sábado, 28 de novembro de 2020

Profundezas

A mente humana possui limite que impossibilita a concretização da pura razão. Querer entender qualquer indivíduo dessa especie pela ótica da lógica e do bom censo é exercício que se perde na esteira de sofistico  discurso. Nada se mostra por inteiro na superficie das vitrines. A realidade do lago mora na sua profundidade. Só revelamos ao mundo a ponta do iceberg de nossa profunda e sincera ignorância do que somos e do que realmente pretendemos de um mundo que nunca chegaremos a entender. 

Placidez

Na placidez de um doce e sereno desejo, quero estar bem mais que perto de ti. Todo carinho que transpiras me absorve e preenche, e me descubro um balão cruzando infinitos e impossíveis espaços. Livre, leve e solto, mas preso a tua apaixonada delícia. 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Muito Só

Só sabe

o que é preciso

quem não tem para dar.

 

Só chora

quem tem lágrimas

para desperdiçar.

 

Só cala

quem tem rios de mágoas

para guardar.

 

Só ama quem :

sofre sem remorço,

odeia comer sozinho

e ri do próprio tombo.

 

24.10.06

 

Absoluto

...

Sonho com a 

verdade que 

não existe.

Não a que me 

faz alegra, mas

a que não me 

deixa triste. 


O esplendor da 

ausência na 

solidão do que 

mais preenche.


A incongruência 

do absoluto na 

imensidão do que 

constato na 

fluidez que me 

absorve e me 

seduz.

Sangrando

...
A vida se esvai
Num copo de sangue,
Servido ainda quente,
No meio do dia.

Numa ferida aberta
Por faca cruel e cega
No início de uma 
Tênue tarde fria.

No misto de dor e prazer,
Do parto que se
Perdeu no precipício 
De uma noite vazia. 

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terça-feira, 24 de novembro de 2020

Tribos

Qual o tamanho exato de nossa tribo? Os primitivos tinham pouco mais ou menos de cento e cinquenta membros comunitários. O que bastava num passado tão próprio aos nossos ancestrais, hoje se impõe nas nossas relações reais do dia a dia, apesar das infinitas possibilidades que nos promete as mídias sociais.Os conservadores sempre formaram a  fileira da maioria dos tribais, talvez isso explique o fato de que tudo muda de forma muito lenta, sem necessariamente ser melhor ou pior. Por detrás daqueles gritam os reacionários que sempre pregam um retorno ao passado, renegando qualquer pequena mudança no discurso social. Muito além se insurgem os revolucionários que não aceitam a ordem vigente e clamam por mudanças radicais. Um pouco ao lado, mas também um pouco a frente dos conservadores, caminham os progressistas que defendem uma evolução em ritmo mais acelerado, pois enxergam muita coisa boa no hoje, mas pregam um amanhã bem mais justo e perfeitamente realizável, sem se prender nas amarras da mola que permite avanços, mas impõe limites cruéis. Vive na utopia quem julga ser o melhor possível um mundo mais que imperfeito. Acreditar nas mudanças urgentes e nas soluções negociadas faz parte do projeto político de uma esquerda responsável, madura, coerente e sintonizada com a dor dos abandonados pela política pública. Vamos virar mais uma página da nossa história. Vamos virar. 
Ass: Esquerda Boulosiana do Brasil. 

domingo, 22 de novembro de 2020

Vamos Virar

A construção da mente humana tem segredos que se escondem nos reconditos dos afetos. É nesse sentido que as diferenças surgem. E o que devia ser mera questão de cor, fé, opinião, ou simples expressão da vontade sexual,  se transforma em divisores indissolúveis de comunicação e de convívio harmônico. Sonhar não pertence ao mundo do real, mas abdicar de um mundo avesso ao ideal, nos condena a uma estagnação e um conformismo que nos reduz a ser meros repetidores, algo muito semelhante aos animais não humanos. A noção de humanidade é tão estranha quanto singular. Muitos julgam que ela nos foi dada, outros que foi fruto de uma dura luta evolutiva. Minha pouca razão me induz a tomar um dos partidos, mas o muito que me anima, me leva a ter um tanto de encanto pelo que há de místico e transcendente em nós. Respeito é a palavra que não quer me calar, no mesmo instante que a tolerância é o grito que precisa ser dado, e mais do que nunca ouvido. 
Ass: Esquerda Boulosiana do Brasil. 

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Rochas Vivas

A ideia da intemporalidade me persegue, mesmo sem conhecer bulhufas da teoria de Einstein, muito menos da "quanticidade" dos mistérios da materia que ninguém pode ver, mas que a ciência busca entender sem nenhum propósito de se aproximar ou afastar da ideia de um criador. A nenhuma exclusão das possibilidades é um trunfo na busca de um entendimento do papel humano e até mesmo da vida neste planeta. Essa dimensão atemporal ultrapassa a duração de muitas gerações de experiencias individuais
As rochas me encantam pela certeza da continuidade do processo inominado que nos pertence tanto quanto nos domina. "Do pó vieste, ao pó voltarás". 

Sorriso Passado

Cada passo 
Que me guia 
Tem um pouco 
Do que me inspira
E outra tanto
De alguma dor. 

Seguir sem rumo
É descobrir-se
A cada esquina. 

Se esquecer 
Do sorriso que
Nunca se fez
Naquele menino
E ficou para trás
Como símbolo de 
Um passado que 
Nunca se alcançou. 

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Maricas

Maricas. Gente com a sensibilidade suficiente para o entendimento ou respeito de que  há algo de plausível e inteligente no lado em que não escolheu para morar. Os maricas apostam no diálogo, na verdade que existe na inter realidade de duas ou múltiplas concepções. São seres ambíguos em sua íntima relação com a onisciência  dos afetos. Maricas são entes  estranhos que não se deixam impressionar por discursos tolos, festejados com fogos de pólvora e imersos na saliva da ignorância. Maricas são pequenos, grandes, brancos, pretos, meninos e velhos que não perderam a nobreza de sonhar com um mundo de iguais na toda e maravilhosa  diferença de ser e deixar viver.
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terça-feira, 17 de novembro de 2020

Ódio

Sempre desconfiei do ódio desmedido. Ele sempre esconde algo indizível, o que se tem pudor de revelar, um preconceito vergonhoso que se esconde por trás da indignação sem razões proporcionais ao tamanho da revolta. Se procurarmos desvendar o que motiva um ódio declarado descobriremos traumas profundos, quase sempre de natureza sexual ou de perda significativa do status. Ninguém quer ficar por baixo, muito menos descer do pedestal onde um dia se exibiu orgulhoso.
Acumulei poucos objetos odiosos em minha não tão curta vida, e já "quase" não os posso numerar. Penso que consegui assumir meus erros e ter encontrado meu aconchegante e próprio lugar no mundo que nem sempre me quis e amou, mas nem por isso conseguiu semear e colher, da árvore do meu viver, os frutos amargos do ódio. 
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Mero Absurdo

Quando te vi
Pensei que a vida
Não tinha mais fim.

Sorrir para o absurdo
Virou mero exercício
De quem busca na ausência
A mais tola razão de existir.

O carinho que não se
Multiplica, muito menos
Se divide entre o que há
E o que poderia existir
Esta condenado a ser
Somente o que se aceita, 
E quase nunca o que 
Se quer.

sábado, 14 de novembro de 2020

Saliva

A luz que me brilha
Não pertence ao 
Mundo dos conceitos.

Concepções ultrajam 
O meu entender e
Não me acendem o desejo. 

Gosto da saliva 
Que me lambe,
Muito mais do que
A boca que me fala.

O suor de quem 
Trabalha me inspira
Pouco da divindade
E muito do prático 
Existir. 

(fb)

Sobre o Viver

Viver é boiar nas águas do tempo.

O único jeito ruim de viver é pensando que é para sempre.

A ilusão é a maneira mais nobre e tola de se viver e de se sentir.

Sobreviver é uma forma de tortura. 

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Feminino

Quando eu quero,
Quero muito.
Nada de poucos desejos,
Sem longos beijos de língua.

Quero o mundo,
Mais do que minto.
Pouco do que me comove,
Muito do que me míngua

Quero a voz que não 
Me escuta.
O paraíso que não
Me quer. 

A vida num cisco de homem,
No todo esplendor 
De toda mulher. 





sábado, 7 de novembro de 2020

Emoções

No entendimento do que há além da pobre razão está, a mesmo assim discutível, possibilidade de nos realizarmos como seres minimamente viáveis. Olhar para os lados, ou dobrar o pescoço para o que um dia se foi, se tornou confortável alternativa diante o incerto futuro. Como escapar dos que prometem as glórias do passado? O imediatismo da necessidade exige soluções rápidas e alimenta o profícuo surgimento de discursos tão fáceis quanto vazios. Na força da emoção reside o poder dessas criaturas que se alimentam de vento e que expelem discursos tão densos quanto doces suspiros. Navegando pelos mares da incerteza é quase lógico se duvidar da realidade dura e imparcial da bússula, e o surgimento de teorias terraplanistas devem ser consideradas como sinal de desesperada tentativa de se descobrir como entidade capaz de duvidar de tudo que não se consegue entender. Ao tentarmos racionalizar a emoção abdicamos da capacidade de tolerar o que nos é estranho, e condenamos ao esquecimento a maravilhosa possibilidade de sermos diferentes. 

Reflexão

A palavra,
Uma vez dita,
Perde o dono,
Vira coisa comum
Do mundo. 

O sol já anda alto
E gotas de chuva, 
Alheias ao meu
Necessário sono, 
Enfeitaram o vidro
Da varanda que 
Parece chorar de
Saudade.

Acordo insone
Para mais um dia
De doce ausência 
E de esperançada
Reflexão.eflexão.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Trumpeço

Quando você abdica da possibilidade crítica de estar errado, de aceitar que não é majoritário, muito menos unânime, em prol da defesa renhida de concretos conceitos, perde a intemporalidade histórica e se insurje contra o equilíbrio evolutivo estável da natureza. Viver não é fácil, mas é só o que temos. O que sobra são lembranças. Cortesia e tolerância ganham entendimento quando se transcende a discutível qualidade altruística, e busca proteção na acolhedora intenção humana da reciprocidade. "Não te faço mal por ser bom, mas para que você não me trate mal em futura oportunidade". Não é mero jogo de toma lá dá cá, como gritam os radicais de ambos os lados, mas uma fórmula segura de convivência "democrática" e civilizada. Viver uma vida só de glórias é própria dos lunáticos. Enquanto muitos destes seres de outro mundo bradam seus impropérios, soltos pelas veredas terrestres, uns poucos buscam se  apropriar de palácios e tronos feitos para proteção e conforto de todos. Um tropeço machuca um dedo. Um trumpeço dá um pouco de luz à desesperançada humana espécie. 

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Pássaros Escondidos

...

A chuva

Cai fina e mansa,

Sem pressa

De molhar o mundo.

 

Os pássaros,

Escondidos nas folhagens,

Reclamam do frio,

Ou estarão amando?

Sim e Sim

 ...

O dedo me dói

Ao contato das teclas

Que não clamam repouso.

 

Quero me calar,

Parar de pensar,

Dormir um pouco,

Mas o sono é vencido

Pela inquietude da expressão.

 

Sonho com um mundo

Onde tudo se resuma

Ao silêncio.

 

Onde não seja necessário

Mais que duas palavras

Para tudo dizer:

Sim e Sim.

 

Porque nada mais

Desumano

Que a angústia de

Declarar-se

Culpado por ser feliz.


Ausência

 ...

Ausência,

Palavra tola e vil

Que não encontra sombra

Sob seu são próprio til.

 

Porque teu nome

Não pertence ao passado,

É presente contínuo

Sob a égide dos genes

De onde tudo nasce

De onde tudo vem.

 

És a infinitude do carinho

Necessidade imanente

De quem vive sem

Sofrer com o destino.

 

02.06.12


Breu

 

...

Ela se foi em silêncio,

Sem medo de me ferir,

Sem revelar seu segredo,

Sem saber aonde ir.

 

Partiu solene e desnuda

Deixando tudo de seu.

Levando somente o desejo

Que iluminava meu breu.

Exagerado

 

...

Não sei escrever

Sem rabiscar,

Ler sem pensar,

Dormir sem babar,

Sorrir sem rasgar.


Exagerado

É o que "fingem" que sou.

domingo, 1 de novembro de 2020

Tolice

Amanhã vou querer dormir. Escapar da realidade que jamais deveria ter sido sonhada. Caminhar em passos lentos e medidos por trilhas e veredas que se insinuam, prometem mistérios, deslumbram doces e bárbaros sabores. Cheirar entranhas conhecidas e descobrir delícias despudoradamente escondidas. Cair no céu e se saber pássaro: inútil e divino. Se realizar na ausência das pretensões e se descobrir tão pequeno quanto o mais esquecido dos deuses gregos. Conhecer a eternidade do momento e se sentir mais feliz que quando se tinha cabelo e nenhuma dor nas juntas. Ter nenhuma certeza ou só a de que ser feliz nunca foi nem será obrigação, mas só uma mistura de tolice com uma inocente ilusão.