sábado, 28 de abril de 2012

Meta x Físico

Antes do tudo
Não necessariamente
O nada.
Nenhum conceito
Se constrói
Sem a impulsão
Do objeto.
Mesmo os abstratos
Tiveram seus porquês,
Pois se o Meta pode
Ser medido e pesado,
O físico dá razão
Para a fórmula.

17.04.12

Fechei a porta



Fechei a porta
E ela entrou.
Junto com ela
O silêncio e a escuridão.
Acendi a luz da sala
Para apagar-lhe a sombra.
Abri a janela
Para emudecer
Seu cantar.
Por um momento
Vivi a ilusão de sua ausência,
Mas duas lágrimas
Vieram dela me lembrar.
15.12.11


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Semeando Vaias


Não canto
Para quem
Queira me ouvir.
Estes são
Terrenos cultivados,
Fáceis de agradar,
Prontos para sorrir.

Canto para quem
Não se encanta
Com meu sonhar
E desconhece meu sentir.
Canto para quem
Não faço falta
Nem chorará
Quando eu partir. 

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Impostos

Existe certa dose de hipocrisia na crítica ao excesso de impostos. As vozes que alardeiam contra a pesada carga imposta pelo governo são as mesmas que sussurrando, confessam a façanha da sonegação e das propinas pagas a fiscais. Desconfio que a tríade altos impostos+alta sonegação+corrupção satisfaça muita gente que grita alto para abafar o zumbido intermitente da tão mal afamada quanto indispensável caixa dois. Baixar impostos e esperar menos sonegação me parece utópico; o lucro é o motor da economia capitalista e quanto maior melhor. Baixar impostos significa menos dinheiro para cumprir com as obrigações que todos esperamos do governo: educação, saúde, segurança, limpeza urbana, lazer. Todo governo é criticável, pois reflete a sociedade que representa. Nossa sociedade esta longe de atingir a consciência de cidadania, embora tenha havido avanços nos últimos anos. Lembro que há um par de décadas era inadmissível se vaiar abertamente um presidente, ver um juiz de algemas, assistir um senador responder por atos supostamente ilegítimos. Embora saibamos que muitas acusações não passarão disto, fica a mensagem que todos estão bem vigiados, que não podem fazer abertamente o que praticavam num passado recente, que a arrogância e a prepotência são incompatíveis com o cargo público. A mais coerente reclamação de quem paga impostos é de que não ver o resultado, o destino de seu dinheiro, ou seja, aceita pagar impostos desde que tenha certeza que ele irá para destino certo e não para os bolsos da corrupção. Uma solução para isto me parece a isenção de impostos por trabalho realizado na comunidade pelos cidadãos e empresas. Isto já vem sendo realizado no Rio Grande do Sul com descontos no IPTU para quem planta árvores em sua propriedade, e pode ser expandido para todo país e para outros serviços. A Coelce tem programa que dá descontos na luz em troca de produtos recicláveis. O governo poderia dividir suas obrigações com o cidadão e pagar este serviço sob a forma de descontos no imposto. Pague a escola de crianças carentes e debite o valor do seu imposto de renda. Atenda paciente do SUS em seu consultório e receba isenção do ISS. Faça a manutenção da praça em frente a sua casa e desconte do IPTU. As possibilidades são inúmeras. Cada cidadão pode dar sua contribuição e o estado perderá receita, mas terá menos encargos. Fica aqui a sugestão. Não adianta criticar o governo se a sociedade não está preparada para exercer a cidadania de exigir direitos e cumprir deveres.   

sábado, 21 de abril de 2012

Catarse



Toda dor
Se eterniza
No momento
Em que não
Se traduz.

Todo bom
Pecador
Sonha um dia
Carregar
Sua cruz.

Só na
Inocência
A alma ama
E revela
Sua luz.


21.04.12

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Inexistência



Há momentos
Que não sei se existo.

Não sinto o ar
Que me invade,
Nem a água que me banha
As entranhas.

A balança não reclama
Sob meu corpo,
E até o que revela
O espelho
Me estranha.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Instinto


Instinto,
Herói e vilão de nossas vidas;
Semente da felicidade,
Artífice da desesperança.

Instinto,
Primo-carnal dos desejos,
Despreza toda moral,
Desdenha qualquer razão.

Onde te escondes, covarde,
Quando te quero ao meu lado
Lutando contra a hipocrisia?

Quem te deu o poder
De atormentar-me a serena alma?
Serás acaso divino?

28/03/03

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Solidão à Venda



Estou vendendo minha solidão. Deve haver algum “maluco” que queira ficar com ela. Não aceito troca. Nenhuma solidão pode ser melhor que a minha. Bem conservada, tem algumas manchas de cerveja, é verdade, mas nada que comprometa seu valor de revenda.
Aceito sim, e com muito gosto, associações.
Pode me chamar para um bar, ou para um futebol, mesmo sabendo que sou perna de pau, me ligar combinando um cinema, um jantar ou mesmo um pequeno lanche no MacDonald.
Vale até me xingar, me chamar de careca, de boçal e pernóstico. Dizer que sou barriga branca, que só penso em dinheiro, que sou um alienado político.
Compre minha solidão, parcelada e sem juro e comece a pagar na minha próxima ilusão de independência.

06.10.06

sábado, 14 de abril de 2012

Encontro


Não lamentemos
O tempo e o espaço
Que nos separam.
Cuidemos para que
Cada encontro
Seja bem aproveitado
E os poucos instantes juntos
Fiquem guardados na memória
E façam parte da história de cada um.
Pois o que é viver a não ser
Ter histórias para contar?

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O dia está quase terminando e eu não poderia deixar de lembrar a todos os meus amigos que hoje é o dia internacional do Beijo. Fiquei sabendo do fato pela manhã, quando meus bebezões me chamaram: "Papiiiiii". Curioso, pois já havia dado o money para a merenda do colégio, quis saber o que queriam meus doces pingos de amor. Não podiam sair sem me beijar pelo dia dedicado ao delicado mimo, declararam as minhas duas antenadas crias. E eu não podia dormir sem espalhar essa deliciosa manifestação aos meus diletos amigos. Beijo a todos.

Pão Justo



Peço perdão
Por toda falta de jeito,
Por calar
O que me brota do peito,
Pelo que, sem intenção,
Fiz de mal feito
Por todo meu mal amar.

Peço porém,
Que nada seja esquecido,
Que não me concedam abrigo,
Que me tratem como mendigo,
E só me concedam o pão justo
Para minha fome aplacar.
 13-04-12

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Crime Passional



O crime

João estranhou o carro parado em frete a sua casa. Franziu a testa, achou que conhecia aquele carro. O vidro fumê não deixava ver o motorista. Quando abriu o portão baixo de ferro, ouviu a buzina e se virou. O vidro do Monza azul escuro foi descendo devagar e ele reconheceu o homem que lhe apontava um 38.

Na noite antes do crime

- Alô.
- Oi, sou eu de novo!
- ....
- Num desliga não. Eu sei que você não está sozinho, mas escuta...
- Olha, eu não quero te magoar mais do que magoei, mas bota na tua cabeça que acabou, eu tô em outra, me esquece, bota tua vida pra frente, arranja outro, me esquece.
- Eu te amo, não quero saber de mais ninguém.
- Levanta a cabeça, bota um daqueles teus vestidos justos e sai à caça criatura. Você ainda tem muito que dar.
- Você pensa que é fácil para uma mulher na minha idade.
- Mas você ainda tá bonita, bem conservada e ainda por cima experiente. Tá assim de homem solto nesse mundo.
- Mas tu sabes o que eles querem né?
- O que é que tem? Solta a franga criatura. Libera tua cabeça. Foi justamente esse teu grilo com o sexo que atrapalhou nossa relação. Abre tua cabeça. Experimenta, te solta, cai na vida.
- Você deve estar bem satisfeito com a puta que arranjou né, cachorro?
- Olha lá, deixa de ofender a Cidinha que eu desligo essa porra na tua cara.
- Pois então me aguarde....pu pu pu pu pu pu pu pu .

Na manhã antes do crime.

- Bom dia Dona Glória.
- Oi João. Na hora do almoço sobe lá no apartamento, que eu tenho um serviço extra pra ti.
- Certo Dona Glória.
- Até mais tarde.
  
Na tarde antes do crime:

- Alô.
- Pronto, fiz o que você mandou.
- O que mulher?
- Dei pro João da portaria, aquele moreno bonito, alto e forte.
- Que diacho tu tá falando?
- Gozei que nem uma cachorra.
- Filha da puta. Tu quer é desgraçar minha vida?
- Só segui teu conselho, me liberei.
- Mas logo com o porteiro, sua vagabunda.
- E o que é que tem. O troço dele é enorme, dá de chinelo no teu!
- Safada, isso é coisa que se faça com um homem direito como eu.
- Tu num me trocou pela tal de Cidinha.
- Mas é diferente, ela nem mora no bairro.
- O João mora longe também.
- Aposto que ele vai contar para todo mundo no condomínio.
- E eu com isso. Eu quero é ser feliz e sem homem eu num fico.
- Quando vivia comigo era cheia de não me toques. Vivia de bode, com enxaqueca...
- Mudei, agora sou uma mulher largada, e mulher largada tem de aproveitar tudo que a vida pode dar, meu bem.
- Como é que eu vou ter cara de ir pegar os meninos? Todo mundo vai me chamar de corno do porteiro.
- Liga não. Você mesmo num vive exibindo a talzinha pela vizinhança.
- Mas com o porteiro, é sacanagem da grossa. E a minha moral, como fica?  
- É sacanagem grande mesmo, o bicho é brabo na cama. E o sacana me disse que tinha ficado tão animado que ainda ia dar uma com a mulher quando chegasse em casa. 
- Filho da puta. Ele me paga.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Meditação

Parar de pensar
De sentir e se sentir.
Fugir para a
Eternidade,
Morrer respirando,
Aspirando o éter
Da satisfação
E da ausência
Da dor.
Se perder da angústia,
Mergulhar na paz
E na delícia de
Uma vida repleta
De luz e calor.  

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Compromisso


A página em branco
Me insulta,
Pede, implora
Por meu compromisso:
Tem de ser diário,
Horário, contínuo.
Não sabe viver
Sem meu riscar.
E eu sigo firme,
Impávido colosso,
Brincando de me expressar,
Como se fosse possível,
Como se fosse verdade
Tudo que ouso contar.
30.11.11 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Queimada (Lêdo Ivo)


Um “pecado”, não no sentido que mereça julgamento, muito comum, quase unânime, é a incapacidade de nos desfazermos das coisas. Vivemos acumulando papéis, latas velhas, roupas que há muito não usamos, tudo em nome de uma próxima oportunidade que nunca vem, ou de uma lembrança que não mais cabe na memória. Enchemos nossas vidas de tralhas e não deixamos espaço para o que há de vir, por isso a desilusão e a sensação que o bom ficou no passado. Nunca esqueço o verso de Lêdo Ivo: “Queime tudo o que puder”. O difícil é determinar o "possível".

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Degrau Perdidos



Subi a escada
De dois em dois degraus.
Cheguei ao topo depressa,
Mais rápido que qualquer um.

Sinto-me agora exausto
E com uma enorme
Sensação de vazio.
Carente dos degraus
Que não pisei
E ficaram irremediáveis
E para sempre perdidos. 

13.07.06

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Não Acredito


Não acredito em elogios. Envaideço-me com um abraço sincero, um beijo despudorado, um esboço de riso sem causa. Orgulho-me do que ganhei sem grandes esforços.  

Não acredito no amor de palavras, de declarações desbragadas. O que me toca é aquele que me bate sem machucar, me fere sem arder, me abarca sem sufocar, me aceita sem exigir.

Não acredito em piedade. Não dou nada por obrigação, não espero nenhuma medalha de filantropo. Dou para me sentir bem. Não acredito na mão que se projeta com orgulho.

Não acredito em obrigações. Busco sempre a satisfação, com responsabilidade. Sempre deixo para amanhã o que não quero fazer hoje.

Não acredito no amanhã. O passado é a única verdade. Não sei fazer planos a longo prazo. Meu olho só enxerga o que posso cheirar e pegar. Já é muito complicado administrar o presente.

Não acredito em destino. A vida é uma estrada de paralelepípedos: fatos e atos contínuos que se seguem e se encaixam. As estrelas brilham, não contam histórias.        

Não acredito em arrogância. Reconheço meu erro e não aceito desculpas de quem no fundo acha que tem razão, que é melhor que todo mundo e que merece a eternidade.