domingo, 30 de agosto de 2020

Distico I

...
Hoje não tem sonho,
O dia nasceu sem cor.

Tá tudo cinza
No quintal da nossa dor. 

Perdição.

Se tudo se perder
Amanhã, 
Certamente não será 
De dor,
E sim pelo milagre
Da cura 
Que todos querem
Saber,
Mas têm tanta
Pressa, 
Que passará quase
Desapercebida.

Ela habita
Um Onde
Bem maior do que todos 
os Eus.
Pulsa na intemporalidade
Do que restará de
muitos Nós. 

É o encontro
do que não se mede
com o que não se quer. 
Um simples fato
sem desejo algum. 


Sal e Água

...
O segredo do mar
Não está no sal
Que lhe dar sabor,
Mas na água
Que o unifica
Num Oceano Só.

Solução

...

Só restará

o óbvio

quando o

todo mistério

for inexplicavelmente

solucionado. 

sábado, 29 de agosto de 2020

Quando a noite chegar.

Quando a noite chegar
Quero te rir,
Quero te chorar.

Te acolher no colo,
Te descobrir
Te embalar.

Penetrar teus segredos
Sem intenção de entende-los.
Ver teu nascer o sol
Com o brilho sereno da lua,
Formosa, discreta, 
Inesperadamente nua.

Olhar para o tempo
E não perceber as horas
Porque cada instante 
É luz, é vida, é calor.
E saber que é amor
As lágrimas que choras. 

29.08.20

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Semi Deuses.

O agora

se impõe

na ausência

do se pensar.


E destrói 

o Amanhã

dos filhos de 

uma geração 

que se quer

Dona do Olimpo.

Sincero

Se a vida 

me pedir,

eu nego. 


Não tenho 

medo nem 

vergonha 

de receber.

Sem resposta

O que é o amor

senão a forma

mais otimista

de se tomar

consciência do 

fato de podermos

estar definitivamente

vivos, mesmo que 

por pouco tempo?

Pesadelo

Quando sonhei 

já era passado

e tudo se havia

consumido.


Folha já era lodo

e o mofo fazia morada

em tudo que se mexia,

sem pedir licença à paz, 

sem respeito por qualquer

lampejo de esperança.  

Tolo Voluntário

Não pensar 

é quase uma dádiva,

um presente divino,

o dom da imutabilidade,


Uma realidade que 

jamais foi sonhada. 

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Lamento

Cada lembrança 

brota diferente

conforme o momento. 


Somos misto de emoção

e de livre pensamento. 


Por isso choramos na

alegria e rimos do 

mais duro sofrimento. 


Somos a maré que 

vibra entre o furor

e o lamento. 

Entalo

Fugir do mundo

como se nada

valesse o esforço.


Beber a dor, engolir

sem reclamar

do caroço. 

Cheiro Bom

 A onda que 

me leva,

me traz 

até você.


Cantinho 

aconchego

de cheiro maneiro

que exala 

prazer.

Voo Livre

Minha alma 

segue solta,

sem medo 

de se perder. 


Voo livre 

dentro de 

um menino

sempre 

pronto a nascer.

Mero Nascer

 E se o amor pela vida

for menor que a angústia 

de ser? 


E se ninguém merecer

mais que o mero nascer?


E se nada pedisse porquê?

Sobrevivente

 E se todo tudo acabasse

antes que eu pudesse

partir.


Será que me agradaria

ter tanto nada para mim,

ou antes imploraria 

um justo e antecipado

fim?

Incontinência

Não subirei a colina

nem embrulharei 

meu sono em 

noite fria. 


Vaticino um fim

próximo, longo

e doloroso sobre

lençóis úmidos

de uma cama vazia.  

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Calor do Pecado

Quando o pecado 

for maior

do que a dor,

pedirei para 

sonhar acordado

no calor do

teu corpo

sem pudor. 

Chuva no Mar

Chuva no mar.

Água boa que se perde

tal qual beijo

em quem não se

quer amar.  

Manhã de Sonhos.

Acordei quando

o sol não mais subia.


Sonhei,

metade do dia,

com quem prometeu

jamais viria. 

Contrastes Iguais

Todo Poema

no fundo é igual.


Uma réstia de luz

que prescinde de sol


Um doce sabor

com uma 

pitada de sal

Ósculo

Pena de gente 

que não beija.


Não sopra 

sua vida

no rosto da vida

que pulsa 

alheia.  

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Traças na Biblioteca

As horas batem
Fortes e mudas
No peito do mundo.

Mudam conforme,
Por vezes contra,
Um insincero desejo,
Entre o azul e o carmim. 

Pulsam indiferentes,
Julgam,
Condenam
Absolvem,
Num martelar 
Ingênuo e sem fim. 

domingo, 9 de agosto de 2020

Lição de Cidadania

De longe já fiquei desanimado com o tamanho da fila que aguardava o ônibus, e vi a possibilidade de fazer a viagem sentado e estudando para a prova de amanhã se desmanchar em inútil ilusão. A senhora de quem tomei o ultimo lugar da fila me recebeu com um sorriso de resignada parceria. Tirei a apostila da bolsa. As letras se embaralharam sem sentido, me impedindo a compreensão do texto e me obrigando a olhar para a frente, com um lampejo de esperança escondido na remota sorte de encontrar algum conhecido que me acolhesse em seu vantajoso lugar. O improvável se vestiu de inopinada alegria ao vislumbrar o homem de paletó ocupando um privilegiado terceiro lugar da fila. Devolvi o livro à bolsa, levantei as sobrancelhas para a senhora da frente e corri para os braços de meu pai. Minha cabeça ainda batia em seu peito e foi ali que me abriguei em seu abraço. Depois de me arrumar o cabelo que havia assanhado, perguntou de onde eu vinha, se viera sozinho ao centro da cidade, se estava com fome, coisas que todo pai pergunta sem querer mesmo saber de verdade. Olhando ao redor percebia o deslumbramento das pessoas diante o encontro tão carinhoso entre pai e filho. É improvável que alguém reclamasse por eu ter corrompido a ordem de chegada ao me juntar ao distinto Senhor de paletó, mas tão logo o ônibus chegou, meu pai carinhosa e naturalmente me pediu que voltasse para meu lugar na fila, coisa que fiz de cabeça baixa, imaginando a cara de vingativa satisfação da senhora que eu havia abandonado, sem poder ver seu sorriso de aprovação diante da aula de cidadania que o menino tinha recebido de seu pai.