sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Afetos e Razões

Estou racionalmente convencido que a especie humana tem quase nada de racional. Adoro os paradoxos e me deslumbro com o onde as incongruências podem nos levar. Não há mudança sem dúvidas, e se tivemos algum avanço real em nossa longevidade e qualidade de vida foi muito devido a luta entre o querer crer e o procurar entender. O "se" é por conta da sincera incerteza que tenho sobre a noção de progresso. Nunca caminhamos em linha reta e jamais poderemos afirmar que hoje é melhor ou pior do que ontem. Nossas consciências flutuam de acordo com tantos fatores que apontar uma causa é tão infantil quanto inútil. O certo é que somos. Acreditar e entender nossas emoções e afetos é imprescindível para definirmos o amanhã que nos espera envelhecer.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Pontos do Mar

Longes pontos flutuam por lá. Cores que borram o verde azul do mar. Por que serei, por que serás?
Mistérios que só a luz poderá contar. 

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

água de côco

Minhas metafísicas capacidades não passam de devaneios quase inúteis pelos corredores dos mistérios, bem distante das divinas possibilidades de quem goza de prestigiosa ascendência. Meu presente é em Peroba, muito longe de Canaã, e jamais negarei minha pouca sapiência em matéria de água, fiel discípulo que sou de Baco,  deus pagão dos bêbados e dos destiolados. E como tal, inocentemente me insurjo contra a ideia de que a água adentre a carapaça do coco em busca de uma vida mais doce, e imagino que tudo não passe de um mero e vil ato de urinar para dentro, máxima expressão do egocentrismo mesquinho e sovina de um coqueiro que afinal nem boa sombra dá.

sábado, 24 de outubro de 2020

Verde

 O verde que me invade é bem maior que a pálida e orgânica humana condição que há muito busca me possuir. Se o  beijo não tem cor, por que me escravizar ao vermelho quente da paixão? Levanto o olhar e me vejo refém involuntário do azul; menino perdido entre o céu e o imaginado, prisma feliz de entendimento sem razão, mas com todo o sentido que só o amor incindicional pode dar. e dar.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Redonda Terra

Não saber se a noite vai clarear, ou se o dia vai escurecer. Somente que o futuro será o próximo e doce presente. Saber que o vento vai dar a volta no globo e trazer o cheiro do amor dela de volta. Terra, minha-nossa redonda guia. Gira livre no teu finito destino, surda aos impropérios de quem se julga maior do que tu, minha musa,  nossa casa. 

Redonda Mundo

Ninguém acorda do sonho alheio. A rede, que prende o intrépido peixe espada, perde o profícuo cardume de sardinhas que pouco dá bola para a eternidade. Um passo em falso não passa de um imperceptível erro evolutivo e nenhum ser que se quis vivo sonhou com a perfeição. As ondas são eternas e nem por  isso sonham em banhar todas as praias. Cada canto se pertence e pretende ser esquecido em sua unicidade, em sua única e maravilhosa solidão. 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Eminente Marcador


A noite estava agradável. Uma carinhosa e mansa brisa abrandava o calor do verão. O céu de interior, abarrotado de estrelas, convidava à preguiçosa reflexão: o que somos nesta imensidão que é o universo? Esquecido, o livro deixou-se cair no chão sem barulho. Um leve impulso com o dedão balançou a rede e uma tonteira me desligou por microquânticos segundos do jugo tirano da matéria. Tateei o chão até fisgar o livro. Admirei sua capa, senti seu peso, sua textura, seu cheiro e sua força até sentir a ausência do marcador, que devia ter se perdido na queda. Folhei todas as páginas, sem descobrir por onde recomeçar. As palavras se embaralharam no meu já pouco juízo. Não consegui entendê-las; seriam alienígenas? Senti-me só, incomunicável e euforicamente perdido. Uma oportuna ocasião de escapar para outra irrealidade. Foi quando uma estrela cadente riscou o céu, me presenteando com a possibilidade do infinito desejo.  Quando o mundo parou de girar, abri o livro na página indicada pelo eminente marcador e retomei minha viagem.       

 

 

Criaturas

Não, os deuses não estão mortos. Eles se imiscuem entre suas criaturas e espalham medos, dúvidas, ambições, desejos mil, outras tantas frustrações e infinitos deslumbramentos. Nenhum filho passa incólume pela criação, seja ela intencional ou não. "Os Deuses são Deuses porque não se justificam", e perderiam o trono dos céus, caso fossem chamados a dar explicações. Felizmente os humanos não buscam o entendimento, e sim a quietude da pouca alma que conquistaram. Querem a paz que só a guerra pode dar. Se refastelam com o caos que lhes rodeia. Confiam no que lhes transcende por inocente desconforto com sua mortal condição e elegem os deuses que lhes prometem o mais puro e provável impossível. 

Hão

 ...

Horas hão 

que só se quer

parar. 


Hora é 

que não tem mais

perdão.

Ausência

...

A dor que 

ficou

foi tão pouca

que 

é difícil

acreditar 

que foi 

amor.

Ruínas

...

As verdes Torres

caíram goela

abaixo. 


Não puderam 

levantar a criança,

mas nos deram 

a capacidade de rir

de nossa triste sina.  


11.09.15

Fresta

...

O vento pia,

mas não espia,

e pouco copia,

o que não existia

na casa azul

da minha tia,

na noite fria

que invejou o dia,

na rima triste

que virou mania. 

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Matéria Divina

 

Não tenho alma. Sou a mais pura e insólita consequência da “vileza” do corpo. Toda entidade metafísica que me rondou a inconsciência ficou perdida nas circunvoluções tirânicas de meu tecido cerebral. O que diferencia meu sentir do meu pensar é o sítio bioquímico em que foram "fabricados". Tudo que me transcende nasce da eterna e deusa  matéria.  23.03.12

Intruso Meu

 

...

O pensar

Não pede licença

Ou perdão.

Finge que

É da casa

E abre,

Tal qual dono,

O portão.

 

Sorriso

 

Quando sorrir

É o melhor conselho

E chorar a única

Possível solução;

Pedir pouco consola

E doar

A única forma

De brindar o coração.

Té Chulé

 

Minha mãe já me dizia

Toda hora, todo dia

Que meu pai não me queria

Ver escravo da alegria,

Que muito melhor eu seria

Se ao invés da cantoria

Fosse filho de Maria.

Rebelde filho sem fé,

Fazendo somente o que quer

Fiz-me sozinho no mundo

Quase um pobre vagabundo

Uma meia suja com chulé.

 

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Sobrinho do Absurdo

 

Sou sobrinho do absurdo.

Meu pai nunca me viu chorar.

Quem me acalentou foi o tio.

Por isso aprendi a voar.

Hora Sublime

 

Se nesta hora sublime, porque única e definitiva, estou só, devo exclusivamente a minha conduta de vida. Muitos a chamaram de egoísmo, eu sempre a interpretei e expliquei, tanto aos outros como a mim mesmo, como ideal de independência. Todo conceito, entretanto se torna inútil e perde sentido quando nos vemos sós na hora dita final. Não me vem nenhum remorso ou sentimento de ingratidão. Tudo terminou como deveria, determinado pelo que pôde ser feito, por alguém que fez o que quis. Por que procurar culpados onde só existe a inocência do desejo e do puro instinto? Sempre entendi e repeti a mim mesmo nos momentos de solidão, numericamente superiores aos de congregação, que ninguém nasce para ser feliz, mas estamos sempre procurando a paz que nos permita morrer tranquilos. Foi o que perseguiu minha mente-alma inquieta. Entretanto nunca venci o pessimismo que sempre se disfarçou de prevenção em cada instante que antecedeu meus atos. Isso fez de mim um estraga prazeres, um chato estressado e rabugento. A verdade é que colhi o que plantei. E se o pouco de vida que tenho pulsa no meio deste quarto vazio, visitado somente pelas enfermeiras que me injetam paliativos, é porque eu realmente mereci. 

Barco Moreno

Sempre será assim:


Pensar no que tá perto,

Navegar num barco moreno

E maldito,

Mas de grande satisfação.


Certeza, só na saudade

Ou no querer queimar outro:

Papoca, lagarta de fogo!


Apaga com a cerveja amarela,

Aquarela de sabor

Porque ninguém é sempre

Herói de alguém.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Vento

Não há como
Nem porque
Lutar contra o vento. 

Abrir velas 
Se deixar partir.

Um riso sem causa
Incomoda o mundo
dos pés no chão.
Inveja do voo.
Sem motivo,
e nenhuma intenção.

Um beijo roubado,
Perdido.
Como se nunca
Acontecido.
Um singelo desejo 
Para sempre
Sonhado.

Inquietude

 ...

A palavra não pede

para ser dita. 


Ela é o pensamento

inquieto que,

mais que se expressar,

acredita.

Sangue das Veias

 ...

Trago nas veias

um sangue que

não me pertence.


Apesar de real

ele nada enobrece

e na hora do 

inútil suspiro

estancará num 

coágulo fatal.

Segredo

 ...

Me dá 

um carinho

que eu compro

um segredo

para nós dois.

Eterna Ignorância

 ...

De que adianta

ler tento

se a gente

nunca saberá

o que está

fazendo aqui?

sábado, 3 de outubro de 2020

Lunar

De frente pra lua
Um misto de paz
E de espanto.

Quão longe 
Anda a dor 
Que se perdeu
No último gole
De vinho.

Quão perto
Toda ternura
Que brota de 
Um simples
Carinho.

Pássaro

Não se perde
Deus por um nada,
de repente, a toa.

Ele vai fugindo,
Indo devagar;
Ovo que vira pássaro
E finalmente voa. 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Bola de Neve

 ... 

O homem criou deus

que anunciou o pecado

que gerou o medo

que trouxe a dor

que "matou" o homem

que não pode criar

mais nada e se fez

infeliz para a toda

eternidade. 

Mais que Tudo

 ...

Quem tudo quer,

não vive,

apenas luta. 


Quem tudo tem, 

não vive,

apenas dorme. 

Trombada

 ...

O mundo

é uma bola

redonda

onde a gente 

se encontra,

e o mais das vezes

tromba.

Barril de Pólvora

Não peço nem aceito perdão por não crer no pecado. Somos responsáveis pelo que fazemos ou dizemos e estamos sujeitos as destemperanças e atropelos. Para isso existem as leis e suas interpretações, com atenuantes e agravantes. E se não é passível de punições legais, apenas um caso de rusgas e desentendimentos familiares ou entre amigos? Haverá contenda  sem um que de real, mesmo que sutil? De uma ferida mal curada, de um senão escondido nos recônditos de nossa memória afetiva? Não, não há espaço para pedido de perdão e sim de escancaramento de traumas, de falsos silêncios, de mágoas acumuladas e guardadas a sete chaves. Catarse e não perdão. Acredito no subliminar que camufla nossos preconceitos e que por vezes, quando menos se espera, por uma faísca surgida na China ou em Madri, cai no meio da palha do contido e acende, acorda nossos demônios. Não somos anjos, muito ao contrários, somos barris esperando explodir, somos um revolver implorando por um dedo inocente que puxe o gatilho do alivio, e dispare uma bala perdida, sem rumo certo, mas que deixe livre o tambor da dor reprimida. Não esperemos lógica nessa dor. Em se tratando de humano, quase nada é feito de razão, muito menos os traumas que se escondem por trás de um sorriso calmo e simpático. Chego a entender que nossa capacidade de raciocínio trouxe um desastre evolutivo à nossa espécie. Não somos seres de paz, de amor, de perdão e de entendimento. Somos uma bomba pronta a explodir. 

Cães e Gatos

 ...

Cães e gatos brincam

na praça dos homens. 


Um ali late,

outro aqui mia. 


Brigam esbanjando

harmonia.