sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Amanhã de novo

Somos carentes e escravos dos símbolos. Torcer para que o amanhã seja mais luminoso do que o hoje é tão inocente quanto preciso. Os sonhos nos alimentam. Ganhamos força e vigor no pão do amanhã. O futuro é um destino viável e imanentemente planejado. Sem o lampejo do abraço que nos acolherá no instante próximo somos bichos sem um álbum de memória. No exato instante em que o antes se confunde com o depois descobrimos a intemporalidade dos afetos. E se o nunca se deixa confundir com o eterno é sinal de que mais que senhores somos dependentes do que alguns chamam de amor. 

2022

Sentir o mundo é coisa que não podemos querer unanimidade. Mas não dá para nos furtar ao desejo de querer? Não somos mais nem menos felizes hoje do que ontem, e quase sempre o mais importante é nos saber vivos e presentes no que entendemos como "nosso" tempo. A simbologia, mais do que nos representa, nos persegue. Se não há como escapar da contínua busca pela resignificação é sinal do incerto que nos habita.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Corda Bamba do Tempo

O ser humano é o animal que inventou o tempo. Por isso ele sonha e sente saudade. Ele cria enquanto destrói. Ele se arma para sobreviver, mas não consegue estar sozinho. Agradece pelo dom da vida e mesmo assim sofre. Este misto de senhor e escravo balança na corda bamba que ele mesmo esticou e por isso não pode se recusar a encarar essa aventura. 

Humanos Erram.

É tão bom se saber amado quanto ruim ter a certeza que será perdoado. Quem fará o elogio da impunidade? Amar e ser amado é se imiscuir ao mundo num sincretismo justo e organizado. Algo que transcende o equilíbrio e se faz pura harmonia. Confiar no perdão é se negar a fazer parte, se apossar e se confundir com o todo. Os erros não nascem em busca de perdão, mas abrem espaços para a construção do indivíduo. É a argamassa que dá sustentação ao muro, não os tijolos meramente empilhados.   

sábado, 13 de novembro de 2021

Descuido energético

A matéria é um nuance da energia. 

A vida é um descuido da matéria

A consciência é um acidente da vida. 

O tempo é o preço da consciência. 

O medo é o destempero do tempo.

A plenitude é o entendimento do medo. 

E o calor acaba em pó 
E o pó é mera luz.

E tudo se faz palavra
Que em nada se traduz.  

domingo, 7 de novembro de 2021

Cumbuco

A angústia não nasce por saudade do que se foi, mas da ausência pelo que virá. As más memórias se escondem no inconsciente e afloram sem pedir nossa licença, mas são as boas que nos maravilham e dão o sabor que a gente quer da vida que a gente queria viver. A redundância pertence inerentemente ao desejo e deve ser perdoada, se não, como nos render a dura matemática das dívidas e dos créditos? O presente que se nos impõe como realidade se alimenta dos momentos infantis com os pais, irmãos, tios e primos, juvenis dos amigos e dos primeiros amores, das conquistas profissionais e das horas que concedemos a um mundo sem dono, do lar que sedimentamos em solidos alicerces. O incerto e nublado futuro, se longo ou tenebroso, é um detalhe a mais de cada história e o que deveria não ser só um acidente do acaso não precisa nos dominar, mas tão somente nos manter vivos.

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Julgamento

Quando a gente quer crer não há diabo ou deus que faça diferença. 
Um simples sim vira toda realidade 
E um inusitado não se torna questao
De vida e morte, moral contra toda e qualquer parte. 
Dúvida é o que somos. E se não somos, como o saberemos? O que há de realidade entre o por e o nascer do sol? Se meros anseios ou utópicos desejos, não é o futuro que nos julgará. 

Terra Rachada

Desejo de chuva:

somar tudo que devia fazer em cada pingo, 

sabendo que a inundaçao nao acontecerá. 


A Terra anda tão seca 

que saberá absorver toda 

umidade que brotar da escassez dos anseios reprimidos. 

Inércia

O espírito conservador é maioria incontestável. Mesmo os mais ferrenhos revolucionários carregam uma indeterminada carga de resistência a seu modo de ser e pensar. Nem por isso o mundo deixa de mudar, verbo que define estruturalmente a evolução. A qualificação de progresso ou retrocesso deixo para os otimistas e pessimistas. Viver será sempre melhor que sonhar, mas subtrair os desejos e anseios é impossível a animais que tem como particular caracteristica a consciência de ser mortalmente conscientes.

De Passagem.

Uma vida plena implica numa morte serena e tranquila. Se ela foi guiada por algo sobrenatural ou pela pura díade materia-energia pouco importa, mas sim a constatação de que valeu a pena, pouco podia ter sido diferente e de que enfim chegou o momento certo de descansar e deixar a vida fluir tal a nuvem que se esvai em chuva deixando um terreno fértil por onde passou. 

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Nada Sutil.

Há uma não sutil diferença entre o mundo que a gente quer e o que achamos que deve ser. O primeiro diz respeito a bem mais que um desejo, mais a ver com um ideal, proposta baseada em vivências, procuras, informações e conhecimentos adquiridos ao longo da experiência intelectual e sentimental. O mundo como deve ser tem o ranço da imposição, a primazia de um modo de pensar sobre outro, o desprezo pela opinião diferente, o desrespeito ao contraditório, e uma ilegítima convicção que se quer verdade. 

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Inconfessável

O fato inconfessável é sermos reféns da nossa concretude e consequentementes prisioneiros do diálogo entre a alma e a matéria. O segredo, se é que há, é que somos variáveis dentro de uma teoria, pacto entre o que queremos e o que podemos, singelos personagens de um enredo sem dono.

domingo, 17 de outubro de 2021

Desconhecidos.

Quando cheguei no mundo e não te reconheci foi como me perder dentro de um filme visto e revisto desde sempre. Viver a totalidade dentro de um vazio mais que provável me transformou de um em nada. E me senti frio, calado mais que mudo, mancha do lado intocado do vidro. Porque assim é e está escrito que deve ser. Somos habitantes de paisagens que se estranham, figuras de álbuns que não se complementam, cargas que se afastaram pelo magnetismo natural dos polos, matérias de diferentes densidades, personagens que jamais se cruzarão no enredo que ninguém escreveu. 

Próximos Minutos.

Acordo ouvindo o chamado do mundo. Se a voz é de dor ou de amor, sonho ou pesadelo, o que importa é o que se faz nos próximos minutos, não o que nos exigem. O mundo não é bonito e a lua nunca me pediu para enfeitar o céu. Mais sozinho que eu são quase oito bilhões, nem por isso me arrisco ao abandono. O bem nunca nasce de nós, sempre vem de fora, e nunca vai embora.

sábado, 16 de outubro de 2021

Sábado

O último dia da semana é tão divino quanto o primeiro. O Deus que  acordará amanhã carente de atenções, hoje se recolhe, permitindo às criaturas uma liberdade plena de incalculadas emoções. Todo Sábado nasce lindo. As silhuetas são tão sinuosas quanto harmônicas. Os sons se misturam sincopados em orquestrada sinfonicidade. A luz do sol não pretende ser maior que a lua que inspirará os poetas e os amantes. Irreverente sou particular parceiro da interseção. O brilho da quarta hora da tarde revela uma magia incomum a  minha cética alma. O que sempre quis se confunde com o que foi possível numa concretude imaterial e naturalmente incompressível. A dourada realidade de um fim de tarde, hora propícia para antever um futuro, aconchego de repouso, me encontra sereno e satisfeito com a incerteza do porvir. 

Convicções.

As coisas mais difíceis de explicar são as convicções. Por isso fujo das verdades racionais, e tento enxergar o que se esconde sob os veus das intensões. Penso que um grande erro da classe média crítica, também conhecida como esquerda caviar, seja menosprezar o poder do pensamento conservador, e muito menos do reacionário. Todos as manifestações sócio econômicas estão presentes em qualquer sociedade. Cada um busca a assendência do seu modo de pensar. E quem está com menos naturalmente luta pela virada do jogo.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Desencontro

... 
Não procuro um encontro
Com o mundo onde caibo.

Sou mais como peixe que 
Não se banha no mar;
Ou pássaro que voa sereno
Sem saber que é mais 
Pesado que o ar. 

Meu espanto se espalha
Entre o ser e o deixar 
De pensar.

Vivo a metafísica 
Da metáfora que se apraz
Em não poder se explicar.

Formiguinha

O mundo não tem o sabor doce dos licores, mas nem por isso estamos desatentos. Nada pode estar bem enquanto uma única criança chorar de fome, e não basta derramar uma lágrima ou fazer uma grande doação para nos sentir desobrigados da tarefa de concertar o que está errado. Ao mesmo tempo não podemos ter a ilusão de que tudo vai melhorar só porque simplesmente queremos. O fato de reconhecermos que anda tudo muito errado, já nos põe no caminho certo. Quando sorrimos para alguém, ou deixamos o apressado chegar na nossa frente estamos mudando o rumo das coisas. Ao escrever uma poesia ou desenhar uma casa com quarto bonecos de mãos dadas ao lado, estamos espalhando esperança, mesmo que as palavras sejam duras ou os traços infantis. O formigueiro depende de cada um, e embora não esteja convencido sobre o conceito universal de humanidade, saio por aí catando folhas e recolhendo o lixo que eu mesmo sei que deixei.

sábado, 9 de outubro de 2021

Baile

Coisas estranhas acontecem 

no percurso da luta.


O homem moralmente puro sonha com os beijos sinceros da puta. 


O céu desencantado de estrelas 

não quer saber de quem é a culpa. 


A roda não gira mais 

por simples falta de espaço.


Os sonhos se embaçam

num farmacológico mormaço. 


Quem ainda se lembra

do aconchego do abraço?


E tudo é pó.

E tudo é sol. 


Matéria e energia

bailam contentes

Num infinito Só. 

Tropeços

Sentir a vida é diametralmente o oposto, antípoda em excelência, a viver os sentidos. A arte brinca com coisas tão tolas quanto ser crias ou criaturas. Como se fizesse vera diferença. Afinal todos somos energia, matéria, pulsões, desejos, anseios de ser mais ou ser até menos. Porque ser pequeno tem inconfessável vantagem: a de agir nos escombros, nos esconderijos da luta que não se mostra, mas queima tal brasa que aquece o sono de quem dorme ao relento de um inverno implacável e inesperado. O certo, a quem renego como pior inimigo, e o errado, onde procuro inspiração para me transformar em algo diferente, são trilhas que nos obrigamos a percorrer, sem a simplória ilusão de nos fazer construir, mas como passos em falsos, tropeços inevitáveis de uma jornada sem sentido maior que tentar amar e ser amado.

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Sempremente

O que será 
que percorre todos os caminhos
sem querer chegar 
a destino algum?

Será que somos muitos
Entre tantos 
e inúmeros 
Nenhuns?

O conceito humano 
Sempre se impõe
Como sonho ou 
Mera suposição.

Estamos sempremente
Sós e pouco ou nada 
Imporra mais que uma 
Doce sombra sob
O sol de quem se ama. 

sábado, 25 de setembro de 2021

Doces Destinos.

Quem perde o chão, se contenta com o céu.
Quem não mostra a cara, ganha muito com o véu.
Quem se entrega a Deus, nada deseja ter de seu.
Quem não sabe trocar lâmpada, quase sempre está no breu. 

O descrente está sempre 
Procurando fantasmas.
Não se refugia na fé.
Busca a energia dos miasmas. 

A luz que não nasceu
Para os cegos, 
Aquece a dor
Dos eternos bêbados.

Os caminhos que prometem 
Doces destinos são os mesmos
Que nos levam ao inferno. 




Menino

Quando eu era menino
Comia o que tinha.

O que não tinha 
A gente comia escondido
Atrás da casa de farinha. 

Grito!

A ideia do dia é gemer 
até se convencer que gozou,
respirar o ar que nos condena,
como se fosse rosa sem choque, 
mas plena de cor. 

Se os sentidos nos aprisionam,
não por isso imploramos perdão.

Cantar é quase um grito de liberdade,
mesmo que seja somente 
dentro da canção. 

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Ilhas

A incomunicabilidade parece ser a caracteristica humana por excelência. O medo do outro, do que ele pensa, do que realmente quer, do quanto pode nos prejudicar, está presente em toda e qualquer relação individual ou coletiva. Talvez por isso seja tão imprescindível carregar e defender sua própria verdade, num constante embate com a "mentira" que vem do lado de lá. Assim nos tornamos ilhas e construimos muros ao mesmo tempo que poucas pontes entre nós. 

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Carne e Osso.

A delícia do pecado
Me invade o corpo e alma.
Não saber o que é certo,
Nem procurar fugir do errado,
Me enobrece o desejo,
Instiga a imaginação,
Corrompe o que há de
Falso e hipócrita nos meus 
Tolos e mecânicos atos,
E mais do que quase tudo
Humaniza minha frágil
Ilusão de eternidade. 

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Céu Estrelado

A questão se o mundo está em contínuo progresso ou em cíclica regressão serve ao debate de filósofos tanto acadêmicos quanto os de botequim. As ideias e atitudes humanas mudam constantemente, só não dá para ter certeza se para melhor ou pior. O iluminismo que nos deu os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade, nos legou também um capitalismo globalizado e concentrador de riquezas. A modernidade e sua irmã ciência não deram as respostas prometidas para a grande maioria da população. Daí o ressurgimento do ideal tradicionalista que visa o retorno a uma sociedade mais nacionalista e "espiritualizada". Como bom e humano materialista, antevejo um futuro promissor, mas a longo prazo. A ecologia talvez seja o ponto de apoio para um pequeno recuo na atitude humana em prol de um ecossistema mais equilibrado e justo.  Por outro lado, o avanço tecnológico é inevitável e não podemos mais sonhar com o orelhão de ficha, embora jamais devamos abandonar o desejo de nos deslumbrar sob a vastidão de um céu estrelado.

sábado, 11 de setembro de 2021

Porre

Pago cada porre com um dia menos de vida e acho é barato! Fugir um dia dos outros seis que nos paralisa é preço pouco diante a sincera desintensão da eternidade. Momentos, mesmo que fugazes de deslumbramento único de instigação solar sobre a nossa frágil pele parda, pedem bem mais que uma prece. São parte de um todo que se quer mais. Risos incontidos de gargalhadas estranguladas na inércia do próprio ser. Foi assim que aprendi a me sentir humanamente feliz. 

Normal

Nunca fui, agora entendo que nunca quis ser, o que muitos consideram ser  Normal. Fugir do comum nunca foi uma meta, mas uma simples maneira de me insurgir contra a moralidade estagnante e conservadora de agir. Sorrir quando se esperava lágrimas foi sempre uma Idiossincrasia que levei quase ao extremo do inconveniente. Quebrar pratos e espelhar os cacos pelos cantos foi um ato quase natural do que esperavam de mim. A inércia comportamental que me aflige é algo que busco esconder com as sete ou mais chaves do desejo revolucionário. Como Ser naturalmente ambíguo me considero imanentemente humano e sem nenhum desejo de ser compreendido. 

Sábado Musical

Dei um tempo dos livros, das filosofias e políticas, das estórias e das biografias. Os podcast também me pediram um tempo. Se cansaram de me encher de fatos e verdades, fakes e informações. Hoje é Sábado e quem sabe amanhã será um lindo e iluminado Domingo. Mas se chover, não vou reclamar. Vou simplesmente me entregar ao tamborilhar relaxante dos pingos. Chega de sonho, estou no Ceará e chuva por aqui só com muita e fé e reza, lá para Março do próximo ano e estação. Enquanto isso me encharco de música, das velhas e eternas e das recém adquiridas e adicionadas na playlist. Será que ela e eu evoluímos? O certo que meu corpo pede balanço, não de rede, que nunca me cansa, mas de ritmo e de som. A harmoniosa matemática da partitura e das escalas me insulta o juízo e me pego rindo a toa para o mundo que me possui e, se nem sempre é belo, é o que posso inocentemente usufruir. 

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Democracia

Vem da antiga Grécia o conceito de Democracia. Muitos considera-na uma utopia, outros a renegam como coisa de gente fraca. O certo é que cada um tem suas razões para ser assim ou assado, gostar de jiló ou de caviar, escolher seu representante entre o João ou o José. O que precisamos é de preparo para o debate, não de argumentos vazios; sermos coerentes com as ideias e curiosos com os fatos, e não cegos sectários brigando pelo que se pouco ou nada entende.

sábado, 28 de agosto de 2021

Vincent Javan

Tio Vicente. Pouquíssimas pessoas me marcaram a vida e a memória como ele. Muito da alegria de minha infância e juventude devo a esse cara que nunca me deixou. Seus rompantes de amor e irreverência deixaram marcas indeléveis no meu modo de ser, agir e pensar. Assitii seus últimos dias, já como médico, e lembro que só consegui me entregar ao choro incontrolável quando me vi só, após entregar o paletó com que se despediu de nós. Hoje a dor quer se insinuar, mas os maravilhosos encontros de nossas almas se impõem como ditadores da alegria. Consigo me entorpecer com o lenço encharcado de lança perfume com que ele "descabaçou" minha ingênua infantilidade. O cadeado fechado para sua festa de 50 anos se tornou icônico na antologia dos nossos verdes e maravilhosos anos. Como não rever as brigas sem rancor com o Tio Bento, as tosses exageradas pelo fumar continuo e inveterado, as lembranças de seu tempo em Brasília e no Rio? Se eu fosse um tio como ele foi, seria um motivo de grande orgulho, mas ele não tem nem terá rival. Por isso me curvo a sua singela sabedoria e amor incondicional a todos que tiveram o privilégio de conviver com o Vincent Javan, o mais autêntico dos franceses acarauenses!!!

Para que amigos?

Sincera e imodestamente consigo me divertir com minha aparente solidão. Sento numa mesa de bar, peço uma cerveja de verdade, nem precisa estar super gelada, boto um fone no ouvido para curtir as infinitas músicas que me tocam a alma e começo a rever e conversar com os que me fazem companhia desde e para sempre. Não lembro se alguma vez disse "a gente precisa se encontrar". Não por falta física do amor fraterno, mas por entender que, se o acaso nos governa, o destino não faz parte da minha verdade. Quem me acusar de boçal e misantropo, sinta-se a vontade. Não prescindo de quem não me conhece e muito menos me julga e não me quer. E se o outro lado da mesa está vazio, nada mais pleno de amor e de orgulho pelas amizades que conquistei que meu sereno coração. 

Moura Priquito

Se saudade matasse 
Nada mais de mim
Restaria.
Mas saudade 
A gente guarda
Bem escondida
No peito,
Animando o coração,
Pois não há mesmo jeito
Para as faltas 
Que a gente 
Vai acumulando 
Na linha da vida. 
Por isso essa ferida
Menos maltrata
Que nos preenche 
Com as doces 
Lembranças do bem
Que a gente quis, 
Deu e recebeu. 
Viva o Moura!!!!

Clara

A religião que nos diferencia é a mesma que nos uniu no batismo daquela menina bochechuda e de cabelo loiro encaracolado que testemunhei privilegiadamente se transformar numa linda mulher, empresária compromissada com o sucesso e com bem estar de seus colaboradores, mãe zelosa e plena de amor a seus próprios rebentos. O que mais posso dizer a essa sobrinha filha tão querida senão que a amo muito e deixar meu beijo mais carinhoso na bochecha não mais redonda, mas ainda tão pura de eterna criança. Huammmmmm. 

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Vida Facil

Tenho vida fácil,
Pois nada me é 
Indispensável.

Se o Uisque acabou
Eu passo pro Vinho.
Se ele avinagrou,
Abro uma cerveja.
Se estiver quente,
Chacoalho uma caipirinha.
Se o gelo derreteu,
Tomo pura ou com limão. 

Mas se secaram
Todas as garrafas, 
Ainda me resta o amor,
E é só o que me basta. 
Né não?

sábado, 14 de agosto de 2021

A armadilha

José passou tão ligeiro pela porta que o troço armado por mim, tão somente lhe raspou a orelha e caiu num estardalhaço direto no chão, rachando a cerâmica nova, presente do Pastor à mulher do ex pretenso defunto. Ele se virou, me lançou um sorriso debochado e entrou casa adentro, reclamando aos gritos o almoço para Maria. Recolhi o rolo de madeira e estava fechando a porta quando chegaram os dois secretários do Pastor atrás de recolher o corpo. Disse que a armadilha tinha falhado, mas que no mais tardar amanhã o serviço estaria feito. Sem demonstrar contrariedade estenderam a mão para receber o pagamento pelo tempo que perderam e o juro da dívida. Virei o forro dos bolsos, mostrando a liseira que me possuía e que me obrigava a fazer o que não queria. Esse serviço de morte encomendada era novidade para mim, sujeito desde cedo criado na roça e na peleja dos bichos de Deus. Que o Pastor tivesse paciência, que logo o milho vingava e eu pagava todo o devido à Congregação. Sumiram ligeiro igual tinham surgido. Ouvi o ranger da porta se abrindo e do escuro da casa vi José saindo com a arma na mão. A bala se encravou na tora do pau de lei que me salvou a vida. 

Chico

Aceitar a realidade é  obrigação que a vida nos impõe. Sentir saudade é reviver os momentos que se concretizaram para sempre na boa memória. Para mim, lembrar do Chico é reconhecer a carência do que poderia ter sido. É saber das oportunidades que o cotidiano nos tirou. É nunca ter pisado no Pai José nem na Croa Grande, apesar dos inúmeros convites. É não ter dividido noites discutindo política, sem se intrometer nas idiossincrasias individuais. A falta que o primo me deixou foi dos momentos tantas vezes prometidos e que nunca pudemos transformar em lembranças. 

domingo, 8 de agosto de 2021

Pingo de Pai.

De pingo em pingo
O amor se faz mar. 
As ondas se somam,
Sem precisão de sonhar.

Assistir a dança da maré 
Que beija e insulta,
Não como se quer
Mas numa luta justa,
É descobrir que somos
Mais quando ousamos 
Ir além de dois.
E se o três têm a
Pretensão do equilíbrio,
O quadrado se impõe
Como a equação perfeita
Que somos nós. 

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Insone

O sono me escapa e me pego perseguindo o todo do mundo sem ínfima intensão de entendê-lo. As sombras se somam num emaranhado de sonhos perdidos. E o branco que me habita a alma se expande muito além da mais pura esperança. Sou um só na noite que se promete longa, um vampiro sem desejo de sangue, coruja que não quer saber, orvalho sem ilusão de chuva.     

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Azul

Se o mundo fosse azul, eu inventava o colorido. Só para brincar de fingir que sou do contra, não para dividir os animais dos bichos, as fêmeas dos machos, os loiros dos pretos. Enxergar e entender as cores é um enorme exercício de insinceridade e sou inimigo cruel da hipocrisia. Nem todo limão é verde, mas a caipirinha não nasceu para nos deixar isentos.Por isso é que quando o canudo voa, eu meto a boca no coco e tudo fica tão azul que reclama mais uma dose de verde mansidão. 

Seis e Vinte e Três

Os sons do mundo embalam meu sono. Enquanto os pássaros conversam me ponho a imaginar que estão a decidir meu destino. O sol sobe tão lento que mal posso ouvir o ronco do motor. Sei que não é de mim que ele fala, mas de coisas de verdade, do tempo que não importa, do  calor que se faz luz, da vida que já nasce morta, do passo em falso que nos conduz.

domingo, 25 de julho de 2021

Ser e Estar

Estou muitos nas várias possíveis verdades. 
Sou um unico, solitário sem medo das dúvidas. 

sábado, 17 de julho de 2021

Serração

A chuva cai em pingos que posso contar. Se fosse beijos seriam poucos para preencher um desejo e boca nenhuma poderia saciar. Mas são sonhos e sonhos foram feitos para nos enganar e dizer todas as coisas que se pediram para calar. Já a nuvem passa e carrega com ela essa melancolia gostosa de quem dorme acordado o que ninguém quer revelar. Mas canta passarinho o meu anseio de amor. Leva para além da serra, pro outro lado do mundo, a dor que em vão ousou encontrar morada nesta alma de sonhador.

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Avesso

...
O lado "bom"
É o avesso 
Do destino,
Do corpo que 
Amadurece
Dentro da alma
Do menino. 

domingo, 4 de julho de 2021

Lágrima

Não quero mostrar o que sinto. Mais me interessa instigar o suspiro alheio. Que cada um escaneie sua alma e se descubra único e indevassável. Os desejos são iminentemente particulares e não pecados a serem confessados, nem mesmo em palcos sagrados. O que busco, de verdade, é o reconhecimento dos quereres, a harmoniosa experiência da unicidade na infinitude do todo que se confunde com o possível. Se a esfinge é aliada ou entidade avessa a qualquer boa intenção, nenhuma resposta certa levará a uma duvidosa solução. Não há caminho sem curvas, e é na  relativização das ideias que encontraremos a paz que nos persegue. Assim como não há parto sem dor, como nos entender sem um gole de surpresa, sem um suspiro de saudade, sem um sonho não realizado? Todo passo em falso é único e tão próprio quanto uma lágrima de dor.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Medonhos Ruídos

Os fatos
Os atos
Os gatos
Nos matos.

Os sonhos 
Medonhos
Tristonhos
Caminhos.

Os dias.
Manias
Folias
Vazias.

Cantar
Versos
Que rimam
Em vão.

Gritar
A dor que
Tocou no 
Coração.

Fugir 
Do silêncio
Tábua 
De salvação

Apagar
O incendio
Da alma que
Pede perdão. 




Uma Alma Só.

...

Não há pecado pessoal, cada um pertence a todos. As almas estão integralmente associadas para errarem juntas. É essa insólita união que justifica o pedido de perdão por se entenderem vivas. 

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Em Vão

 ...


Nunca fui artista

muito menos quis ser rei.


Carrego a cruz

do pecado que não

admitirei.


Curto a angústia da vida

lembrando da morte 

que sempre vem. 

Espelho

...


Não é que não

me importe, 

seja indiferente.


É que namoro

o ceticismo

e antipatizo

com a noção do 

Bem ou Mal. 


Por isso me esquivo,

deixando para 

o espelho o que 

nenhum discurso 

é capaz. 

Pesadelo

...

Dormir.
 
Sonhar,
Acordar por fingir.

Dormir,
Sonhar sem conta
Até acabar. 

Dormir no silêncio,
Sonhar com o fim.
Acordar no sonho
Mas só despertar
No Ruído do mundo
Que espera por mim. 

domingo, 20 de junho de 2021

Conserto

Consertar a alegria do mundo.
Apagar os pingos dos is.
Abolir todas as vírgulas,
Caminho incerto por onde ir. 

Correr de todas as lutas
Pular sem fé os abismos
Pintar o preto de branco.
Almas abertas aos sorrisos.

Cantar a delícia dos atalhos.
Não se esconder dos desvios.
Somar sonhos e temores
Afundar tolos navios.

Colher as flores do chão.
Plantar em cada lugar
Andar a toa sem sapatos
Na beira mar ao luar. 












sábado, 19 de junho de 2021

Iluminado!!!!

Se projetar ao infinito
Pela renovada possibilidade
Do deslumbramento.

Experimentar a magia
No recôndito concreto
De toda e cada única célula.

Contar com o mesmo sol
Nascendo a cada amanhã 
Desenhando entre nuvens
Um delicioso mistério. 


sábado, 12 de junho de 2021

Assimetrias

Os sorrisos se diluem,
Chora lá que eu canto cá, 
Em estranhas assimetrias.

Nessa dança tudo vale,
Especialmente mentir,
Desde que o odio
Seja sincero.

Nesse passo
O riso passa. 
Nao cai bem
Gozar de quem tem 
A barriga vazia. 

Nova Criação

...
E tudo ficou
Tão claro,
Tão raro,
Tão puro.

O mundo 
Se descobriu 
No avesso 
Do escuro.

Portas 
Se abriram.
Caíram todos
Os muros.

Jardins 
Ganharam cor,
E os frutos
Ficaram maduros.

O céu 
Beijou a Terra.
O Sol se entendeu
Com a Lua.

Mulheres e Homens,
Num único abraço
Ocuparam 
Todas as Ruas. 

terça-feira, 8 de junho de 2021

Por vir

...

A serenidade

dos instantes 

que precedem 

o fim. 


Fechar os olhos

e prever sem anseio

porvir com a mais 

inocente imaginação.


Se pegar já

pensando

onde vai deixá-lo:

Numa gaveta 

mofada e secreta

ou exposta na  

prateleira da atitude. 

domingo, 6 de junho de 2021

Aurora

Tanto o dia quanto a noite têm seus encantos , mas a magia se revela justo nos instantes de transição. Se o crepúsculo nos convida ao mundo enigmático dos sonhos, a aurora nos instiga a realizar um sempre novo amanhã.

sábado, 5 de junho de 2021

Dimensão

Amplo é o céu 
Todo pintado de azul,
Brincadeira de rosa e 
Choque de resistência
A tudo que se quer luz
Entre o Norte e o sul. 

A terra engravidou.
Será anjo ou peste
O que ninguém espera
Ver ou entender,
Mas já se espalha
Desde o leste até o oeste.



sexta-feira, 4 de junho de 2021

CPI, Emoções Humanas e Ciência Médica

    Entendo a CPI da Covid como um palco político onde os posicionamentos dos seus integrantes ficam bem caracterizados e é bom e justo que assim seja. Não se pode esperar uma total isenção vindas de qualquer dos lados. Ambos os discursos estão bem estabelecidos e o juízo final só será dado na eleição de 2022, isso se nenhum outro fato surgir até lá, o que não é difícil de acontecer num mundo líquido como o nosso. O que conta a favor dos governistas é a distância temporal que nos afasta de Outubro do próximo ano, desvantagem que a oposição tenta amenizar com a imputação direta de culpa do atual governo pela má administração que nos levou a triste situação sanitária que nos encontramos. Encontrar a digital incriminadora na microscópica arma que dizimou quase meio milhão de brasileiros me parece uma tarefa quase impossível, já que o mundo da retórica e das interpretações são tão inúmeros quanto insondáveis. Por outro lado, se não é possível encontrar resíduos de pólvora nas mãos do acusado, pode-se reunir evidências suficientes para se produzir correlação indireta entre causa e efeito. Um exemplo muito claro foi a prematura e declarada aversão a uma vacina proveniente de um país comunista com o apoio de um governador de oposição. Promover aglomerações, não usar máscara em espaços públicos, se declarar publicamente contra o lockdown determinado por quem vive o problema mais diretamente, promover o uso de drogas contra o vírus, são atitudes que não se espera de quem carrega a responsabilidade de dirigir o país. Administrar com seriedade exige o necessário distanciamento das opiniões pessoais. Quando a neurociência nos revela que nenhuma  decisão é tomada sob a hegemônica ditadura da razão - a "simpatia" está intrinsecamente presente e estamos todos continuamente agindo conforme comanda nossas emoções e desejos - exercitar a racionalidade é um desafio que só frutifica com muito esforço e reflexão, embasados principalmente na prática da tolerância. É procurando o que há de "subliminar" nas ações humanas que podemos iluminar as obscuras idiossincrasias do dia a dia. Reconhecendo o ser humano como entidade não somente orgânica, mas eminentemente psíquica, a medicina resgata seus primórdios nos bruxos e feiticeiros da idade antiga e misturam em seu caldeirão terapêutico as especiarias que salvam vidas com as que "prometem" curas. O efeito placebo é reconhecidamente uma realidade. Não é insignificante a prática médica de se prescrever algo, embora sem evidência de eficácia cientificamente comprovada, aos pacientes como forma segura de estimular sua fé e lhe dar o conforto de estar sendo cuidado. Essa assim "justificada" prática tem porém alguns inconvenientes e sérios problemas. O primeiro seria simplesmente o financeiro. Gastar com o que não funciona é claro desperdício de recursos que poderiam ser melhor alocados. Mesmo porque não há melhor placebo que uma empática e esclarecedora conversa. O segundo é quando o próprio médico perde a dimensão do que faz e passa a acreditar no efeito efetivo e milagroso de sua prescrição. Não podemos exigir que todo médico seja um cientista, mas devemos desejar que todos ajam conforme a boa prática de ajudar ao máximo e prejudicar o mínimo possível. Ao entrarmos finalmente no ponto dos efeitos colaterais das drogas, caímos num buraco de três vias possíveis. A cova mais rasa e mais comum é a prescrição de drogas inócuas que vão estimular tão somente o psiquismo curador no paciente. Drogas que nem são citadas nos compêndios farmacológicos, mas que são utilizadas em grande escala, que felizmente não tem efeitos colaterais exceto o já citado  financeiro. O segundo poço não tão raso seria a prescrição de drogas por falha na avaliação diagnostica, quase sempre justificada pelo pecar antes por excesso que por omissão, numa clara ditadura do medo que suplanta o conhecimento e a experiência, exemplificado pelos uso de antibióticos em infecções virais. O buraco se aprofunda e se torna mais escuro quando caímos no submundo das "especulações". É óbvio que nenhuma droga surgiu do nada. Muita observação foi necessária até que se estabelecesse um comprovado efeito terapêutico de cada uma delas. A experimentação e sua alma gêmea, a estatística, geraram uma filha singular a quem deram o nome de Ciência. Menina estranha, de hábitos cautelosos, mas questionadora, avessa às verdades de primeira hora, mas incansável na luta movida pela curiosidade, determinação e pelo inquieto desejo de saber sempre mais. Poucos a entendem muito bem, pois sua linguagem não é muito inteligível para quem tem pressa e simplesmente aceita cegamente tudo que vê pela frente. E é justamente nesse lapso de comunicação e entendimento que vingam as curas mágicas, onde até grandes e renomados médicos e "cientistas" se perdem da racionalidade e se entregam às suas crenças. Salvar o mundo, ser o Super Homem protetor da Humanidade é um sonho adormecido dentro de todos nós. Encontrar a fórmula mágica que nos torne invencíveis faz parte do imaginário de todos os mortais. Julgar a  racionalidade como objetivo último de nossa existência me parece tão utópico quanto indesejável, afinal somos "limbicamente" instruídos para a emoção. Mesmo com esse entendimento não podemos prescindir do uso da observação imparcial e concreta dos fatos, nos dando inclusive o direito de revermos todas as posições no futuro, mas principalmente reconhecendo que somos seres vivos e  portanto mortais. 

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Desconectado

O mundo não está 

inteiramente conectado.

Ainda existem pontos

cegos de paz onde

podemos curtir a nós

mesmos e o compartilhamento

é mera promessa por vir.  

No ar

Porque

para te sentir 

não preciso tocar. 


Basta imaginar 

teu gosto e 

gozar do prazer

que exalas

sem perceber, 

mesmo sem intenção, 

simplesmente

sem querer.   

Singela Felicidade

...

Carrego a ausência da inquietude que se aplaca na fé. Admiro incondicionalmente a independência para me ajoelhar diante de algo que dizem "todo poderoso". Busco sempre os defeitos dos que mandam e me refastelo com a felicidade singela dos humildes.  

Pena Capital

... 

Sou o que  

ousa escrever, 

revelar para o papel

aquilo que não 

consigo entender

muito menos calar. 


Mas não quero

ser julgado 

pelo escrevo:

temo tanto ser

entendido quanto 

a Pena Capital. 

Desconhecido.

    Vivemos imersos no absurdo do desconhecido, entendido não como o que está por se desvendar, mas o que jamais poderemos alcançar, já que o conhecimento gera por si exponencialmente mais dúvidas e questionamentos. Muitos dão a esse indevassável e infinito mistério o nome de Deus, outros consideram a questão como uma equação incompreensível entre a matéria e a energia, e seguem quebrando o antes indivisível átomo em partículas cada vez menores. A fé instrumentaliza o divino como força matriz que une todos os homens numa só irmandade, enquanto o posicionamento cético impõe ao próprio homem o dever de encontrar a fórmula que possibilite uma existência harmoniosa, satisfatória e confortável para todos. O papel da ciência como instrumento humano de desenvolvimento não busca a extinção da fé (procura inclusive entende-la como fenômeno essencialmente antropotécnico de auto satisfação e reconhecimento), mas responder perguntas que possibilitem novos e infindos questionamentos, sem a ilusão de chegar a uma única verdade. Afinal somos aqueles que querem saber "quem somos".

domingo, 23 de maio de 2021

Mistério da Luz

O vento veio contar que o sol se apartou do mar, e a lua, dando pouca bola pro ocorrido, levou para longe as  estrelas, arrastando cada uma o seu brilho. A noite se fez dia e o encanto das sombras se perdeu no mistério da luz. O céu é o único guia para quem carrega a dor da cruz.

sábado, 22 de maio de 2021

Caminhos Possíveis

É no silêncio frio da madrugada que encontro o melhor de mim e do mundo nos sinais que se avermelham para si mesmos, nas luzes que emprestam sombra aos gatos que acabaram de exercitar seu direito de procriar, e nas ruas que se esqueceram do que lhe mandaram fazer e se revelam ser o que são: caminhos possíveis. Pouco a pouco o deus Sol aquece o silêncio e enche de vigor e de dúvidas o outro lado da moeda que nunca sabe quando cai, aonde vai, o que é e o que quer. 

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Vácuo

As horas passam lentas
E de repente me
Encontro no amanhã,
Sem lembrar átimo sequer
Do sonho que vivi
Em noite vã.

O tempo não é inimigo,
Muito menos doce irmão,
Mas tudo que ocupa o lugar 
que se perde para a ilusão

Fora de Lugar

O sorriso
Perdeu o doce.

A lágrima 
Se esqueceu do sal.

O canto 
Não brotou da boca.

A dor 
Não conheceu o lugar. 

A vida 
Se perdeu na morte
Quando o coração
Parou para pensar. 

terça-feira, 18 de maio de 2021

Realidades Paralelas

 ...

    Há um algo a mais na imensidão do azul que se mostra despudoradamente acima de todas as cabeças. Tudo que a gente pensa é muito aquém de todo sentimento que se quer ter. Reféns de nossas memórias, vivemos realidades paralelas que se impõe sobre nossas pretensas verdades. Não sou um, nem muitos, mas a capacidade de amar incondicionalmente.






Beleza do Mundo

...

    Hoje vi uma lua cheia. E, sem nenhuma lembrança de qualquer razão metafísica, me senti maravilhado com a beleza desse mundo que não sei de onde veio e creio, sem nenhum pesar na alma, irá se acabar. 


    Não me incomoda a fé na boca do outro. Temo-a quando ela oprime e cega a já pouca racionalidade da alma. 

Barco Fantasma

...

 Não sei porque

meu sonho é torto. 

Se quero o mesmo que outro,

quero fazê-lo de diferente modo.


Meu caminho pouco cruza

com os dos semelhantes.

Devo ser avesso às 

interseções.


Ocupo outra dimensão,

sopro as velas de 

um barco fantasma

que me leva para 

o reino da solidão.  

Meu Canto

...

Canto que 

canto com glória,

meu chão,

minha hora

de labuta e lazer.


Piso teu solo

sem medo,

olhando adiante

tudo que sempre

quis ver. 


Teremos que Resistir até 2022.

    Antes de mais nada deixo meu apoio incondicional ao afastamento do atual presidente(em minúsculo mesmo) da Republica Federativa do Brasil pela sua incompetência em gerir nossa e qualquer nação minimamente civilizada, fundamentada por claras demonstrações de insanidade mental grave e incapacitante. Culpar os igualmente doentes mentais que o seguem cegamente, bem como aqueles que o enxergaram como única saída contra o retorno petista ao poder, me parece pragmaticamente inútil. O que nos resta é denunciar os desmandos, debochar de suas declarações preconceituosas, nos divertir com suas destemperanças e trabalhar a educação politica da sociedade que nos rodeia. Não tenhamos a ilusão de que o atual e degenerado congresso, dominado por maioria que se esconde hipocritamente sob o escudo do combate a corrupção, vá afasta-lo do cargo que desonra com excepcional competência. Encontrar uma relação-prova direta de causa-consequência entre a má condução da Pandemia e a péssima situação epidemiológica em que nos afundamos me parece tarefa improvável, embora todas as correlações sejam inegáveis e irrefutáveis. Enumerar essas correlações seria um exercício pleonástico e sou avesso a prolixidade, por isso me contento em declarar minha falta de espanto com todos os atos perpetrados contra a Saúde do brasileiro por um sujeito que só teve um lampejo de racional sobriedade ao se reconhecer, tão logo foi proclamado eleito,  incompetente para exercer a presidência da nossa triste e injusta república.      

Suspiros

Luz, calor e 
Sombras que 
Passeiam ao meu redor.

Quase que dá para 
Ouvir o barulho do mar
Que me quer invadir. 

Certos são os suspiros 
De vida e de dúvidas
Que dividirei 
Antes de sumir. 

Rebentos

Rebentos são brotos
Que vingam e nascem
De resistentes raízes.
Rompem a barreira 
Da dura e seca terra
E enfeitam o mundo
Com sua verdura
Fresca e brilhante.

Não pedem para crescer,
Mas se sabem fadadas
Ás alturas dos sonhos 
Mais que possíveis.

Rebentos são mágicos
Que não se servem da ilusão,
Se alimentam da mais 
Pura seiva da união 
Entre almas que querem 
Contar suas histórias,
Não só ouvi-las ao adormecer. 

Rebentos são sementes
Com sede de luz. 



Verdades

Verdades são promessas
Que não precisam ser
Cumpridas.

Passam de mão em mão,
De boca em boca,
Fé contra fé.

E acabam se perdendo
No mar revolto da
Intolerância. 

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Paixão

As paixões são
Tão tolas quanto
Um cão alegre 
E sem dono,
Uma noite perdida
E sem sono,
Uma luta sem causa,
Uma dor não sentida,
Um caminho que leva
Pro completo abandono. 

sábado, 15 de maio de 2021

Moeda de Uma Face.

...
Tudo só faz sentido
Se não houver porquê.

O sonho só é real
Se não virar fato.

O caminho só merece o passo
Se der em lugar nenhum.

A verdade só se impõe
Se houver alternativas.

Só brinca de Deus
Quem entende que 
O mal e o bem 
Ocupam a mesma
Face da moeda. 

Balé Improvável.

...
Os pingos dos is
picam e repicam
Num balé improvável
Sem começo nem fim. 

Pulam entre mundos
Sem se deixar traduzir
Em instantes concretos
De sombra ou de luzir. 

Fingem que se escondem,
Aventureiros do pudor
Defensores imorais,
De tudo que sabem em si. 

terça-feira, 11 de maio de 2021

NE

...

Espero a chuva

que teima em 

se esconder.


Triste, seca,

louca terra que queima,

mata e 

não se deixa ver.


Quisera carecesses

de tudo, 

fosses o inferno,

não este mundo encantado, 

místico

de sonho e prazer. 

Nobre Obrigação

...

Gosto do eu que não gosta de mim. 

Dormir não é necessário, 

é fugir do indesejável eu mesmo. 


Não nasci senão para morrer, 

e antes de morrer, 

sofrer muito, 

até rasgar qualquer ilusão de felicidade.  


Viver a solidão como beber água, 

necessário e insípido:

respirar o tédio tal comer pão de ontem,

sem manteiga;

descrer de tudo e de todos

como a mais nobre obrigação.

Soco Sem Desejo

 ...

Não há dor
Na ausência.
Ela brota do que não
Poderia ter sido,
Do que foi cuspido
Sem intenção
De magoar,
Embora não haja
Soco sem desejo.
A dor é sempre
Transitivamente cruel,
Independente do sujeito,
Quem sofre é o objeto.
Saudade machuca
Mas não dói.
Só há dor na cicatriz.
Lembrar é a certeza
De que alguém nos
Fez feliz.

Eterno Tentar

...

Por mais que tente

não alço voos 

mais altos.

Resta-me somente

o eterno tentar

sob o consolo insosso

da mediocridade.  


Sofrer não é 

monopólio 

de ninguém. 

Ama quem sabe gozar

da própria dor.

Grita quem 

pensa ser 

o centro 

do universo.

Pede perdão quem 

faz sem vontade. 

domingo, 9 de maio de 2021

Imunidades

Será que ainda podemos determinar nossas ações como parte de um processo histórico que vislumbra um futuro e suas múltiplas possibilidades? Na vigência do ANTROPOCENO há sérias dúvidas se já ultrapassamos ou não o momento "imunologicamente" capaz de evitar um processo irreversível de não sobrevivência. A imunidade biológica deverá ultrapassar sua indivualidade,  tomar dimensão no espaço social das leis e das jurisprudências, ganhar força simbólica e ritual na espiritualidade que religa o mundo dos seres e das coisas, para de traduzir uma rede de proteção que possa abrigar a todos em um único e humano abraço. 

sábado, 8 de maio de 2021

Abandono

O baile nem terminou
E anda longe a aurora.

Nada mais ouço
Exceto seus passos
Indo embora,
Condenando meu sonho
Para uma outra hora.

Deixando para incerto amanhã
O que queria agora. 

Destino Impossível.

Fujo para um  
Mundo onde a 
Onda se arredonda
Numa folia 
Sem limites,
Sem consolo
Ou palpites,
Sem cachaça 
Ou filé. 

Meu destino é
O lugar que 
Ninguém quer. 

domingo, 2 de maio de 2021

Oração.

Não sinto o vazio
Embora o quase 
Possa entender.

A ilusão é menos doce
Que o chocolate amargo
De todo Domingo,
Enquanto a vida 
Nos impõe o sal
Nosso de cada dia.

E que sempre 
Nos seja dado:
Seja na sala,
Melhor se for
No quarto. 


sábado, 24 de abril de 2021

humanidade?

O questionamento do momento histórico é o de humanidade. A teoria imanentemente materialista do gene egoísta destrói ou arrefece o conceito de propósito social para a realidade da relação entre os individuos de toda e qualquer espécie que viveu e vive, incluindo a que eu e outros oito bilhões fazemos parte. O certo ou mesmo errado é que nunca se chegou a uma unanimidade a respeito da unicidade humana. Se o Cristianismo nos irmanou no convivio concreto com um Deus Trino, deixou para uma outra esfera a solução para a desigualdade. O capitalismo e sua natural busca por um robusto e quase infinito mercado consumidor propalou o mesmo ideal de igualdade e fraternidade na forma de que somos livres para fazer nossas escolhas e temos potencial para realizar todos os sonhos, basta vontade e esforço, mas escondendo sob o tapete a cruel diferença nas oportunidades, presente oculto para os poucos amigos eleitos. Não há como estabelecer culpados, mas entender e buscar um  equilíbrio ecológico e social sustentável é um passo na construção do conceito utópico de uma única e fraterna humanidade. 

Frustrantes Incertezas

Não há caminho de volta. A matéria cria o pensamento, que pode no máximo modificá-la, pelo que designamos técnica, mas não é capaz de recriá-la. Pois a matéria é tudo, sem lacunas, nem dúvidas. Pensar em começo, meio e fim não faz jus a dimensão crua e concreta dos átomos e seus infinitos tijolos, estes também exercícios de um pensamento irriquieto e condenado a frustrantes incertezas. 

Segundo Domingo da Criação.

O sorriso 
Se escondeu.
Não por trás de máscaras
Ou falsos consolos,
Mas num lampejo 
Inopinado
De pura sensatez.

A Lua renasceu
E de um risco no
Horizonte sem fim,
Engolindo gotas de luz
Acabou por brilhar inteira
No céu sem estrelas da 
Cidade desumanizada.

Uma montanha de
Impossibilidades
Acumuladas
É destino torpe
Para gloriosas 
Promessas do saber.

Se fruto de programado
Projeto,
Caminho escolhido
Passo a passo
No livre arbítrio 
Da cultuada liberdade,
Ou mera entrega 
Ao descompromissado
Destino da maré, 
doce resignação
Aos desígnios divinos, 
Quem haverá de saber? 

Certo é que
Também falhamos 
Como Criadores. 



sábado, 10 de abril de 2021

Desumanidade

Não sei de evidência que 
Sustente a fé ou esperança
No homem como espécie.

Antevejo sua extinção,
Afogada em subita maré
Ou na escassez fotosintética.

O último indivíduo há de chorar,
Ricamente vestido pela solidão
Que orgulhoso teceu fio por fio. 

Do homo não restará sequer
O sopro do sapiens que quis
Ser mais do que aprendeu. 






sábado, 3 de abril de 2021

Caminhos

O idealista sonha com um
Mundo que o encanta.

O revolucionário luta por um
Mundo que ele inveja.

O conformado defende um
Mundo que lhe quer bem.

O saudosista sofre por um
Mundo que nunca terá. 

sexta-feira, 26 de março de 2021

57 que podiam ser 75

O silêncio tem sido um companheiro fiel nos tempos recém vividos. Talvez tenha começado a entender que se deve esperar o momento certo para falar e ser ouvido. Para tanto não se pode deixar de ouvir, procurar entender o que pensa e o que move os que nos rodeiam. Penso que ainda tenho muito para entender e temo não estar preparado para falar, mas não consigo calar o agradecimento pelas lindas mensagens e felicitações por mais 365 dias de minha aventura humana. Encontrar-se a si mesmo exige e pede que nos situemos na comunidade que nos acolhe. Assim é com satisfação que percebo tenho sido competente na pretensão de disseminar uma mensagem de alegria. E não a toa tenho na minha varanda a frase que me resume e me explica: "É impossível ser feliz sozinho".

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Sem dono

A palavra não tem dono, assim como os cães e os sonhos.

Menino Feliz

Não lembro 
O que farei amanhã.

Nem sonho com o 
Ontem que me quis.

Meu passo 
É tão torto 
Quanto o desejo
De um menino feliz. 

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Cafuné

 Os dias passam

sem sede, 

sem chuva

e sem rede. 


Há água no 

copo, o céu

anda limpo

e quente,

bom prum 

cafuné enquanto

se embala. 

Amarga Sorte

...

Ontem sonhei

com a sorte.


Estava serena,

sem fé e 

sem pena;


sem medo 

e morena,

coberta 

de mel. 

Falsa Promessa

 ...

O homem que eu 

devia ser quando 

era menino

se perdeu no destino,

se enrolou 

na ilusão. 

Decisão

 ...

Só vou

quando o mar 

se apagar;

a luz, de meios olhos, 

fugir,

e a música,

acalanto de 

minha vida,

resolver 

se calar. 

Pranto sem Lágrima

O que tenho

para dar é

meu mais puro

anseio,

minha vontade

de sofrer e o

respeito pelo meio.


Sorrir é para 

os fracos e os loucos. 


O amor chega 

a mim pelo 

correio. 

Pesadelo sem Dono.

...

Sou 

o exato 

que não 

querem de mim. 


O pesadelo sem dono,

a luta sem rival.


Aquilo que 

deixei para trás.


Tudo que não 

devia ser igual. 

Sem Lembranças

 

Sentado na porta do bar,

O velho sem dentes

Nada tem de seu,

Mas também nada perdeu.

                  

A mão nervosa espera a moeda:                 

Gota de piedade que faz esquecer               

Que não tem nada para lembrar.

 

20/06/02.

Galã de Novela

 

Queria ter amado mais

do que quis ou pude.                        

Queria ter sido mais

do que quis ou fui.                                     

 

Queria ter feito mais

do quis ou fiz.                                  

Queria ter podido mais

do que quis.                                               

 

Queria ter querido mais

Do que pude.                                             

Queria ter sido igual

ao que fui.                                        

 

Com mais querer

e mais poder.                                            

Com mais amor

e mais ação.                                               

Como um artista

famoso de televisão.                                                     

O3/10/02.

Enquantos.

 

Se o tempo é o conjunto,

A vida é o encadeamento.

 

Se a saudade é a lembrança,

A arrogância é o desprezo.

 

O amor é a junção de dois.

Se mais são, vira reunião.

                                                    

Infinitos enquanto:                                  

Cada um é único.                                                                           

 

15/05/02

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Uma Velha Conhecida

 

Conheço a morte

Desde a mais tenra idade,

Dela, não minha.

 

Descobria-a pequenina,

Estranha criatura

Com gosto de água.

 

Já moça bela e faceira,

Persegui sem sucesso,

Seu formoso rastro de fogo.

 

Mulher feita afinal,

Quando quis se me entregar,

Fugi de seu frio glacial.

 

Hoje velho:

Perdi a ilusão e o medo.

Fiquei só com a vontade

De descobrir seu segredo.   

 

21/02/03.

Três Chamados da Morte

 

De certeza não digo,

Pode ser imaginação.

Por três vezes

A morte me chamou

E eu simplesmente disse não.

 

Da primeira era menino

Mas já tinha entendimento

Reclamei a vida roubada,

Tinha tudo o que fazer,

E Ela ouviu meu lamento.

 

Da segunda estava ocupado

Com a mulher e as filhas;

Como deixá-las desamparadas?

Que homem era eu então?

E Ela foi minha amiga.

 

Quando chamou da terceira

A mulher virara estrela,

As meninas já eram mulher;

Velho arrogante e teimoso

Não pulei em sua cela.

 

 

 

Cansada de ser rejeitada,

Nunca mais apareceu.

Acho que desistiu,

Me deixou virar serpente.

Ri do que sobrou de eu.

 

 

13/02/03.

 

Sóbrio

 

Não qualifico nada,

Vivo o possível,

Faço o que gosto.

 

A felicidade não é uma conquista,

É a cessação dos desejos,

Herança da auto-anulação.

 

Tudo é acaso.

A paz é ficção.

O amor não existe.

 

A consciência da mortalidade

E da inutilidade da vida

É fardo pesado demais

Para um homem sem fé carregar.

 

03/04/03.

Mulher Menina

 

Vive sem pressa,

Mulher menina,

Teu sonho de princesa.

 

Corsa graciosa,

Giras inquieta,

Enches de alvoroço

Os olhos que te cobiçam.

 

Cintura fina

Peito empinado

Boca pequena

Lábio encarnado.

 

Quero esquecer

Tudo que aprendi,

E me perder pra sempre

No teu mundo sem pecado.

 

11/10/03

Maratona

 

Fugi,

Corri feito um louco

Ao entender que me amas.

 

Chegaria ao inferno

Antes de imaginar

Como seria se me odiasses.

 

03/04/03.

Solidao 3

 

Hoje vou dormir mais cedo,

Condenar à irrealidade

do mundo dos sonhos

este dia que me esqueceu.

 

Hoje ninguém

Me desejou bom-dia

Ou me ofereceu um café.

Ninguém pediu minha ajuda

Ou quis minha opinião.

 

Ninguém me olhou,

Ninguém me tocou,

Ninguém me beijou.

São quase dez da noite

E ninguém me desejou.

 

Quero dormir e esquecer

Este dia único e estranho

Em que mais me senti vivo

mesmo sem ter existido.

02/04/03.