sábado, 23 de fevereiro de 2013

Portão Fechado


Juro: já simpatizei Corinthians. Quando menino queria ser goleiro. Passava muito do meu tempo livre pegando bola chutada por um tio que morava conosco e adorava futebol, especialmente o Fortaleza. Queria ser o Leão, goleiro da seleção no início dos anos setenta. Como ele jogava no Palmeiras, tinha especial simpatia pelo time verde e achava Ademir Da Guia o melhor jogador do Brasil e do mundo. Mesmo assim vibrei muito quando o Timão ganhou um título paulista após anos de jejum. Não me perguntem o ano nem o nome do zagueiro que fez o gol redentor, pois nunca me lembro, apesar das inúmeras vezes que ouvi dos conhecidos conhecedores da matéria futebolística a quem conto essa história. Meu pai me levava sempre para ver os jogos do Fortaleza e mesmo nos clássicos com o eterno rival Ceará, nunca presenciei brigas no estádio. Lembro que eu e meus amigos ficávamos na esquina de casa vaiando as bandeiras alvinegras e aplaudindo as tricolores. Era o máximo de agressão que se permitia e existia, pelo menos de meu conhecimento e prática. Escavinhando a memória lembro o banho de xixi que papai levou no jogo horroroso da seleção brasileira contra o Uruguai. Papai ficou uma fera e saímos antes do final sem nenhuma queixa já que nem o gol arranjado de pênalti deixou satisfeitos os indignados e espremidos torcedores. Explico que minha atual antipatia gratuita pelo timão se deve ao fato de ter visto uma cena de selvageria nas arquibancadas de um estádio onde um torcedor corinthiano chutava sem piedade, possuído pelo mais fervoroso espírito do mal, a cabeça de um rapaz, nem lembro mesmo a cor de sua camisa, devia estar mesmo vermelha de sangue, deitado sobre o granito duro daquela arena de espetáculo esportivo. Analisando aquele episódio sob a luz da razão sei que o ato criminoso não pode ser considerado monopólio da torcida do time do Parque São Jorge, mas entendam que a imagem marcou tanto minha jovem e inocente cabeça que até hoje ainda a trago na memória.       

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


 A prática da pediatria me faz conviver com essa realidade todo dia. Não é raro eu dizer que gostaria que os exames dos meus "gordinhos" dessem alterados, só para ver se os responsáveis resolvessem enfim tomar uma atitude, assim como aconteceu com a mão de uma das meninas do filme, que entendeu perfeitamente a situação e passou a se alimentar bem. Penso que o governo tem todos os motivos para controlar a propaganda das indústrias dos falsos alimentos, com o simples, puro e real argumento de problema de saúde pública. Achei interessante a nutricionista americana explicando as origens no pós-guerra da industria dos fast-food. Pena que a economia se intrometa tanto assim na vida e no corpo das pessoas, mas afinal, onde ela não se intromete? Só resta enaltecer iniciativas como essas que ajudam a difundir a verdade por trás da propaganda e do consumismo exacerbado. Marcante a cena inicial quando um carrinho cheio de refrigerantes adentra uma comunidade ribeirinha( norte do Brasil?), onde as frutas e verduras, pelo alto custo e fácil deterioração, não chegam. Assistam o filme no link http://www.muitoalemdopeso.com.br/.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Nuvem Negra


Tudo começou com um vento frio e sincero trazendo nuvens caladas que apagaram o céu, mas não molharam o chão. Os olhos se encheram de lágrimas e os pelos se arrepiaram com o medo do sombrio estio. Apesar do espanto nenhuma voz se ouviu. Só um gemido, um tépido e dolorido gemido brotou da garganta do único ser estupefato que entendeu a razão de tal castigo.
14.02.13

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Sonhos Possíveis


Não quero ter
Que terminar nada.
Antes começar tudo
Sem a ânsia de
Um dia ser feliz.
Pouca aventura
Que sonhei
Passou um dedo
Além do meu
Tão próprio nariz.
17.01.13

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O advogado que queria ser vaqueiro - Apresentação do livro "Reminiscência de um Idealista"


Este livro foi escrito por um menino vaqueiro que com ajuda de seu primo Dr Nelson de Andrade Sales, Médico formado na primeiro faculdade de Medicina do Brasil, a da Bahia, e a quem meus pais me ofereceram como afilhado, formou-se advogado no ano de 1954. Não posso dizer com certeza, talvez sua mulher e companheira nos possa depois nos contar, quando nasceu em sua cabeça inquieta a ideia de escrever suas memórias. Sei que muitas foram as noites que acordei com o sussurro frenético de sua velha e resistente máquina de escrever que ele dedilhava usando os somente os dois indicadores.  Houve também muitos períodos de silêncio, prováveis tempos para meditação. Aquelas páginas foram assim ficando amareladas, enquanto ele ia acrescentando uma a uma até se acumular num grande maço de papel que não quis sair da gaveta enquanto ele ainda vivo. Será que ele ainda não estava satisfeito e achava que tinha mais algo para contar? Nunca saberemos. Ouvi dele muitas histórias que não encontrei neste livro. Deve ter as considerado indignas de serem lembradas ou mais provavelmente as tenham condenado ao esquecimento. Não sei se será possível esquecê-las, talvez eu as conte um dia em forma de ficção assim como ousei fazer com uma de suas primeiras reminiscências, a qual intitulei:
O advogado que queria ser vaqueiro:
Deixando a Fazenda Corrente
As lágrimas caíam e escorregavam pela crina lustrosa do cavalo baio. De sua boca saia uma única palavra: “não”. Não queria deixar a fazenda, a mata seca e fechada da caatinga, as caçadas noturnas, os buracos de peba, o cheiro do curral, as vacas e seus bezerros, as disparadas dos cavalos, os jumentos e suas cargas d’água, os banhos na lagoa grande, os cachorros sempre em volta do alpendre onde o pai conversava com os cumpadres e caboclos, a mesa grande onde se servia todo e qualquer filho de Deus que se encostasse por lá antes mesmo da família, e principalmente, sua mãe. Por que tinha de estudar se tudo que gostava estava ali, se podia ser feliz como tantos e tantos que nasceram e morreram ser sequer assinar o nome, sem nunca ter feito uma conta. Ouvia histórias de professoras carrancudas e suas palmatórias sem perdão, de manhãs inteiras sobre carteiras duras, com sapatos apertados e bico calado, olhando sem pestanejar para uma lousa preta enrabiscada de letras que juntas formavam o tal alfabeto que todos tinham de decorar se não quisessem sentir o peso da palmatória. O irmão seguia silente, satisfeito, sorriso esboçado na esperança de aventuras por viver; boi inocente a caminho do abatedouro, pensava entre um soluço e outro. Na frente do comboio seguia o pai, fazendeiro simples, calça curta mostrando as chinelas de couro cru, chapéu de palha esfiapado e ressecado pelo sol inclemente, cigarro de palha na boca que lhe tingia o bigode de amarelo, pequeno chicote na mão direita enquanto a esquerda guiava o cavalo alazão. Cansado os ouvidos, puxa as rédeas do animal, espera o filho inconformado e se deixam ficar no fim da procissão. Sem que o outro ouça promete ao menino que deixará o irmão na cidade e o trará de volta para a fazenda. A palavra do pai, lei maior não conhece, lhe devolve toda a alegria dos primeiros onze anos de vida. Em breve descobrirá que o amor paterno guiado pela consciência e o dever de dar o melhor para os filhos é maior que qualquer pequena mentira.
Há quatro exatos anos, era um domingo triste e chuvoso, quando ele nos deixou. Estes papéis ficaram guardados na velha gaveta de seu grande Birô até hoje, quando vos apresentamos sua história. Termino dando voz ao autor: “Se, ao lerem estas Reminiscências, encontrarem alguma razão para segui-las como exemplo de conduta, que o façam como eu o fiz: com ideal grandioso e puro”. 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Reminiscências de um Idealista - Livro de Memórias de Meu Pai


Ter pouco mais que a metade dos anos que o autor presenteou o mundo com sua existência me concede o direito de prefaciá-lo não como filho, mas como um adulto crítico. Denunciar-lhe os defeitos é, entretanto, tarefa impossível diante do singelo e inesquecível enredo que escreveu com a caligrafia do amor puro e incondicional. As estórias por vir só há pouco li no papel, embora possa ouvir o teco-teco (como ele às vezes me chamava) de sua velha máquina de escrever nas madrugadas de minha infância, mas tive o privilégio de ouvi-las da boca do próprio narrador; quase nunca dirigidas diretamente a mim, mas sorvidas com a avidez de menino curioso, enquanto as contava aos pacientes e admirados ouvintes. Muitas sei de cor, poucas se perderam nas curvas da memória, mas espero que todas sirvam de ensinamento para quem acredita no amor e no ideal como forças motrizes de todo e qualquer tempo.