 2012

Dia dos Namorados


A maioria dos casais de amigos conhecidos trocava presentes no dia 12 de Junho. Doce ilusão dos “eternos namorados”.
Com ele era diferente. Combinara com a mulher que não sucumbiriam ao apelo consumista de um mercado capitalista explorador do sentimentalismo cristão e ocidental de uma sociedade hipócrita e conservadora. Há quinze anos viviam alheios a este tipo de ilusão. Tinham uma união baseada no respeito mútuo; um amor maduro e sólido, sem brechas para pieguices.
Entretanto ultimamente vinha notando pequenas diferenças nas atitudes da companheira. O banho mais demorado, um apuro a mais no vestir, mais carinhosa, solta e desinibida na cama.
Decidiu, racionalmente, não criar aquela pulga atrás da orelha e inquiriu-a. “É o tesão pelo meu maridinho que aumentou”, ouviu cheio de satisfação e orgulho.
Ontem, vasculhando seu guarda-roupa em busca de um sabonete, deu de cara com o pacote. Pelo formato devia ser uma caneta. Não é que ela iria fazer-lhe uma surpresa. O espanto inicial foi substituído pela decepção do pacto ideológico ultrajado. Ela sucumbira ao capitalismo e ao sentimentalismo piegas. Deixou a caixa no lugar com a mente ocupada pela dúvida. Retribuir ou não o presente. Dormiu mal aquela noite, pensando no que daria para ela, tarefa mais que difícil depois de tantos anos de abstinência. No trabalho os colegas só falavam da programação para a noite. Presentes, flores, jantares, motel. E ele de lado, indiferente por fora e um turbilhão por dentro. Como a mulher podia ter feito uma coisa daquela com ele? Resolveu sair mais cedo e olhar as vitrines no shopping. Rodou, rodou, rodou e nada. Tudo lhe parecia tão supérfluo. As lojas enfeitadas de corações, os mesmos jargões adocicados repetidos ano após ano, as vendedoras solícitas e sorridentes perguntando: “É presente pra namorada?”. “Não, é pra sua avó”, a resposta impaciente calava na ponta da língua.
Não, não e não. Aquilo não podia estar acontecendo com ele, um baluarte da racionalidade, o inimigo número um do consumismo. Entrou na livraria, escolheu o recém-lançado livro do Rubem Fonseca, que recebera uma ótima crítica, e resolveu o problema.
Chegandoa casa, tomou um banho demorado. Ligou pro Tele Entrega da Pizza Hut e fez o pedido. “Vai demorar cerca de uma hora senhor, temos muitas entregas esta noite”, avisou a moça do outro lado da linha. Abriu uma garrafa de um tinto português e ficou bebendo enquanto punha a mesa.
Ela chegou mais tarde que o costume. Deu um gole no vinho e foi para o banho. Botou um vestido de casa.
-        Já jantou?
-        Pedi uma pizza pra nós, respondeu mostrando a mesa posta.
Sentou-se languidamente no colo do amado. O beijo de língua foi interrompido pela campainha do interfone.
Retirou a mesa e guardou os pedaços restantes na geladeira bebendo devagar a última taça do vinho dando o tempo que ela pediu para se preparar.
Acordou já claro com uma pequena dor de cabeça. Lembrou que não lhe dera o livro, mas relaxou porque ela também esquecera o dele.  Tomou banho e uma xícara de café. Antes de sair deixou o livro na cabeceira da bela e adormecida princesa. Ao meio-dia recebeu um telefonema dela convidando-o para almoçar. Chegou ao restaurante antes do combinado. Estava no segundo chope quando ela chegou toda sorrisos.
-        Rompeu o nosso pacto né. Essa você me paga! Mesmo atrasada: Feliz dia dos Namorados querido, e passou-lhe o pacote que ele abriu bem devagar, sem rasgar o papel.
Parece que não gostou da camisa, pensou ela diante do desencantado príncipe.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Elegendo o Amor


Perdido na zona do desejo,
Entrei na seção dos desesperados.
Eros pediu minha identificação
E procurou meu nome na
Lista dos apaixonados.
Entrei na cabine do livre arbítrio
E procurei o amor entre
As múltiplas possibilidades.
Foi quando vislumbrei tua imagem
E confirmando no verde sim
Te elegi a minha felicidade. 

sábado, 9 de junho de 2012

Alma Faminta


Minha alma
Pede um verso
E meu corpo
Um manjar.

Sigo solto
Sem rumo certo
Sem questões
A me inquietar.

Habito um mundo
Nem feio ou belo.
Chão onde durmo
Banhado ao luar.

Esqueço sem dó
Todos os sonhos
Quando um raio de sol
Vem me acordar.

Respiro a dura
E negra fumaça.
Divido com todos
O mesmo impróprio ar.

Cantar por cantar
Sorrir por sorrir
Jeito simples de viver
Sem parar para perguntar. 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Espaço x Tempo


Se o espaço é a dimensão da certeza
Desenhada com as linhas 
Precisas das coordenadas;
O tempo é fera de pura beleza
Sem jaula que o contenha,
Quando o tudo pode ser nada.

sábado, 2 de junho de 2012

Habitante do Amor


Habito o espaço

Entre o meu

E o teu corpo.

Refém do teu sabor

E prisioneiro do teu cheiro

Morro a cada gozo

Para renascer inteiro.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Carona


Parei bem colado a bunda e ofereci carona. Antes que a moça dissesse qualquer coisa, concordante ou indignada, o dono veio correndo defender a propriedade.
- Que é que tu quer com a minha mulher, f.d.p?
Pedi calma, abri os braços, sorri amarelo, enruguei a testa, atropelei a língua e disse que só havia oferecido carona para a senhora. De qualquer forma pedia desculpas pelo ultraje. Ele titubeou e eu entrei. Isso acontece com qualquer um, ele devia saber como são os homens, sempre dispostos a agradar as mulheres.
- Mulher minha ninguém agrada não, retrucou.
Como podia saber que a beldade era descompromissada. Só respondi ao apelo conquistatório de todo macho diante da fêmea que dá bola, expliquei. Dessa vez foi ela que ficou uma fera. Dividida entre mim e o outro, tagarelava, negava veementemente que tinha dado bola coisa nenhuma e...
Não esperei mais, arranquei o carro e fui. Pelo retrovisor vi a tapa comendo de esmola.  
2007

terça-feira, 29 de maio de 2012

Consciência Bandida

O Baluarte da Moralidade, Excelentíssimo Senador da República Demóstenes Torres reconhece ter viajado em jatinhos de empresários, ter intermediado emprego para amiga junto ao futuro presidenciável Aércio Neves e ter recebido Celular Rádio Nextel com conta mensal paga pelo Cachoeira, seu amigo pessoal que ele não sabia ser contraventor do jogo ilegal. Será que vai ser cassado somente por essas besteirinhas? Tô com uma peninha danada por ele não estar dormindo direito. Será que bandido tem dor na consciência???

Apaixonadamente


Uma vida sem paixão é como uma página em branco. É vazio e sem cor, mas carece de pranto. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A paixão já nasce pronta;
o amor a gente monta. 

sábado, 26 de maio de 2012

Tentando Chorar



Tentei.

Juro que busquei

Todas as mágoas escondidas no peito,

Mas não consegui chorar.



Sentei na varanda

Diante das estrelas

Que não brilhavam no céu de cidade:

Buracos negros de minha alma.



Tentei,

Franzi a testa,

Contorci a boca,

Bebi um gole do uisque revelador,

Mas a lágrima não veio.



Por pura teimosia

Não ratificou meu rosto de sofredor. 



É certo

Que ainda posso chorar.

Me emociono

Com as pequenas coisas

(o sorriso banguelo

do bebê sem bico)

E com as grandes

(a mão do pai que treme

ao segurar a mão inerte do filho).



Só não choro pela

Dor que teima em

Pulsar no meu peito.

Dor que rasga

Sem sangrar.

Dor que não descansa

Nem trabalha.

Dor que é filha da dúvida.

Dor que já nasceu fantasma.



01.02.05