sábado, 30 de junho de 2012

O amor faz falta


O amor faz falta
Numa madrugada
Que se insinua,
Numa manhã
De preguiça;
Numa tarde
De céu sem nuvem,
Numa noite de lua nua. 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Novo Começo



Não temo a morte
Por saber que
A mereço.

Chego mesmo
A vislumbrar
Um passado
Sem meu berço.

Por isso
Caminho bem lento
Sem pressa de chegar.
Cada passo
Um novo começo. 

sábado, 23 de junho de 2012

Barba Mal Feita

A madrugada entrava silenciosa e fria pela fresta da cortina quando um suspiro mais profundo anunciou seu despertar. De início, ainda cheia de torpor, foi ganhando, num rito já conhecido, pequenos movimentos do corpo, passando pelo hálito morno do beijo até se consumar no ato concreto do amor. Liberta da languidez do gozo, começou a passar a mão nos pelos que brotavam na barba matutina. Cheia de carinho resignado disse que a havia machucado um pouco. Menos do que uma reclamação era o início de uma despedida.  

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Pensando Alto

Duro não é desconfiar que tudo poderia ser diferente, mas ter a certeza de que nada deveria ser igual.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Defunto Grande


O lençol é pequeno para o tamanho do homem. Passeando por seu comprimento, uma mulher puxa o lençol e lhe cobre o rosto. Outra, com asco do pé esfolado, puxa o lençol e descobre o rosto deformado pela bala. Alguém sugere que dobrem suas pernas como única maneira de esconder tamanha desgraceira, mas uma voz cheia de juízo avisa que não podem bulir com o corpo antes da perícia chegar. 

sábado, 16 de junho de 2012

Dia dos Namorados


A maioria dos casais de amigos conhecidos trocava presentes no dia 12 de Junho. Doce ilusão dos “eternos namorados”.
Com ele era diferente. Combinara com a mulher que não sucumbiriam ao apelo consumista de um mercado capitalista explorador do sentimentalismo cristão e ocidental de uma sociedade hipócrita e conservadora. Há quinze anos viviam alheios a este tipo de ilusão. Tinham uma união baseada no respeito mútuo; um amor maduro e sólido, sem brechas para pieguices.
Entretanto ultimamente vinha notando pequenas diferenças nas atitudes da companheira. O banho mais demorado, um apuro a mais no vestir, mais carinhosa, solta e desinibida na cama.
Decidiu, racionalmente, não criar aquela pulga atrás da orelha e inquiriu-a. “É o tesão pelo meu maridinho que aumentou”, ouviu cheio de satisfação e orgulho.
Ontem, vasculhando seu guarda-roupa em busca de um sabonete, deu de cara com o pacote. Pelo formato devia ser uma caneta. Não é que ela iria fazer-lhe uma surpresa. O espanto inicial foi substituído pela decepção do pacto ideológico ultrajado. Ela sucumbira ao capitalismo e ao sentimentalismo piegas. Deixou a caixa no lugar com a mente ocupada pela dúvida. Retribuir ou não o presente. Dormiu mal aquela noite, pensando no que daria para ela, tarefa mais que difícil depois de tantos anos de abstinência. No trabalho os colegas só falavam da programação para a noite. Presentes, flores, jantares, motel. E ele de lado, indiferente por fora e um turbilhão por dentro. Como a mulher podia ter feito uma coisa daquela com ele? Resolveu sair mais cedo e olhar as vitrines no shopping. Rodou, rodou, rodou e nada. Tudo lhe parecia tão supérfluo. As lojas enfeitadas de corações, os mesmos jargões adocicados repetidos ano após ano, as vendedoras solícitas e sorridentes perguntando: “É presente pra namorada?”. “Não, é pra sua avó”, a resposta impaciente calava na ponta da língua.
Não, não e não. Aquilo não podia estar acontecendo com ele, um baluarte da racionalidade, o inimigo número um do consumismo. Entrou na livraria, escolheu o recém-lançado livro do Rubem Fonseca, que recebera uma ótima crítica, e resolveu o problema.
Chegandoa casa, tomou um banho demorado. Ligou pro Tele Entrega da Pizza Hut e fez o pedido. “Vai demorar cerca de uma hora senhor, temos muitas entregas esta noite”, avisou a moça do outro lado da linha. Abriu uma garrafa de um tinto português e ficou bebendo enquanto punha a mesa.
Ela chegou mais tarde que o costume. Deu um gole no vinho e foi para o banho. Botou um vestido de casa.
-        Já jantou?
-        Pedi uma pizza pra nós, respondeu mostrando a mesa posta.
Sentou-se languidamente no colo do amado. O beijo de língua foi interrompido pela campainha do interfone.
Retirou a mesa e guardou os pedaços restantes na geladeira bebendo devagar a última taça do vinho dando o tempo que ela pediu para se preparar.
Acordou já claro com uma pequena dor de cabeça. Lembrou que não lhe dera o livro, mas relaxou porque ela também esquecera o dele.  Tomou banho e uma xícara de café. Antes de sair deixou o livro na cabeceira da bela e adormecida princesa. Ao meio-dia recebeu um telefonema dela convidando-o para almoçar. Chegou ao restaurante antes do combinado. Estava no segundo chope quando ela chegou toda sorrisos.
-        Rompeu o nosso pacto né. Essa você me paga! Mesmo atrasada: Feliz dia dos Namorados querido, e passou-lhe o pacote que ele abriu bem devagar, sem rasgar o papel.
Parece que não gostou da camisa, pensou ela diante do desencantado príncipe.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Elegendo o Amor


Perdido na zona do desejo,
Entrei na seção dos desesperados.
Eros pediu minha identificação
E procurou meu nome na
Lista dos apaixonados.
Entrei na cabine do livre arbítrio
E procurei o amor entre
As múltiplas possibilidades.
Foi quando vislumbrei tua imagem
E confirmando no verde sim
Te elegi a minha felicidade. 

sábado, 9 de junho de 2012

Alma Faminta


Minha alma
Pede um verso
E meu corpo
Um manjar.

Sigo solto
Sem rumo certo
Sem questões
A me inquietar.

Habito um mundo
Nem feio ou belo.
Chão onde durmo
Banhado ao luar.

Esqueço sem dó
Todos os sonhos
Quando um raio de sol
Vem me acordar.

Respiro a dura
E negra fumaça.
Divido com todos
O mesmo impróprio ar.

Cantar por cantar
Sorrir por sorrir
Jeito simples de viver
Sem parar para perguntar. 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Espaço x Tempo


Se o espaço é a dimensão da certeza
Desenhada com as linhas 
Precisas das coordenadas;
O tempo é fera de pura beleza
Sem jaula que o contenha,
Quando o tudo pode ser nada.

sábado, 2 de junho de 2012

Habitante do Amor


Habito o espaço

Entre o meu

E o teu corpo.

Refém do teu sabor

E prisioneiro do teu cheiro

Morro a cada gozo

Para renascer inteiro.