sábado, 28 de agosto de 2021

Vincent Javan

Tio Vicente. Pouquíssimas pessoas me marcaram a vida e a memória como ele. Muito da alegria de minha infância e juventude devo a esse cara que nunca me deixou. Seus rompantes de amor e irreverência deixaram marcas indeléveis no meu modo de ser, agir e pensar. Assitii seus últimos dias, já como médico, e lembro que só consegui me entregar ao choro incontrolável quando me vi só, após entregar o paletó com que se despediu de nós. Hoje a dor quer se insinuar, mas os maravilhosos encontros de nossas almas se impõem como ditadores da alegria. Consigo me entorpecer com o lenço encharcado de lança perfume com que ele "descabaçou" minha ingênua infantilidade. O cadeado fechado para sua festa de 50 anos se tornou icônico na antologia dos nossos verdes e maravilhosos anos. Como não rever as brigas sem rancor com o Tio Bento, as tosses exageradas pelo fumar continuo e inveterado, as lembranças de seu tempo em Brasília e no Rio? Se eu fosse um tio como ele foi, seria um motivo de grande orgulho, mas ele não tem nem terá rival. Por isso me curvo a sua singela sabedoria e amor incondicional a todos que tiveram o privilégio de conviver com o Vincent Javan, o mais autêntico dos franceses acarauenses!!!

Para que amigos?

Sincera e imodestamente consigo me divertir com minha aparente solidão. Sento numa mesa de bar, peço uma cerveja de verdade, nem precisa estar super gelada, boto um fone no ouvido para curtir as infinitas músicas que me tocam a alma e começo a rever e conversar com os que me fazem companhia desde e para sempre. Não lembro se alguma vez disse "a gente precisa se encontrar". Não por falta física do amor fraterno, mas por entender que, se o acaso nos governa, o destino não faz parte da minha verdade. Quem me acusar de boçal e misantropo, sinta-se a vontade. Não prescindo de quem não me conhece e muito menos me julga e não me quer. E se o outro lado da mesa está vazio, nada mais pleno de amor e de orgulho pelas amizades que conquistei que meu sereno coração. 

Moura Priquito

Se saudade matasse 
Nada mais de mim
Restaria.
Mas saudade 
A gente guarda
Bem escondida
No peito,
Animando o coração,
Pois não há mesmo jeito
Para as faltas 
Que a gente 
Vai acumulando 
Na linha da vida. 
Por isso essa ferida
Menos maltrata
Que nos preenche 
Com as doces 
Lembranças do bem
Que a gente quis, 
Deu e recebeu. 
Viva o Moura!!!!

Clara

A religião que nos diferencia é a mesma que nos uniu no batismo daquela menina bochechuda e de cabelo loiro encaracolado que testemunhei privilegiadamente se transformar numa linda mulher, empresária compromissada com o sucesso e com bem estar de seus colaboradores, mãe zelosa e plena de amor a seus próprios rebentos. O que mais posso dizer a essa sobrinha filha tão querida senão que a amo muito e deixar meu beijo mais carinhoso na bochecha não mais redonda, mas ainda tão pura de eterna criança. Huammmmmm. 

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Vida Facil

Tenho vida fácil,
Pois nada me é 
Indispensável.

Se o Uisque acabou
Eu passo pro Vinho.
Se ele avinagrou,
Abro uma cerveja.
Se estiver quente,
Chacoalho uma caipirinha.
Se o gelo derreteu,
Tomo pura ou com limão. 

Mas se secaram
Todas as garrafas, 
Ainda me resta o amor,
E é só o que me basta. 
Né não?

sábado, 14 de agosto de 2021

A armadilha

José passou tão ligeiro pela porta que o troço armado por mim, tão somente lhe raspou a orelha e caiu num estardalhaço direto no chão, rachando a cerâmica nova, presente do Pastor à mulher do ex pretenso defunto. Ele se virou, me lançou um sorriso debochado e entrou casa adentro, reclamando aos gritos o almoço para Maria. Recolhi o rolo de madeira e estava fechando a porta quando chegaram os dois secretários do Pastor atrás de recolher o corpo. Disse que a armadilha tinha falhado, mas que no mais tardar amanhã o serviço estaria feito. Sem demonstrar contrariedade estenderam a mão para receber o pagamento pelo tempo que perderam e o juro da dívida. Virei o forro dos bolsos, mostrando a liseira que me possuía e que me obrigava a fazer o que não queria. Esse serviço de morte encomendada era novidade para mim, sujeito desde cedo criado na roça e na peleja dos bichos de Deus. Que o Pastor tivesse paciência, que logo o milho vingava e eu pagava todo o devido à Congregação. Sumiram ligeiro igual tinham surgido. Ouvi o ranger da porta se abrindo e do escuro da casa vi José saindo com a arma na mão. A bala se encravou na tora do pau de lei que me salvou a vida. 

Chico

Aceitar a realidade é  obrigação que a vida nos impõe. Sentir saudade é reviver os momentos que se concretizaram para sempre na boa memória. Para mim, lembrar do Chico é reconhecer a carência do que poderia ter sido. É saber das oportunidades que o cotidiano nos tirou. É nunca ter pisado no Pai José nem na Croa Grande, apesar dos inúmeros convites. É não ter dividido noites discutindo política, sem se intrometer nas idiossincrasias individuais. A falta que o primo me deixou foi dos momentos tantas vezes prometidos e que nunca pudemos transformar em lembranças. 

domingo, 8 de agosto de 2021

Pingo de Pai.

De pingo em pingo
O amor se faz mar. 
As ondas se somam,
Sem precisão de sonhar.

Assistir a dança da maré 
Que beija e insulta,
Não como se quer
Mas numa luta justa,
É descobrir que somos
Mais quando ousamos 
Ir além de dois.
E se o três têm a
Pretensão do equilíbrio,
O quadrado se impõe
Como a equação perfeita
Que somos nós. 

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Insone

O sono me escapa e me pego perseguindo o todo do mundo sem ínfima intensão de entendê-lo. As sombras se somam num emaranhado de sonhos perdidos. E o branco que me habita a alma se expande muito além da mais pura esperança. Sou um só na noite que se promete longa, um vampiro sem desejo de sangue, coruja que não quer saber, orvalho sem ilusão de chuva.