sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Passo Solto.

Não acredito
nos meus sonhos, 
no que vejo, 
nem no que escrevo. 

Sou inimigo feroz
da obrigação. 

Caminho com passo solto, 
hora sozinho, liberto, 
hora preso, 
perdido na multidão. 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Perder-se

Perde-se as ilusões
em ruas vazias,
em mesas 
sem companhia,
em sonhos que
se vão como 
água suja 
pelo ralo da pia. 

Perde-se de um 
quase tudo nessa vida, 
tão pouca que até parece
que nunca foi vivida, 
tão rasa que passa 
como se fosse brisa, 
suspiro de amor
que nunca foi dividido. 

Uma noite dessas, 
assim como se nada quisesse, 
a gente podia fugir 
sem pressa de voltar.
Podia cantar os tons
que tocam só para nós,
engolir as palavras
que nunca deviam ter sido ditas,
e perceber sem entender
o mundo que não nos quer,
mas também não nos
interessa.   


sábado, 2 de fevereiro de 2019

Dez Anos


   
     Estava deitado na rede da varanda do alpendre que circunda toda a casa grande, sem saber o que pensar, vendo por ver, enxergando nada, entendendo que o tudo é invenção do pouco juízo da simplória condição humana, quando a voz vinda da sala de visita me despertou do onírico estado e me arrepiou a pele e a paz. Não podia acreditar no que ouvia. Aquele som não pertencia ao mundo que eu conhecia e o primeiro lampejo de razão que me ocorreu foi que brotara de minha própria e saudosa memória. Estava convencido disso quando ela se repetiu. “Té, venha já aqui”. O tom pareceria autoritário para quem não estivesse acostumado com ele, mas para mim nada mais natural se tratando de um pai solicitando a presença de um filho. Levantei da rede num pulo de gato para atender ao chamado vindo de dez longos anos. Atravessei a porta sem pressa, tímido, tomado pelo medo de não ser real e mais ainda pela possibilidade de ser. Mas ele estava lá, em pé, atrás da cadeira de balanço, olhando direto para mim, com um sorriso esboçado no rosto, os braços semiabertos aguardando e solicitando meu abraço. O cheiro do sabonete Phebo era inconfundível e inebriante. Mesmo que quisesse não saberia o que falar, então fiquei preso naquele abraço pela eternidade que só os sonhos nos concedem.          

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Culpado

...
Por isso 
nunca pedi para chorar. 

O mais próximo do humano
que cheguei foi
julgar sem querer
ser entendido. 

Se faltou uma dor,
foi culpa do 
intemporal destino.