Juro: já simpatizei Corinthians.
Quando menino queria ser goleiro. Passava muito do meu tempo livre pegando bola
chutada por um tio que morava conosco e adorava futebol, especialmente o
Fortaleza. Queria ser o Leão, goleiro da seleção no início dos anos setenta.
Como ele jogava no Palmeiras, tinha especial simpatia pelo time verde e achava
Ademir Da Guia o melhor jogador do Brasil e do mundo. Mesmo assim vibrei muito
quando o Timão ganhou um título paulista após anos de jejum. Não me perguntem o
ano nem o nome do zagueiro que fez o gol redentor, pois nunca me lembro, apesar
das inúmeras vezes que ouvi dos conhecidos conhecedores da matéria
futebolística a quem conto essa história. Meu pai me levava sempre para ver os
jogos do Fortaleza e mesmo nos clássicos com o eterno rival Ceará, nunca
presenciei brigas no estádio. Lembro que eu e meus amigos ficávamos na esquina
de casa vaiando as bandeiras alvinegras e aplaudindo as tricolores. Era o
máximo de agressão que se permitia e existia, pelo menos de meu conhecimento e
prática. Escavinhando a memória lembro o banho de xixi que papai levou no jogo
horroroso da seleção brasileira contra o Uruguai. Papai ficou uma fera e saímos
antes do final sem nenhuma queixa já que nem o gol arranjado de pênalti deixou
satisfeitos os indignados e espremidos torcedores. Explico que minha atual antipatia
gratuita pelo timão se deve ao fato de ter visto uma cena de selvageria nas
arquibancadas de um estádio onde um torcedor corinthiano chutava sem piedade,
possuído pelo mais fervoroso espírito do mal, a cabeça de um rapaz, nem lembro
mesmo a cor de sua camisa, devia estar mesmo vermelha de sangue, deitado sobre
o granito duro daquela arena de espetáculo esportivo. Analisando aquele
episódio sob a luz da razão sei que o ato criminoso não pode ser considerado
monopólio da torcida do time do Parque São Jorge, mas entendam que a imagem
marcou tanto minha jovem e inocente cabeça que até hoje ainda a trago na
memória.
Um texto não lido é como um amor não correspondido. Neste espaço quero compartilhar um pouco de meus escritos, dar e pedir sugestões de leituras,filmes, músicas e ...
sábado, 23 de fevereiro de 2013
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
A prática da pediatria me faz conviver com essa realidade todo dia. Não é raro eu dizer que gostaria que os exames dos meus "gordinhos" dessem alterados, só para ver se os responsáveis resolvessem enfim tomar uma atitude, assim como aconteceu com a mão de uma das meninas do filme, que entendeu perfeitamente a situação e passou a se alimentar bem. Penso que o governo tem todos os motivos para controlar a propaganda das indústrias dos falsos alimentos, com o simples, puro e real argumento de problema de saúde pública. Achei interessante a nutricionista americana explicando as origens no pós-guerra da industria dos fast-food. Pena que a economia se intrometa tanto assim na vida e no corpo das pessoas, mas afinal, onde ela não se intromete? Só resta enaltecer iniciativas como essas que ajudam a difundir a verdade por trás da propaganda e do consumismo exacerbado. Marcante a cena inicial quando um carrinho cheio de refrigerantes adentra uma comunidade ribeirinha( norte do Brasil?), onde as frutas e verduras, pelo alto custo e fácil deterioração, não chegam. Assistam o filme no link http://www.muitoalemdopeso.com.br/.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Nuvem Negra
Tudo começou com um vento frio e sincero trazendo nuvens
caladas que apagaram o céu, mas não molharam o chão. Os olhos se encheram de
lágrimas e os pelos se arrepiaram com o medo do sombrio estio. Apesar do
espanto nenhuma voz se ouviu. Só um gemido, um tépido e dolorido gemido brotou
da garganta do único ser estupefato que entendeu a razão de tal castigo.
14.02.13
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Sonhos Possíveis
Não quero ter
Que terminar
nada.
Antes começar
tudo
Sem a ânsia de
Um dia ser feliz.
Pouca aventura
Que sonhei
Passou um dedo
Além do meu
Tão próprio
nariz.
17.01.13
domingo, 3 de fevereiro de 2013
O advogado que queria ser vaqueiro - Apresentação do livro "Reminiscência de um Idealista"
Este livro foi escrito por um
menino vaqueiro que com ajuda de seu primo Dr Nelson de Andrade Sales, Médico formado
na primeiro faculdade de Medicina do Brasil, a da Bahia, e a quem meus pais me
ofereceram como afilhado, formou-se advogado no ano de 1954. Não posso dizer
com certeza, talvez sua mulher e companheira nos possa depois nos contar,
quando nasceu em sua cabeça inquieta a ideia de escrever suas memórias. Sei que
muitas foram as noites que acordei com o sussurro frenético de sua velha e
resistente máquina de escrever que ele dedilhava usando os somente os dois
indicadores. Houve também muitos
períodos de silêncio, prováveis tempos para meditação. Aquelas páginas foram
assim ficando amareladas, enquanto ele ia acrescentando uma a uma até se
acumular num grande maço de papel que não quis sair da gaveta enquanto ele
ainda vivo. Será que ele ainda não estava satisfeito e achava que tinha mais
algo para contar? Nunca saberemos. Ouvi dele muitas histórias que não encontrei
neste livro. Deve ter as considerado indignas de serem lembradas ou mais
provavelmente as tenham condenado ao esquecimento. Não sei se será possível
esquecê-las, talvez eu as conte um dia em forma de ficção assim como ousei
fazer com uma de suas primeiras reminiscências, a qual intitulei:
O advogado que queria ser
vaqueiro:
Deixando a Fazenda Corrente
As lágrimas caíam e escorregavam
pela crina lustrosa do cavalo baio. De sua boca saia uma única palavra: “não”.
Não queria deixar a fazenda, a mata seca e fechada da caatinga, as caçadas
noturnas, os buracos de peba, o cheiro do curral, as vacas e seus bezerros, as
disparadas dos cavalos, os jumentos e suas cargas d’água, os banhos na lagoa
grande, os cachorros sempre em volta do alpendre onde o pai conversava com os
cumpadres e caboclos, a mesa grande onde se servia todo e qualquer filho de
Deus que se encostasse por lá antes mesmo da família, e principalmente, sua
mãe. Por que tinha de estudar se tudo que gostava estava ali, se podia ser
feliz como tantos e tantos que nasceram e morreram ser sequer assinar o nome,
sem nunca ter feito uma conta. Ouvia histórias de professoras carrancudas e
suas palmatórias sem perdão, de manhãs inteiras sobre carteiras duras, com
sapatos apertados e bico calado, olhando sem pestanejar para uma lousa preta
enrabiscada de letras que juntas formavam o tal alfabeto que todos tinham de
decorar se não quisessem sentir o peso da palmatória. O irmão seguia silente,
satisfeito, sorriso esboçado na esperança de aventuras por viver; boi inocente
a caminho do abatedouro, pensava entre um soluço e outro. Na frente do comboio
seguia o pai, fazendeiro simples, calça curta mostrando as chinelas de couro
cru, chapéu de palha esfiapado e ressecado pelo sol inclemente, cigarro de
palha na boca que lhe tingia o bigode de amarelo, pequeno chicote na mão
direita enquanto a esquerda guiava o cavalo alazão. Cansado os ouvidos, puxa as
rédeas do animal, espera o filho inconformado e se deixam ficar no fim da
procissão. Sem que o outro ouça promete ao menino que deixará o irmão na cidade
e o trará de volta para a fazenda. A palavra do pai, lei maior não conhece, lhe
devolve toda a alegria dos primeiros onze anos de vida. Em breve descobrirá que
o amor paterno guiado pela consciência e o dever de dar o melhor para os filhos
é maior que qualquer pequena mentira.
Há quatro exatos anos, era um
domingo triste e chuvoso, quando ele nos deixou. Estes papéis ficaram guardados
na velha gaveta de seu grande Birô até hoje, quando vos apresentamos sua
história. Termino dando voz ao autor: “Se, ao lerem estas Reminiscências,
encontrarem alguma razão para segui-las como exemplo de conduta, que o façam
como eu o fiz: com ideal grandioso e puro”.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Reminiscências de um Idealista - Livro de Memórias de Meu Pai
Ter pouco mais que a metade dos anos que o autor presenteou o
mundo com sua existência me concede o direito de prefaciá-lo não como filho,
mas como um adulto crítico. Denunciar-lhe os defeitos é, entretanto, tarefa
impossível diante do singelo e inesquecível enredo que escreveu com a
caligrafia do amor puro e incondicional. As estórias por vir só há pouco li no
papel, embora possa ouvir o teco-teco (como ele às vezes me chamava) de sua
velha máquina de escrever nas madrugadas de minha infância, mas tive o
privilégio de ouvi-las da boca do próprio narrador; quase nunca dirigidas
diretamente a mim, mas sorvidas com a avidez de menino curioso, enquanto as
contava aos pacientes e admirados ouvintes. Muitas sei de cor, poucas se
perderam nas curvas da memória, mas espero que todas sirvam de ensinamento para
quem acredita no amor e no ideal como forças motrizes de todo e qualquer tempo.
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