Uma coisa a ciência me ensinou: duvido de tudo que não se
possa provar. É claro que o conhecimento e as verdades mudam com o tempo, mas
sempre que podemos reproduzir um fenômeno, mesmo que parcialmente, damos um
salto no nosso saber. Por isso adorei as declarações do Papa Francisco quando
anunciou a verdadeira integração simbiótica entre ciência e fé, evolução e
criação, ou o contrário, como julgarem melhor. Prova de que ele está muito
preocupado com a intolerância que tanto mal faz ao crescimento mental, social e
até mesmo fisiológico da humanidade. Mas o que me traz à pena é outro motivo. É
a crença que as pessoas têm em tudo que vê, ouve ou lê. A internet está tão
cheia de denúncias, dados e informações que está impossível fazer uma análise
desapaixonada da realidade. Subliminarmente falando, sei que é impossível nos
desligar do nosso inconsciente e deixar de lado nossa simpatia diante de
qualquer informação. Nossa memória é prisioneira de nossos interesses. É da
essência do ser. Entretanto julgo que devemos pelo menos parar um pouco e
refletir no que “eu” faria no lugar do “outro”. As leis existem para nos ajudar
a organizar a relação de interesses. Quem as faz é a maioria. Isto é o que
chamamos Democracia, palavra tão cara a tantos que esquecem que até mesmo ela e
seus princípios podem, foram e são arguidos por muitos. Basta ouvir os apelos
de alguns que pelas redes sociais pedem a volta da ditadura. Muitos se esquecem
de que aquela palavra é oriunda da antiga Grécia que adotava a escravidão como
coisa mais que natural. Mas este assunto é muito complexo e minha capacidade
filosófica não chega a tanto para uma abordagem mais profunda, por isso retomo
meu rumo para comentar sobre os compartilhamentos que a gente, me incluo para
assumir minha parte de culpa, faz a toda e qualquer postagem que agrada nossa
ideologia político social. Proponho aqui que nos transformemos em peneiras. Retenhamos por alguns
segundos, minutos, segundos ou até mesmo horas, diante do se vomita por aí.
Claro que encontraremos informações úteis que merecem a justa propagação, mas a
minha sugestão é que evitemos notícias sem fonte segura e que denigram a moral
do oponente. Construamos nossa página como se fosse a nossa cara. Não a
deixemos cheia de remendos mal feitos. Afinal deixamos de ser somente o que
comemos para ser também o que postamos.
Um texto não lido é como um amor não correspondido. Neste espaço quero compartilhar um pouco de meus escritos, dar e pedir sugestões de leituras,filmes, músicas e ...
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Custo Brasil
Ouço muito falar no custo Brasil. Que nossos impostos são
altos, a burocracia dificulta a instalação de novas empresas, a nossa
infraestrutura é péssima. Concordo com tudo isso. Só nunca ouvi referência à
margem de lucro das empresas. Lembro um programa da GN sobre indústria farmacêutica.
A memória me insulta (será que é mais um caso de peça que ela me prega?) com a
informação que a margem de lucro nos EUA é bem menor do que as praticadas no
Brasil. Outra rara referência ao tema colhi em um gráfico sobre as percentagens
embutidas no preço final de nossos automóveis, onde os generosos lucros
praticados estimulam e muito a
implantação de indústrias automobilísticas estrangeiras no nosso país. É lógico
que vivemos sob o império da lei de mercado. Se há quem pague por uma calça só
pela etiqueta famosa pregada para exibição do poder aquisitivo do usuário, o
vendedor abocanha o máximo que pode. Mas o que quero saber é se há algum
estudo, levantamento estatístico sobre o assunto. Qual a média de lucro com que
trabalha nossas empresas? E se esta média é maior, menor ou igual, às praticadas
pelo restante do mundo. Fiz este questionamento na Globo News e aguardo
resposta. Se alguém tiver estes dados gostaria muito que me repassasse.
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Cabra da Peste
Não é irreal. Certo dia, andando numa Rua do Leblon, ouvi um
bêbado num boteco de esquina, berrando alto contra Nordestinos, ou seria
Paraíbas, nem lembro direito. É claro que não era comigo, e aquilo sequer me
abalou. Estava em terra estranha e sozinho; e a figura nem merecia atenção sequer
do dono do bar. Mas o que ficou gravado me resgatou a memória agora com os
desabafos preconceituosos contra nordestinos eleitores de quem lhes garante o
Bolsa Família. Não acredito nem de longe que isso venha de porção
estatisticamente significativa da população sulina. Muito menos de gente bem informada.
É só analisar os números com pouco cuidado que veremos que a percentagem dos
votos da Dilma é praticamente a mesma no Nordeste e Sudeste(37 contra 36,7%, se
não me engano). Entendo o fenômeno mais como uma revolta daqueles que se viram
de uma forma ou de outra prejudicados pelo “enriquecimento” de uma classe antes
miserável, que teve seus salários aumentados em índice acima da inflação, o que os fez
ascenderem à condição de pobres. E os motivos de revolta não param por aí. O
sistema de cotas nas Universidades Públicas fez estrago na classe média alta.
Sei que passei bem para a Universidade Pública que escolhi por ter feito o
ensino médio - sou do tempo do Científico - em escola privada de renomada
qualidade. Poucos foram meus colegas oriundos de escola pública. Este simples
fato empurrou inúmeros estudantes da classe média alta para as caras Universidades
Privadas que se multiplicaram desde então, estreitando a folga orçamentária de
muitos. Sei que o assunto merece discussão, a tal da meritocracia está na boca
de meio mundo, e o principal argumento contra, que inclusive foi o meu, é que
se devia ensinar a pescar, não dar o peixe. Mas quanto tempo leva uma pessoa
para aprender a pescar o suficiente para sua sobrevivência? Enquanto isso,
devemos deixá-la morrer de fome, enquanto sobra postas fritas nas mesas de
tantos? Concordo que pouco se tem feito pelo ensino fundamental. Entendo que a
escola em tempo integral é de urgente necessidade e que a carreira de professor
precisa de urgentíssima valorização. Proponho que discutamos à luz muito maior
do que a do interesse próprio, procurando entender que política é o
gerenciamento de opostos.
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Mudando de Ideia
Por falar em Miriam Leitão vi um pedaço do programa dela ontem a noite na Globo News. Meu pretenso senso crítico me permite assistir tudo com muita atenção e pouco riso, já recomendava Vininha. Não me incomoda a parcialidade ou não das notícias. Filtro-as com minha reiterada desconfiança. Pois bem. Confesso que não prestei atenção na fala da representante do Ibope, mas o que me chamou a atenção foi na análise do momento eleitoral feita pelo Prof Carlos Pereira da FGV. Segundo ele a situação é a seguinte: Dilma fez um governo de inequívoca promoção social, mas peca pelo fraco desempenho na Macro economia, com consequente baixa taxa de crescimento e retorno da inflação. Aécio, por outro lado, mostra-se como um candidato capaz de dar um impulso, um choque liberal na economia, mas não consegue ser convincente quanto seu projeto social. Dos que já se decidiram poucos mudarão seus votos, apesar das constantes postagens de denúncias e impropérios de ambas as partes, que só servem para acirrar os ânimos e deixar escapar coisas que as "outras pessoas não devem saber", essa vem do rei. A briga então é pelo voto dos indecisos. Vencerá quem for mais convincente da sua capacidade de "mudar", palavra que ganhou vida e voz nos últimos tempos.
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
Gabriela
Gabriela nasceu fruto do amor indevido, sem planejamento nem
vínculo, de um mercador encantado e uma quase menina cheia de sonhos e fácil de
enganar. Quando a bolsa rompeu o pai há muito não andava por aquelas bandas do
sertão. Cresceu prometendo formosura. Suas pernas roliças, tonificadas pelo caminhar
sem fim das lonjuras pra tudo onde se tinha de ir, e sua cintura tortuosa, tal
o caminho incerto que a água deixa na terra em forma de rio em tempos de chuva,
que o vestido curto e colado que seu corpo de moça vestia deixava mostrar,
enfeitiçava quem lhe botava os olhos. Graças aos conselhos da avó e o
conhecimento do triste fim da mãe, vítima da insanidade de uma sífilis mal
curada, pegada na tarefa de puta do lugar, se manteve Virgenzinha da Silva até
que lhe aparecesse o homem que lhe quisesse de verdade. E ele chegou. Chegou
num Land Rover preto banhado de pó. Não prometeu mundos nem fundos, mas a visão
de sua boca foi o suficiente para Gabriela entender que ali estava o dono de
seus beijos tão cuidadosamente guardados. Fugiram depois do descabaçamento. Num
levou nem uma muda de roupa para lembrar seu passado infeliz. Viveram dois
felizes anos entre uma cidade e outra, percorrendo toda estrada de terra que se
pudesse desbravar. Entre um Rally e outro os dois passavam uns dias se amando
em algum quarto de hotel. Não tinham casa para criar os filhos que nunca vieram. Aprendeu com ele a arte da
navegação e obtiveram sucesso em várias provas. Mas uma curva mal feita pôs fim
ao conto de fadas e Gabriela se viu novamente, depois de dois meses internada,
sozinha. Não podia voltar para a sua terra. A avó havia sido enterrada ano
passado sem sua presença no funeral. Saiu do hospital sem atinar em nada, com
uma muda de roupa e cem Reais doados pelas enfermeiras e médicos. Quando a fome
apertou comeu um sanduiche de atum com um suco de manga. Dormiu num motel
barato da periferia. Na saída o dono do estabelecimento ofereceu-lhe um emprego
fácil, que não exigia experiência alguma, e um sorriso maroto. Gabriela abriu a
bolsa, pagou o que devia, deixando bem a mostra o pouco que lhe restara. Depois
de agradecer o oferecimento seguiu seu rumo incerto. Assim nascera e assim crescera.
Seria sempre assim, até encontrar um novo amor.
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Beijo
Um beijo
Ninguém nega,
Mesmo que sem vontade.
Não é preciso amor
Muito menos verdade.
Beijo é sinal de carinho
Por toda humanidade.
É desejo que os sonhos
Se tornem realidade.
É a marca que fica
De uma tal felicidade.
sábado, 4 de outubro de 2014
Psicografia
Foi mui simples começar. Diante da janela, ouvindo o ruído
perene do mundo, botei a mão sobre o rosto e comecei a preencher o papel sobre
a mesa com todos os sinais que passei a receber, um pouco de cada dor e de cada
alegria emanando de todos que não eu próprio, para evitar interferir no
processo. A mão estava inquieta - a direita é claro, a esquerda continuava
tapando-me os olhos e massageando a testa, os dedos com a função de antenas receptadoras.
Passei horas e nada de parar. Não vi a água nem o pão que me serviram – não
tinha sede e minha fome era outra. As vozes não queriam calar e minha força foi
minguando até desmaiar. Acordei no inferno: tinha ouvido as mensagens erradas.
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