Amanhã É Natal

Se amanhã fosse Natal

Todos estariam sorrindo

Pois não há sonho mais lindo

Que um mundo sem sombra do mal. 

Se amanhã fosse Natal

Tudo era novo e divino

O velho era mais um menino

O preto e o branco eram igual. 

Se amanhã fosse Natal

Só haveria sorriso

Tudo era justo e preciso

Ponto perfeito do sal.

Se amanhã fosse Natal

Não haveria castigo

O outro tão só mais um amigo

A paz era o único canal. 

Se o hoje não refletisse o ontem

E o amanhã fosse um sonho real.

Jamais secaria a fonte

Donde brota o eterno Natal. 

Pós Bolsonarismo

Segundo o psicólogo Sergio Freire(pelo menos foi o que entendi após ouvir sua entrevista no "Sem Política Não Há Solução" )três são os destinos dos Bolsominions pós Bolsonaro( esse já era). Sem um líder e com pouca expressão, voz politica, se restarão Deprimidos, Arrependidos, ou Resistentes. Os primeiros merecem atenção especial pois podem chegar ao extremo do suicídio. Os quebrados arrependidos podem ou não buscar reintegração social e familiar perdidas. A nova união será tarefa tão fácil quanto menor foi a ruptura havida durante o embate eleitoral. Os terceiros são os que merecem muito cuidado, pois podem ser bastante violentos, embora a maioria ficará mesmo é perdida nos devaneios das teorias conspiratórias. 

Materialidade da obra.

O debate sobre a autoria e seu consequente  direito autoral é complexo. Nada se constrói do nada. Ninguém escreve sem ter lido. Borges se considerava antes de tudo, um leitor. Ladislau Dowbor disponibiliza todos os livros que escreve sobre economia em PDF para qualquer um ler, embora os publique e venda em papel. Mas isso é assunto para outra ocasião. O que me instigou no texto supostamente escrito por Mary Elisabeth é seu conteúdo estoico. Quando recebi a notícia de que meu xará José não queria velório, logo imaginei que ele não desejava ser velado, pois sabia, ou acreditava, que seu corpo, sua matéria, estava voltando para a natureza. Para os que acreditam ou não na alma ele deixou sua obra, sua arte em múltiplas faces. Como bom advogado da materialidade das coisas, só me resta aplaudir e propagar a ideia. Claro, as interpretações são múltiplas. Posso estar completamente enganado. É esse o ponto justo e belo das coisas. Não há segredos, só mistérios!!!!

Cativadores.

Ele não teve pressa 

De nos dar adeus. 

Se foi de mansinho,

Sem querer deixar 

Saudade. 

Mal sabia ele

Que sua última 

Missão estava

Fadada ao 

Impossível. 

Somos a soma

Dos muitos fatores 

Que se misturam

Em diversas 

Equações. 

Resultados 

Do destino 

Da genética,

Cumprimos 

O caminho 

Que o afeto

Nos impõe. 

Mas sempre 

Na certeza 

Que de fato

Somos puros

Cativadores

De corações.

Brisa

A idade me 

roubou as convicções.

Enterrei as certezas 

no fundo das rugas. 

Perdi a verdade 

junto com os cabelos. 

Agora,

levado pela brisa 

que já não precisa me

amenizar os desejos,  

quase que claudico

sem pressa alguma

de sonhar com a 

liberdade. 

Centenário

Ser pai é uma doce sina

que se carrega desde menino.

Não se aprende, nem ensina,

Parecer coisa de destino. 

Mais que tudo é cuidar,

Assistir de perto o caminho.

Entender que nunca acaba

O que se constrói com carinho. 

Pai herói, pai modelo, pai exemplo

São conceitos que não se encaixam

Quando se tem um pai Real.

Aquele que jura "nunca erra", 

mas mesmo assim é legal.

Aquele que reclama respeito,

mas brinca solto no quintal.

Sempre que sonho com ele

acordo leve e pleno. 

Certo que mora em mim,

seu sorriso sempre sereno.

E se acaso um arco-íris

Enfeita meu céu de manhã, 

É quando sinto mais vivo

Seu jeito plural de viver. 

Pois não bastariam cem anos

Para todo bem que veio fazer. 

Vetores

O tempo me espera

do outro lado do portão; 

caminho que segue torto, 

sem perder a direção.

Sentidos que se misturam,

horas perdidas em vão;

só a vontade inesperada 

de encontrar o próprio irmão.

Nascer para o infinito,

não sonhar nenhum perdão; 

Segundos de um só grito, 

acordar sem sim ou não. 

27.10.22 

Própria Cruz.

Prometo não rir 

De tuas lágrimas.

Vou vero é me 

Esbaldar. 

Chora mais.

Tô doido para

Me refastelar com

Teu desespero. 

Sentir doer 

A barriga 

Com teu total

Destempero.

Surfar nas nuvens,

Assistir o arrancar

Dos teus lindos

E louros cabelos. 

Chora que é bom, 

Quem sabe te 

Traga algum bem,

Nem que seja 

Um lampejo de luz

Coisa difícil de crer

Para quem escolheu 

A própria cruz. 

Trovão

O ronco vem de longe. Até parece que o mundo quer acordar e dizer sem pudor algum que se cansou de dormir. As nuvens apagam o sol e não peço mais que algumas horas a mais de sono. Será possível aquele pássaro ser assim tão feliz? A vida pulsa tão depressa que já nem sei se estou nessa, de sorrir para tudo como aprendiz. O amanhã que me corrói é o mesmo que me cobre com seu lençol. Me cobra força e garra, mas me quer sereno, quente e forte. Até que nem mesmo a morte me vença e me deixe tranquilo e feliz. 

Desabafo

Não há como

Relevar a hipocrisia,

Amenizar a idiotia,

Não tratar a esquizofrenia,

De quem se diz seu bem querer.

Passou a hora

De sorrir para o 

Inaceitável,

Passar a mão

Na cabeça 

Do desprezível.

Mais que hora do 

Falso abraço afável,

De chorar sobre

O cúmulo do 

Inadmissível. 

Não há tempo

Para a vingança,

Mas que ninguém 

Se julgue impune

Pela torpeza do 

Momento insano. 

Pois não há nada 

Mais humano

Que sorrir sobre 

O profano túmulo 

De quem jamais 

Sonhou seu mesmo

E sereno sono..

Boa Política

Como acreditar que os Deputados e Senadores Bolsominios  irão oferecer uma oposição séria ao Governo? Com certeza serão ofuscados pelo responsável debate político. Você imagina a Damares discursando no Senado? Vai falar o que? Ideologia de Gênero? Extração dentária de crianças com fins espúrios? Falará ao vento para ouvidos mocos. Qual a expressão política do discurso de um tal Nycolas Ferreira? Entender os votos dados a ele é uma missão impossível para quem não acredita em teorias da Conspiração e já se cansou se ouvir jargões batidos que ficaram chatos e condenados ao completo ostracismo histórico. E o que dizer do Pato Rouco? Corrupção, corrupção, corrupção, grasnará o futuro Senador Paranaense sem nenhuma bagagem política no bolso e na cuca. Não tenho dúvidas que o Centrão ocupará seu espaço de sempre, que é a mediocridade na política decisória e a eterna colheita das migalhas das emendas parlamentares. Logo de princípio se descolarão das Emendas do Relator, pois podem ser mal intencionados, mas não são burros de mexer com um Governo de Verdade. Podem me chamar de inocente otimista, mas jamais perderei a fé na Boa Política que renasceu após uma não tão curta passagem pelo Inferno.  

Direta de Verdade

Não posso entender que o boçalnarismo se mantenha como o representante majoritário da Direita Brasileira. O que se iniciou com a reeleição da Dilma e se estruturou no seu Impeachment, culminou, com o auxilio midiático da Lava Jato, na prisão do único que poderia evitar a Eleição de um Incapaz. O que aconteceu com a Direita Democrática desse país? Passado quatro anos, a Direita se deu conta que a desestruturação do Estado assistida nesse finado governo, não ofereceu uma real resposta aos nossos problemas. O mundo todo se volta contra a idiossincrasia do Neoliberalismo. Não se admite mais que o Estado cruze os braços e deixe tudo correr solto, sem limites, sem apoio forte aos desassistidos pelo Mercado Financeiro. Os americanos afastaram o Trump, a Alemanha elegeu o partido Socialista para comandar seu destino. O partido conservador Inglês encontra dificuldades em formar um gabinete estável. Acredito que a Nossa Direita não pode se render ao Excremento da história. O conservadorismo majoritário presente em nossa sociedade não pode mais abaixar a cabeça para um radicalismo antidemocrático, autoritário e sem proposições. A eleição do Lula se oferece como uma excelente oportunidade para retorno à boa luta entre as diferentes ideias sócio econômicas. Chega de tanta asneira, canta nosso maior compositor. O tempo da tolice passou. Olhemos para frente. Viva a nossa combativa e resistente Esquerda. Que a Nossa Direita de Verdade volte ao cenário político do país. Não há dúvidas que há quadros mais que capazes para ajudar a compor o espetáculo da nossa Democracia. O certo é que não sentiremos saudades dessa quadra infeliz.       

Sete Sete

Atente bem minha gente,

Não há nem comparação

Entre o velhinho contente

E aquele outro bobalhão.

Um tem motor sete sete

O outro pedra no coração.

Um é feliz e inocente.

O oficial não passou de Capitão.

Tá tão fácil de escolher

É só ouvir o coração.

Chega de tanta asneira

Destruindo a nação.

Hoje nasce melhor futuro,

Pro pobre, pro negro, pra mulher.

Brilha a estrela da esperança

De quem só o amor quer. 

Crepúsculo.

Com quantas lutas se preenche uma vida? Quais as garras, coragens e armas necessárias para entender a amplitude do imenso vazio que nos possui após cada vitória ou derrota? Lutar parece não ser um verbo adequado, nem justo! Vencer sempre é sempre impossível. Como perder quando há tão pouco a ganhar? A resposta pode estar no sossego da alma, no prazer silencioso de nossas vontades, no abismo sem voz que surge a cada fim de tarde. É a hora do repouso da luta, do torpor que nos prepara para a paz do sono, quando o pedido de trégua não pede nem impõe condições. As mãos se abrem e todas as armas caem sobre o solo rubro do sangue da luta injusta, e ninguém mais reclama por glória. A hora é de brindar à saúde de quem já foi inimigo, dos beijos desapaixonados, das conversas fiadas sem malícia e da mais pura ausência de anseio pelo que não nos faz falta. A luta já não nos pertence; somos todos donos do mundo e ninguém precisa ser forte, mas somente um pouco feliz.     

Saideira

A vida é festa feita 

de eternas saideiras. 

Deixamos o amor dos pais

Pelo puro amor com as mãos.

Confundimos o amor dos versos

Com a mais doce dor da paixão. 

Queremos tanto que quase dói.

Julgar sem desejo o que nos constroi.

Inescrupulosos

A grande e poderosa arma do pensamento elitista é a sincera e assumida falta de escrúpulo. Abusando da inocência da maioria que ela sempre desejou ignorante, propaga ideias, cria fantasias, produz verdades tão feias quanto seu insano e infinito sonho de superioridade, sem se dar conta da assumida deselegância do ato que perpetuam, sem o definido sentido do como e porque. Brincam na corda bamba alheia como se fossem deuses onipotentes, donos de todo e qualquer destino. E se um deus maior lhes vier pedir explicações, se encolhem, se defendem com 

a desculpa de pretensa e irreverente brincadeira, se ressentem pela falta de bom humor. Para esse tipo de gente, confesso ter perdido a paciência. Quanto mais longe, melhor!

A Elite Vota Nele

 A elite, não necessariamente a econômica, mas a que se acha melhor e maior que a maioria, não se incomoda com a indigência cognitiva e o arroubo autoritário do atual presidente e candidato a reeleição. Ela está ligada contra a promessa da esquerda de elevar o salário mínimo do país e ao retorno de pequenas conquistas sociais de um passado recente. Não simpatizo com a ideia do desprezo e inconformismo em ver domésticas lotando saguões de aeroportos, mas um temor e terror por terem de pagar bem aos trabalhadores e verem seu capital, "ganho com tanto esforço e mérito, escorrer para os bolsos de indivíduos inferiores, verdadeiros bicho preguiças, analfabetos e sem pudor ou moral. Bando de gente que dorme amontoada, quase nus, sem o mínimo respeito aos verdadeiros valores da família cristã". São invariavelmente essas as desculpas que a elite do atraso ( Jessé Sousa) verbaliza com o intuito de esconder o verdadeiro, inconsciente e inconfessável motivo de tanto ódio: Ela se julga superior! Pedindo vênia aos Direita Desavergonhados  que assumem o Positivismo de sua convicção, é a essa conclusão que chego sempre que ouso um Direitopata fazer sua profissão de fé.  Os armamentistas argumentam que é necessário se proteger dos "bons bandidos mortos", mas no fundo transferem para o aço a sua pretensa superioridade e verdadeira covardia. Ao se rebelarem contra a liberdade de escolha sexual, a elite ruidosa declara sua defesa à pureza da infância, mas basta uma análise mais aprofundada para ver que sentem mesmo é vergonha de sua própria sexualidade e se rebelam contra seus inconfessáveis e "fracos desejos". Os Misóginos defendem que as mulheres devem receber menos por menstruar,  engravidar ou amamentar, e que elas excitam a vontade sexual masculina com suas pernas e coxas expostas, mas bem no íntimo do inconsciente não suportam se descobrirem tanto ou menos eficientes e sensíveis que Elas. Esta é minha hipótese. A vontade de poder alcança níveis patológicos num mundo que assiste o naufrágio do Neoliberalismo. O culto extremado e insano ao individualismo transformou seres risonhos em monstros antropófagos, meninas bonitas e pobres em alvos fáceis, cidadãos pacatos em máquinas de pouca capacidade de produção, pobres em gentalha que só serve para votar com o diploma de burro no bolso. O individualismo só se concebe quando o assunto não compete ao espaço fora do próprio corpo. Entender o mundo de dentro para fora, resulta em uma sensação de superioridade, de ser dono da verdade, paladino contra a ignorância que assola o mundo moderno, filho de um Ser Superior a quem representa dignamente contra a horda de bichos sem Deus. Pensar de fora para dentro é se construir, se pensar uma peça do quebra-cabeça, essencial para o todo, mas nunca imprescindível, afinal a perfeição nunca foi nem será  uma propriedade humana. 

Abestado.

Viver bem 

É viver em paz. 

Estar sempre 

Do próprio lado.

É entender 

Que é puro amor

Ser chamado

De abestado. 

música

Quantos anos tem nossos gritos? Quantos mais são todos os hinos?

Quantos senões em tantos estilos?

Quantos poréns? Quando tu vais?

Toda cabeça tem mil sentidos 

Nada confunde o que nos faz.

Nenhum carinho está comprometido.

Todos os corpos são quase iguais 

Se os caminhos estão tao perdidos

É que parece não somos capaz

De entender o que é foi prometido 

E esquecer o que ficou pra trás.

AM7

D7-9

G7+

C9

F#75-

B7

Em

Poema

Quando te vi, a primeira sensação foi a de sorrir. Riso sem senso, meio doido, carente de nexo. Carinho de vento em brisa que menos confunde que aterrisa em solo fértil, lunar. Depois foi a cantiga que acarinhou todos os sonhos. Corrias em praia plena, maré baixa, areia dura boa de andar. Já não havia sorriso no olhar. Só um desejo profundo e sereno de amar. 

Filhas

Nunca quis filhos para mim! Esses estranhos seres, consequências do amor entre dois corpos que se desejam, brotam como água da fonte do amor que se insurge natural. A primeira palavra que me vem a cabeça quando penso em filho, ou filhas se acharem mais apropriado para meu caso, é independência. Sem medo de ter perdido a responsabilidade da paternidade, penso que consegui equilibrar muito bem as duas coisas. Me orgulho de ter construído uma relação de respeito mutuo entre nós. Sei que elas têm sérias reservas contra muitas das minhas opiniões e atitudes, assim como não concordo com outras tantas delas, mas a certeza de que não há caminho reto, e a vontade de construir uma sincera e justa relação, longe da hierarquia conservadora de respeito entre as gerações, me impulsiona ao completo e sereno entendimento com quem amo acima de tudo.

Saudade

Saudade da Paixão 

E do carinho

Do povo com pão

E com ninho. 

Saudade da festa

E do churrasco,

Sem arma na testa

Sem ranço de macho. 

Saudade da luz

Que brilhava de dia

Do calvário sem cruz

E da Democracia. 

Quanta vida perdida

Numa via de treva

Quanta vera esperança

Recolhida na selva. 

Saudade da arte

Que ilumina a verdade,

De jamais se entregar

A iniquidade. 

Saudade é assim,

Coisa que não se cultiva,

Mas que arde.

Grande Salto

Dia desses me acusaram de lulapetista. Mais satisfeito ficaria ser carimbado de esquerda caviar  Já não jovem o suficiente, de certo quase um idoso, segundo padrão socialmente estabelecido, pouco me extasia discursos inflamados e proposições que boiam entre o possível e o desejável. Não enxergo o retorno do Lula ao Planalto como solução a todos os problemas. Luis Inácio já mostrou que dança muito bem no baile do presidencialismo de coalizão. É óbvio que diante o atual desmonte da estrutura do Estado que se vem implantando, um retorno a esse sistema já será uma grande vitória. O presidencialismo de coalizão, também chamado PMDbismo por um cientista político que ouvi recentemente, vem promovendo pequenos avanços sem tocar na estrutura do problema. Entrestanto precisamos avançar mais, dar saltos maiores que nossas pernas, se quisermos viver em uma sociedade mais harmônica e pacífica. O primeiro desses saltos é uma Reforma Tributária que não será realizada por esse legislativo e tenho sérias dúvidas se Lula vai querer enfrentar os donos do poder. Por isso vejo nele um primeiro degrau que teremos que subir para ganhar altura e dar um grande salto lá na frente. Tomara que eu esteja errado e o Lulinha já não esteja tão assim paz e amor e decida se aposentar só após promover uma revolução nesse pais. Mas para isso ele precisaria de grande apoio popular. Idealizar um povo politicamente maduro e conhecedor de seus deveres e direitos é quase uma ilusão. Esperar que a educação seja suficiente para isso, é mais um discurso que um fato, quando vemos tantos países do dito capitalismo central, se renderem ao tal populismo de direita. Não simpatizo com o positivismo, renego qualquer espécie de idolatria, mas entendo, com muita angústia no pensar, que não podemos prescindir de grandes líderes. Nossa política foi invadida por pequenos e medíocres usurpadores. No momento estamos sendo governados por emendas ocultas patrocinadas por políticos sem nenhuma ideologia, interessados somente na manutenção de sua cadeira em Brasília. Mais importante que votar no Presidente é  escolher um bom Deputado e um ótimo Senador. Com um legislativo em letra minúscula como esse atual é impossível darmos aquele salto tão urgente. O melhor que conseguiremos é voltar ao presidencialismo de coalizão, embora seja óbvio que chegaremos mais rápido onde queremos com curtos passos para frente que com as largas passadas para trás dos últimos anos. 

Gordo

O dia hoje foi todo dedicado ao Gordo que adorava mandar beijos, que fazia Amor e não Guerra, que implorava que o Telê botasse um ponta, que vinha rápido quando alguém precisava do Capitão Gay, que não tinha vergonha de ser o que era na frente da própria mãe, que se insurgia contra os exploradores do trabalho dos necessitados. Entender as coisas que nascem do povo e ganham as ruas foi sua única e magnífica tarefa. Muito mais que humorista, Jô era um artista em tempo integral. Poucos conseguiram como ele se integrar tanto na vida das pessoas. Fazer sorrir era seu trabalho. Se misturar um pouco com cada um de nós foi seu sucesso. 

Improvável.

Um sorriso de criança

Me arrepia ate a 

Improvável alma. 

Do jovem

Pouco espero,

Já que fui um e 

Nunca deixei

De desconfiar

De mim.

Do velho

Só me sobra

Respeito, 

Mesmo sem entender

Direito o limite

Do existir

E o do fim.

Minhoca

A nuvem 

passou longe

Do desejo

E fez-se sonho

Nas coisas que

Se insistem ser.

Nos caminhos

sem fim que 

Nos habita,

Há passos 

Em falso que 

Só quem finge

De vero mesmo 

Acredita.

Correr para lá,

É inutelmente 

Verdadeiro, 

Quase que a coisa 

Igual a se entender 

No estar cá. 

O erro não 

É se querer

Entender,

Mas se esquecer

Da inutilidade

Do próprio ser. 

Avesso

Chorar quando preciso,

Sorrir sempre 

Que necessário. 

Não há chuva 

Que caia tanto 

Quanto dilúvio

Nem sol que queime

Mais que o todo

Poderoso deserto. 

Há cantiga 

Que nada acalanto,

E nuvem que passa

Sem deixar 

Algum espanto.

A gota de dor 

É uma questão 

Da flor que a 

Gente planta.

A lágrima pode 

Cair para o bem 

E por todo possível

Caminho de algo 

Que chamamos mal.

Ninguém sofre

Porque quer,

Mas ser feliz

É assim como 

Um respiro:

Acontece por

Simplesmente 

Ser o que é. 

Mancada da Bebel.

André Janones acusou que o atual antipresidente da República de sequestrar para si três grandes simbolos: a anti corrupção, a Religião e a Bandeira nacional. Quanto o primeiro ele já não engana quase mais ninguém. Como os evangélicos ainda estão em maioria a seu favor, parece que ainda  não perdeu as bençãos divinas, mesmo que suas atitudes estejam muito longe dos valores cristãos. Mas e a bandeira? Será que ele se embrulhou nela e ninguém mais consegue vestir? Ajuda muito a este suposto monopólio atitudes como a da não tão jovem Bebel Gilberto. Cena como a que ela protagonizou, pisando a bandeira em pleno palco, só serve para manter o verde amarelo, e acima de tudo o patriotismo, como patrimônio da orla bolsonarista. É claro que não podemos saber o que passou na cabeça da cantora naquele momento. Duvido muito que ela tenha um sincero desprezo pelas coisas do nosso e também dela país. Embora tenha nascido em Nova York, suspeito que ela também tenha a nacionalidade brasileira, mas isso vem pouco ao caso. Destratar a bandeira nacional é crime passível de pena, e ela deve ser intimada a prestar declarações sobre o ato e pagar por ele. Afinal desconhecer a lei não justifica seu desrespeito. Maior desfavor ela cometeu contra o movimento democrático, tanto da direita responsavel quanto da esquerda. O fato nada insignificante de ser sobrinha de quem é dá pano para manga aos apoiadores do capitão expulso do exército nacional por indisciplinado ato terrorista, a se indignarem com o ato e se vestirem de fiéis defensores da pátria contra a posição anti nacionalista, comunista e avermelhada dos que fazem oposição ao atual governo. O fato é que precisamos resgatar o verde amarelo para nossas fileiras, sem jamais abandonar a cor vibrante e apaixonada do nosso humano ❤️.

Espanto

Espantosamente falando, congrego bem mais com a idolatria ao sempre jovial Lula que ao resistentemente velho Messias. São duas figuras para se analisar com grande cautela e muito estudo e reflexão, coisas que do embalo desta rede não estou nem um pouco interessado em fazer. Fato é que ninguém pode ignorar a força que transcende dessas figuras políticas. A terceira via dos meus sonhos se encosta nas propostas do Janones, se reconhece nos arroubos do Ciro, e até simpatiza com a clareza propositária da Tebet, mas meu 💓 balança de vero é com a figura parcimoniosa do Haddad e mais ainda com a concretude revolucionária do Boulos. Compactuando contra a possibilidade da reeleição, desenho o futuro deste país com uma linha que se escreve assim: Lula-Hadadd-Boulos. E que todas as armas se calem!!!

Multiplicidade

Tirar conclusões simplórias sem nos inteirar da complexidade muitas vezes metafóricas dos fatos, nos leva a um entendimento passional dos acontecimentos da vida que nos rodeia. Entender o presente exige uma reflexão maior do que nossos interesses. Reduzir o mundo a uma simples luta do mal contra o bem, do belo ao invés do feio, nos mantém reféns do nosso próprio modo de querer e ver o mundo, descartando todas as inúmeras possibilidades de  encarar a vida em sua multiplicidade.

Amor Estranho

 Sou ansioso por natureza

(naturalmente). 

Nada consigo dizer

em menos de três frase: 

- Eu te amo.

- Eu te amo. 

- Eu te amo. 

Mas sei que tu: 

- nunca me entendeu, 

- não me entende,

- jamais me entenderá. 

A quem devo agradecer 

por tudo isso? 

Silêncio

 A última volta na chave e mergulho de cabeça no meu silêncio. 

- blim-bom. 

Vassoura na campainha. 

- trim 

Chute no telefone

- pililililim

Celular na parede

- prummm

Arranco interfone do fio. 

Ligo o som nas alturas. Deito na banheira e fico olhando a vida escorrer devagar pelo pulso que se apaga ligeiro. 

Fuga

Fingir e fugir

não moram perto,

mas dividem o condomínio.

Se fosse fácio

era só partir,

pular sem temer,

voar sem pensar.

Toda palavra vã

habita um desejo.

Execução

Se começar a me fazer cobranças, exigir-me tudo que poderia ter feito, correria o risco de me mandar matar, punir com sumária execução a minha vil mediocridade. 

Matéria

 Não tenho alma, sou a mais pura e insólita consequência da "vileza" do corpo. Toda entidade metafísica que me rondou a inconsciência ficou perdida nas circunvoluções de meu tecido cerebral. O que diferencia meu sentir do meu pensar é o sítio bioquímico em que foram fabricados. Tudo que transcende nasceu da deusa eterna da matéria.  

Somando.

Somo os anos e encontro um resultado que transcende qualquer matemática e toda a ciência. Um carinho tranquilo, pleno de doce e vero desejo, se insinua e vem me povoar a alma que nunca foi afeita a quietude, mas nunca fugiu do abraço verdadeiro, do beijo sem segundas intenções, do afago sincero dos que se sabem iguais na plenitude de cada um. Dois mais dois jamais será quatro para quem acredita no amor fraterno como forma de se descobrir parte de um todo. 

Paralisado

...

O melhor remédio

é parar. 

Parar de achar

e de procurar.

Parar de amar

e até de viver. 

Apenas ser, 

sem a obrigação 

de outro verbo. 

Ninho Vazio

Não foi de repente

Que se apagou

Todo brilho, 

Mas assim

Como um ladrão Paulatino

Que rouba ovo a ovo

Todo o ninho 

Do quintal sem muros

Que habita tão somente

A memória lembrança

De uma doce liberdade. 

Costuras

Prescindo da linha

que teceu Narciso, 

que selou todo o riso,

novelo que se quer sem fim. 

Cultivo o chão

que me pariu chorando,

me secou o pouco pranto

e se esqueceu de mim. 

Quais as costuras que 

não conhecem agulhas, 

as distâncias que se 

medem nas larguras, 

as certeza dos nãos

que sonham em ser 

singelos sins?  

Roupas já não 

me cabem. 

Deixei o guarda roupa 

para as traças.

Nem sei mais

onde plantei o 

meu jardim.  

Beijo Blue

O beijo Blue do mundo

se esconde por detrás

de uma tênue cortina

de cristalina luz. 

E é assim, 

entre a dor e o amor, 

perdidos na sombra, 

ou ao embalo da cruz, 

que tombamos para frente, 

hora de branco, 

outra de negro, 

no ritmo incerto 

da vida que nos traduz. 

Tempos Difíceis.

Muito se ouve e se reclama de um retrocesso sócio cultural que assola os tempos atuais. E que o proclamado pensamento progressista estaria em risco. Mesmo que me alinhe com as pessoas que assim pensam, tenho minhas arguições sobre essa maneira de analisar o nosso momento histórico. Primeiramente não simpatizo com a ideia de progresso. Mesmo porque ela é um tanto elitista e contra a filosofia evolucionista que prega uma mudança em nome da sobrevivência e não do melhor, conceito tão relativo quanto o de belo. Penso que a sociedade humana (para não usar o masculino homem como substantivo da espécie) está em constante mudança, e que apesar do sinuoso caminho, ela se dirige para a valorização do direito individual associado a um necessário dever coletivo, tudo somado por pura obrigação de subsistência. A ideia conservadora é majoritária tanto pela lei da inércia quanto porque faz concessões a pequenas e paulatinas mudanças. Estas mudanças incomodam mesmo e de verdade aos que se engessam numa moralidade imutável e inquestionável. Os mesmos que batem em mulher, atiram para todos os lados, ofendem e agridem os que lhes parecem diferentes. Por isso acredito que não há uma involução dos valores ético-morais e sim uma tentativa fadada ao fracasso daqueles que se enraizaram na ideia de que são os guardiões da verdade. E viva a vida de todas as cores e de todos os amores. 

Guerra

A última chama se apagou, e do sol do meio-dia não restou sequer sombra, talvez uma réstia de luz, resquício de esperança, caco de sonho da última criança que nasceu descrente da paz e sob o signo da indiferença. 

Oco

Maneiras de amar tem uma só: amando. Não basta falar, quase vale nada sentir, se não for de verdade, olho dentro do oco, lágrima sobre a saliva, mania de se misturar a dor com o querer sem poder. E assim caminha quem quer ser bem maior do que se pode, sabedor que o destino não pertence a uma mera possibilidade, mas a um todo e incompreensível calor que nos acolhe e nos faz único.

Mergulho

A morte me aguarda 

Escondida num 

Mar imenso de vida 

Pouco importa a

Profundidade

Do mergulho

E sim a delícia

Do corpo imerso

Na água que nos

Possui e nos chama. 

Polis

Não sei se já hora de falar de política, da maneira direta que se costuma falar, pois para mim, falar sobre a vida em comum, é se entranhar na política. Mas deixo a divagação sofismática para me embrenhar na realidade nossa de cada dia, sem medo ou arremedo de dor. É óbvia a necessidade de nos livrarmos da excrecência que nos aflige os três últimos anos e poucos meses. Se errar é humano, persistir no engano é mero exercício de suicídio social. Mais que uma vitória do Lula no primeiro turno, sonho com um segundo turno sem a figura espúria do ignóbil capitão expulso das forças armadas. Sinal de amadurecimento social do nosso povo. A experiência dos quase sessenta anos nos couros que me assola, me faz entender que de vinte a trinta entre cem habitantes deste lindo e triste pais consideram a vida social como mero parque onde eles podem brincar sem nenhum pudor. Maneira alguma pretendo demovê-los de seu pensamento. Insulto-os, mesmo sem esperança, a tão somente uma reflexão democrática. Ninguém tem mais o direito de ter medo de ser feliz. 

 

Gil Bosco

Grão em Drão

A gente colhe 

Sonho por sonho.

E nem escolhe

O que plantar

No terreno fértil

Do afeto e 

Da ternura. 

Chora sem dor

A Maria que se 

Queria Clarisse,

A esperança que

Podia ser sobrinha

Do louco equilibrista

Que sonhava germinar

Mesmo em vil ditadura. 

Quem sou eu?

Libertar-se de si mesmo é condição indispensável para se imiscuir no mundo e entender o espantoso conceito de humanidade. Acumulamos todo um arcabouço de ideias e verdades que nos aprisiona e imbute preconceitos que nos ofusca a compreensão da realidade como uma só. A expansão das possibilidades de trocas de experiências humanas nos permite tanto a aceitação do diferente quanto a sua quase completa rejeição. Tenho sérias dúvidas quanto ao futuro do humano como espécie; na verdade me volto mais para o lado pessimista dessa história. Mesmo assim não me permito deixar de sonhar com uma unidade orgânica e funcional de nos entender, coisa que só será possível quando relativarmos a significação do Eu. 

Lágrima

Encontrei a solidão

No canto de um quarto

Escuro e vazio. 

Chorava baixinho

Quase sem 

Machucar o ar.

Cheguei de mansinho

E perguntei por onde 

Andava o seu par.

Enxugou a única 

Lágrima e disse

Que ele sonhava 

Outro sonho,

Em outro tempo,

E nenhum lugar. 

Jardim Menino

Uma criança 

Sorriu no meu jardim. 

Não foi uma flor, 

Um gato ou

Ou um passarim.

Foi um menino

Encarnado,

De rosto sorriso

Passado, 

De braço bem mais 

Que agarrado com a

Vida que lhe devia.

Mas mesmo assim 

Ele sorria,

Pois mais do que tudo

Sabia que nenhum 

Mal lhe podia

Tirar do rosto 

A alegria que 

Tão bem e só

Lhe cabia. 

Meu Tempo

Meu tempo 

É hoje

Até o dia 

Que a Morte

Me levar, 

Quando serei 

Ontem na 

Saudade que 

Luto a todo 

Instante 

Para deixar. 

Valantine

Viver enamorado com a Amada e com o Mundo é mais que uma questão de bem estar, nada que se agradeça a pura  sorte, mas algo cultivado em prol de cada grão. Não é mera escolha, muito menos resignação. É mais como por-se a boiar no mar do improvável, se deixar levar pela maré da pouca dor. Porque amar sem senões é se perder no mundo dos sonhos, desconhecer a realidade dos diversos cheiros que os infindos recantos da pele exala. Amar é a mais pura realização de qualquer inocente desejo, é saber que somos um só na unidade que nos cala. 

Chulé

...

Escuta,

Vou te contar 

Um segredo:

Bem melhor 

Viver com medo

Que não temer 

Ficar só. 

Todo chulé 

Pede um pé, 

Por isso se 

Troca a meia,

Mas se a sala 

Está cheia, 

Só se sente 

O que se quer.

Sem segredo

Não creio na felicidade, mas me conformo com a realidade de uma vida que pode se extinguir sem medo, dor ou anseio, algo bem distinto da vontade, mistério que não pede segredo. Viver assim sem desejo, sem missão de ser mais feliz não seria impróprio, não fosse a ilusória pretensão de ser imprescindível para quem ficará além de mim. Vem-me agora as palavras de meu agonizante pai. Revela ele não a dor da própria morte, mas a que deixaria e deixou entre nós. 

Era o que era.

O amor 

Quando foi feito

Não tinha tamanho ,

Nenhum defeito.

Bicho solto 

Era o que era,

Largado de qualquer jeito,

Coisa mera e vadia,

Era o que era 

E dizia 

O amor quando

Foi feito. 

Sonho ( Texto publicado na Antologia Sobrames 2022)

Um sonho nasceu

Meio sem jeito, 

Tal um desejo

Sem pretensão

De eternidade. 

Lampejo de luz, 

Réstia de carinho

Que se insinua 

Entre o real e a

Mais duvidosa

Verdade. 

Fugir ao destino

É se fingir de morto,

Cochilar do que se quer

Com quase nenhuma 

Tola vontade. 

Naquele instante

Onde o tempo

Se mistura com o

Infinito e o que há de feio 

Se mistura com o bonito. 

Tempo sem hora 

Nem instante.

Sou tão seu, 

Quanto você é tão 

Somente eu. 

Espaço que não 

se pertence, 

Motivo que a ninguém 

Convence. 

Cantiga de amor

Que consola a gente, 

Mas que deixa marcas 

Que não se consegue 

Esquecer. 

Manias de querer , 

Manias de sentir,

Manchas de sonhos

Máculas sem dor

Do que custou ser. 

Humberto

Me escondo.

Não consigo chorar

Em público 

Por quem teve a vida

Como única, definitiva

E divertida oportunidade

De se expressar contra 

Um mundo que se quer

Desumano.

Se eu pudesse falar

Com ele era só para 

Agradecer por todos

Os deslumbramentos, 

Cada instante em que se dar

Era tão o mesmo que receber. 

Que calar era tão precioso

Quanto ouvir.

Entre uma lágrima e outra

Busco a força na saudade,

De quem sonhou com a vontade

De viver num mundo feliz. 

Cuecas ( texto publicado Antologia Sobrames 2022)

Meteu duas cuecas num saco azul de mercantil e se diluiu na independência. Certezas quase nenhuma, só a arrogância de assumir do que era acusado: egoísta. Qualquer acordo é melhor que uma grande causa. Mais digno aceitar o texto acusatório que tentar se defender com argumentos que ninguém quer ouvir. Deixou o cartão de crédito sobre a mesa da sala. Tinha a convicção de que nada no futuro lhe pertencia ou esperava. Talvez com um pouco de sorte, a noite parasse de chover e um prato de sopa fria espantasse o buraco da fome que sentiria na madrugada. Seguiu com um sorriso ensimesmado nos lábios, reflexo da dor de não se sentir compreendido, mas também com a sincera dúvida se tinha ou não razão. Mas pensando bem, quem escapava incólume da loucura? Quem podia se declarar perfeitamente são e certo? Caiu sem querer num buraco na calçada e ficou indolente à espera da ambulância do SAMU. Talvez encontrasse compaixão em quem era pago para tê-la. Mas já era tarde demais e a ferida não era tão grande assim. Voltou sem desejo ou culpa ao ponto de partida e se calou para o que sobrou de sua ilusão. 

Vela de Aniversário

Não tenho medo nem vontade de morrer, mas também  nenhum amor singular pela vida. Será que posso parar de respirar sem dor? Não trago dúvidas quanto ao próximo passo. Sei que ele será dado, numa direção qualquer, sem sentido definido. Certo é que não será em falso, apenas um pé na frente do outro. Simples como um sopro na vela do próximo aniversário.

Ninho

Sentar no 

Lugar de sempre.

Desconhecer 

A possibilidade

Da escolha.

Saber que há 

Canto e lugar

Para a paz 

E existência. 

Tatear a escuridão 

Do mundo iluminado

De olhos fechados,

Com domínio inconsciente

Do seu espaço. 

Confundir 

O lá com o acolá,

Ambos sinônimos 

Na mesma verdade 

Colher o fruto 

Que plantei outrora

Com o gosto doce

Que nunca vai embora. 

Dor

A intempestividade da dor nos consome a força e o juízo. 

Daí a beleza que vem do não querer morrer sozinho.

Dia

No dia que eu cresci achei que o mundo era meu, e tudo que via na frente era a concretude do desejo que consumia meus sonhos. O dia quando eu cresci, assim mesmo, sem data certa no calendário, sem um simples X riscando um número qualquer entre outros trinta, um pedaço de tempo pedindo para se perpetuar  num imenso instante, ficou perdido na memória para se eternizar nesse lapso de glória, onde me escondo, entre a dor e o riso, pleno de culpa, carente de perdão, caminhante sem pé, pedinte sem mão, sugando o pouco, o mínimo preciso. Porque no dia que eu crescer não será em vão, mas o fim de tudo que nunca imaginei, a eternidade com que jamais sonhei. Será o encontro de todos os infinitos, a mistura sem desejo do feio com o bonito, a luta sem dor contra tudo que sequer acredito. 

Meditação

Reflita. Não se iluda com a clareza estampada na superfície das águas. Um pequeno mergulho já mostra a diversidade dos interesses, e se ousar um pouco mais e aumentar o tamanho da lente, verá que a complexidade é tão grande que lhe engole qual cril na boca de uma baleia. E se você se questionar da necessidade de complicar o que parece fácil, a resposta virá com a força da paixão do entendimento, com a limpidez do poder se imiscuir sem dor, e com quase nenhuma culpa, no oceano que tanto nos banha quanto habita. 

Água Fria

Frustrações, como não tê-las? Não aceitar faz parte do universo dos psicopatas. E são tantos que até corremos o risco de ser um deles sem saber. Penso estar entre os que preferem ser vítima a ser carrasco, mas tudo é uma questão de julgamento, e nunca somos juízes honestos de nós mesmos. O impulso de projetar a culpa no outro lado do espelho é tão natural quanto procurar um lugar isolado para se espojar do indesejável que há em nós. Não há virtude ética em amar o outro que não nos incomoda, e descontruir o inimigo é tão natural quanto matar a sede com um copo cheio de água fria. A barra do dia tá nem aí para a noite mal dormida cheia de preocupações que insistimos em cultivar e o sol temporariamente vai se pôr independente do nosso desejo de infinita felicidade. 

Eternidade

No melhor e mais sincero reconhecimento do egoísmo que me habita e contra quem luto com as mais débeis armas que possuo, declaro minha admiração pela independência. O sete de setembro nunca me encantou pela escancarada desverdade que o quadro de dimensões monumentais não consegue mascarar, mesmo sem perder a potência artística que faço questão de ver ao vivo após a reinauguração do Museu do Ipiranga. Se foi "Independência ou Morte" ou "Essa Intendência é de Morte" pouco já não importa duzentos anos depois do fato consumado. Nada mais constrangedor e inconsistente que a certeza do domínio da própria vontade e da materialidade do livre arbítrio. No dilema entre a liberdade e a igualdade ninguém se entende entre o querer e o doar. Se há muito perdi a fé no conceito de humanidade, cada dia me convenço da inconsistência de uma espécie que "se acha filha de Deus". Não há dúvidas de que os melhores momentos são os em que nos descobrimos únicos e suficientes. Enquanto o vento espantar meu suor para longe de minha pele e o horizonte conseguir me instigar o desejo do pleno infinito, vou de gole em gole resistindo ao impulso de me lançar ao vão da eternidade. 

Adeus

Não há como negar que foi bom. A ideia da possibilidade do impossível soaria tão falsa, quanto indesejável. Foi o que deu até onde deu para ser. Olhando para o antes, dá para entender que nada  existirá menos em um amanhã sem mim. O universo é tão meu quanto da formiga que esmaguei sem querer, enquanto caminhava olhando a nuvem que se fez chuva bem longe de um último e frio Verão.  

Empurrão

Tenho um prin(ecipício)cípio:

O direito é inconteste, 

Até à egolatria.

Basta um empurrãozinho

E a vida segue viva

Noite que vira dia. 

Muitas Mães

Mães, pensando bem,

É uma só. 

Aquela que chora escondida

É a mesma que vive a sorrir.

Se entende mais de se doar,

É certo que precisa pedir.

A perdida nos sonhos

Pisa firme na realidade.

Pois mãe é uma só,

Não tem forma nem idade.

Mãe são muitas 

Em uma só.

Conhecem os desejos,

Julgam plenas de dó.

Justiça e perdão 

Atados num único nó. 

Mãe é a unidade

Que corrompe o universo 

Do que se quer.

É o desejo incontrolável

Ao retorno do aconchego

Do calor da primeira mulher. 

Amigos

Amigos são metais

Preciosos que 

Se medem 

Pelo ouro. 

Não têm peso, 

Pois são leve 

E suaves como

O mais fino couro. 

Riem fácil

De qualquer besteira.

Tocam a música 

Que a gente gosta,

Contam as histórias

Que precisamos

Ouvir. 

Um abraço só

Não abarca sua 

Amplidão, 

Mas serve tão somente

Para nos unir 

O coração. 

Anunciação

Crônica de uma Crise Anunciada. 

Muito se fala de "Amor nos Tempos do Cólera" ou de "Cem Anos de Solidão", mas para mim a melhor obra do Imortal Garcia Marques é "Crônica de Uma Morte Anunciada". Tento esquecê-lo na estante, mas me é incontrolável o retorno a está obra que resume e retrata quase tudo que teimamos em reviver em verdadeiro moto continuo, dia após dia, ano a ano, década atrás de decada. E por que teimamos em aceitar uma realidade que já era certa no passado? Quando todos os elementos se somam e se projetam declaradamente em determinado rumo, parece ser inexplicável como nenhum dos atores do palco tome posição contra o próximo e fatídico ato. O crescente desmantelamento do serviço público  pediátrico não poderia dar em outra coisa senão o caos. A entrega de grande parte nas mãos das Organizações Sociais, resultado da suposta e insistentemente propalada incompetência do setor público para cuidar de quase tudo, incluindo a saúde, ainda não carimbou resultados. Quem como eu há trinta anos convive com a dita burocracia pública, não constata diferença quando imiscuido no universo das OSs. Os Pediatras foram "expulsos" dos Postos de Saúde. Os serviços de emergência pediátrico, mesmo os privados, foram aos poucos desaparecendo por declarada inviabilidade econômica, e nas Upas a pediatria foi entregue nas mãos de médicos sem a especialização necessária - é claro que há exceções. Como Gabriel, um outro Anjo da Anunciação, prevejo tempos difíceis para a nossa luta pelos pequenos. Os antibióticos começam a se mostrar incompetentes para vencer as resistentes bactérias já acostumadas ao tanto que se usa indiscriminadamente. A cobertura vacinal sofre pavorosa retração diante da desinformação baseada no achismo e na falsa liberdade de opinião e de direito individual. A pediatria está perdendo a poesia para se entregar ao tecnocracismo, ao mundo dos exames mandatórios. Deixamos de escutar e auscultar para ver através dos perigosos raios X. É óbvio que a tecnologia veio para nos ajudar, mas não para nos tornar reféns dela, muito menos para conspurcar os inocentes corpos. Volto vinte anos atrás e me vejo prevendo tudo isso. Não me absolvo com o argumento de ter tentado lutar contra a tragédia anunciada. Santiago Nassar não poderia ser salvo, apesar de ninguém ter desejado sua morte. 

Encontros

Cacos de gotas,

De chuvas 

E de Chivas.

De cervas e nervos.

De contos 

E inúmeros cantos,

Que se fossem 

Possíveis, fugiriam 

Para o improvável 

De tantos e inúmeros 

Encontros.

Pisada

Exercito o silêncio

Dando preferência ao ouvir,

Não para entender 

Ou julgar, simplesmente 

Para vislumbrar e 

Quase me espantar

Com a maravilhosa 

Diversidade dos seres 

Humanos ou sobrenaturais. 

Deuses me encantam 

Tanto quanto a formiga 

Que esmago numa 

Pisada sem dó.

Indolor

Não sinto a dor

Pela perda do que quis.

Sofro com a perda

Do amor que não colhi. 

Stars Me to the Moon

Stars me to the moon

Cause the cause de lá chose

São tão Full and close

That no há quem se 

Intercept between a luz

E a mera pose. 

Crente ou Ateu?

Não sei se sou um ateu em busca incansável de Deus ou um crente rebelde com mais dúvidas que esta. O que sei é que não quero chegar a nenhuma conclusão. Nada mais chato que um pretenso sábio.