quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

2021

Uma incerta melancolia se insinua pelas voltas e dobras de minha frágil razão nos dias que antecedem cada ano por vir. Tento reagir com o já declarado pouco entendimento do real, me convencer que pouco ou nada mudará após a meia noite de hoje, mas os símbolos estampados nos semblantes dos outros, nas ruas já não tão cheias (diferente dos super mercados lotados de gente buscando a esperança na ilusão de uma mesa farta e de uma cabeça entorpecida de álcool), me conduzem a mais uma dúvida que se somará às tantas que colhi ao longo de dezenas de Réveillons. Desconhecer o futuro é fonte e estímulo infinito para nossos sonhos, e se fosse preciso nos resumir, seria muito fácil nos explicar como sonhadores afeitos a composição ficcional muito alheia a dura certeza da mortalidade. Mas não é hora de se entregar a divagações pessimistas e sim de celebrarmos a nossa humanidade. Lutar pelo simples direito de ser gente e de gozar todas as maravilhosas emoções que a vida tem para nos brindar é o que nos põe em movimento, é palpar o sonho que ousamos pretender realizar, é assistir a flor que brota iluminada no meio do mais escuro pântano. Que venha um glorioso 2021, não custa nada imaginar. 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Desumanização

Mais que o futuro ecológico do planeta, o que está em jogo e questão é o processo civilizatório da humanização. Quando o pensamento critico e o exercício imperativo da razão se quis ser mais real do que a ideação mágica, experimentamos mudanças estruturais na economia e na vida social que nenhuma era histórica anterior contou. O humanismo e seu filho predileto, o liberalismo, se insurgiram contra o servilismo e trouxeram a esperança de um mundo para todos. Do Renascimento até o Pós Guerra, o neto bastardo de Adam Smith viveu altos e baixos. Depois de sua última crise de identidade, o Capitalismo, irmão gêmeo da fênix, vê no questionamento de seus ancestrais, a cura para sua doença terminal. De posse da poderosa arma da mídia e da propaganda subliminar, ele tenta desacreditar a própria humanidade. Como crer numa humanidade que resgata valores outrora banidos da mera possibilidade como a tortura? Que homens são esses que matam mulheres que simplesmente escolheram outro destino longe do deles? Como não se insurgir contra a liberação irresponsável de armas? Que pensar de uma sociedade que renega os avanços dos direitos de negros e índios? É difícil entender direito o que estamos assistindo. Quero acreditar que seja os últimos estrebuchamentos de uma pequena porção de "entidades" que insistem em manter sua suposta superioridade e não um retorno a uma era de mera desumanização.  

Verso Torto

 

Minha vida

É um verso torto:

Quando alegre, me calo,

Mas se estou triste, explodo.

 

Se tenho febre

Congelo,

Mas se esfrio

Me queimo.

 

Quando eu amo

Machuco,

Mas se odeio,

Me entrego.

 

25.02.06 

Ternura

 

Meu amor é leve,

Carga sem remorso.

Não me balança o coração

Nem me atormenta a alma.

 

Meu amor é terno

Como teu olhar,

Límpido como teu sorriso,

Tem a graça dos teus passos.

 

Senta do meu lado

E me envolve

Com tua voz doce.

 

Entra no meu sono

E me enlouquece

Com teu cheiro.

 

Vem brincar comigo.

Pega a minha mão.

Chama-me de amigo

Beija-me como a um irmão. 

 

06.02.06 

Quadra Para Quem se Ama

 

Pega na minha mão

vou te levar pra escola.

Princesa do meu coração,

cuidar de ti não tem hora.

 

14.09.06

 

 

Perdão

 

Bati na porta do tempo

que não pôde me atender.

“Estou ocupado com o espaço,

que chegou antes docê”.

 

Perdi a hora e o rumo,

caí noutra dimensão,

dono do meu próprio mundo,

bicho livre, sem razão.

 

Abandonado pelos deuses

senti pesar a solidão.

Me vi carente de desejos

 

Sem pensar, sem coração.

Senti falta de teus beijos.

Voltei e te peço perdão.

 

13.09.06

 

 

Maria Menina

  

Te vejo menina

De noite, de dia

Espalhando magia

Que mais ninguém tem

 

Te vejo Maria

Mimosa, faceira

De mão na cadeira

Num eterno vai e vem

 

Te quero menina

De toda maneira

Sem dom e sem beira

Sem nenhum vintém.

 

Te quero Maria

A noite inteira

Em tua pele trigueira

Fugir pro além.

 

22.05.09

 

Dúvida

 

Algo resgatará

minha alma

quando meu corpo

encontrar o solo frio?

 

Se soubesse a resposta,

não teria medo

de pular desta janela,

nem a de encarar

a face severa de Deus.

 

13.07.06

 

 

Carinho

Toque suave do amor,

ar que alimenta a chama,

gota que mata o calor.


Vinho que desperta o desejo,

vertigem que serena a dor.

 

Prenda-me com teu olhar,

me aperta de leve a mão,

geme coladinho ao meu ouvido

e segue sorrindo teu caminho.

 

Deixa-me somente a lembrança,

que a noite eu sonho contigo. 

 

22.08.06

Cantiga Contigo

Cantiga de ninar.

Contigo sonho desde o berço.

 

Cantiga de dançar.

Contigo viro o mundo pelo avesso.

 

Cantiga de cantar.

Contigo aprendi a fazer verso.

 

Cantiga de chorar.

Contigo morro sorrindo de remorso.

 

22.08.06

Esquecer-se

As ideias correm

Soltas na cabeça.


O tempo é curto

Demais para mim.


Seria bom fechar

Os olhos e ver

Deus distribuindo

Respostas sinceras.

 

Seria bom parar

De pensar e mergulhar

Num mar de rosas

Perfumadas e frias.


Olhar o mar e me

Descobrir peixe.


Levantar a cabeça

E sair voando.


A vida tem duas portas:

Depois de entrar por uma

Ter de deixá-la por outra.

Depois de aprender a amar

Descobrir que tenho

Que esquecer e ser esquecido.

 

2007

 

sábado, 26 de dezembro de 2020

Triste

As lágrimas
Que choro se
Mesclam com
Tal e tantas
Que de tão intensas
Se perdem no tempo
Num total 
Desentendimento pela
Tonalidade da dor
que a ninguém 
Interessa,
Muito menos
A mim.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Sorria

Sorria,
Voce não está perdido, 
Muito menos sozinho.
Talvez um pouco confuso
Por não saber onde e como
Derramar o amor que 
Insiste em se insinuar,
E mostrar o quanto 
são queridos
Aqueles com quem 
Você queria tanto poder 
Simplesmente colar
Peito com peito e dizer:
"Eu me importo contigo".

Não há solidão que
Seja maior que a vontade 
Pura e simples de amar. 

Nascer a cada dia 
É a sina de quem está 
Sempre a procura de 
Respostas impossíveis. 

Mesmo assim sorria, 
Porque nada mais 
Contagioso que um 
Sincero sorriso. 

Não temas as caras 
Frias e carancudas. 
São exato elas que 
Mais precisam de sua 
Vontade de lhes entender 
a dor que escondem. 

Por isso sorria.
Ninguem está condenado
A ser sozinho. 
E se tudo parece difícil, 
É porque está mesmo,
Não adianta se enganar. 

É na grande incerteza 
Que habita o poderoso 
Motor da reinvenção,
Do querer fazer diferente, 
Do ousar dar o pulo 
Que vencerá o abismo 
Do marasmo aceitar.

Mas se estiver mesmo
Impossível, bota uma 
Música para tocar, aquela
Que mais te faz chorar.
A que te lembra de um amor 
Perdido, de um familiar 
Que te deixou para sempre, 
E te deixa entregar ao 
Inconsolável pranto da dor 
Sem remédio. 

Quando a ultima lágrima 
Rolar pelo teu rosto e 
Você jogar fora o lenço
Que a enxugou, perceberá
Que tudo passa, menos a 
Infinita possibilidade 
de um sorriso. 

Abraço de Natal

Onde ficou, 
Perdido nas veias
Desse ano doido,
O abraço que pedi? 

As mãos se recolheram,
Os braços se intimidaram,
Os rostos mantiveram 
A devida distância 
Exigida pela responsabilidade
Com o outro. 

O dia mais lindo do ano
Ficou estranho sem a
Intimidade que sempre o 
Temperou de emoção. 

Sim, somos eminentemente
Seres abandonados e 
Entregues a mais terna e
Louca ditadura do sentir.

Por isso ficou
Quase impossível 
Arrancar um consolo 
Para tão estranha realidade.

O abraço que pedi 
Teve que se transformar
Em sonho virtual de 
Entes unidos por algo
Bem maior que a mera
Presença física. 

O abraço ficou menos 
Apertado, mas ganhou 
Um significado que 
Transcende a matéria.

O abraço que eu pedi,
Papai Noel me deu 
Em forma de enorme esperança 
De um mundo diferente e melhor. 

E se alguém rir de mim,
E disser que Noel não existe,
Vou sorrir por detrás de 
Minha máscara e sonhar 
Com dias de melhor
Inocência. 

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Cada Tanto

 

Tanta coisa

Tanto tudo

Tanto nada

Absurdo

 

Cada coisa

Cada nada

Cada qual

Na sua parada.

 

Tudo quanto

Se conquista

Vale pouco

Pago a vista.

 

Tudo quanto

O olho avista

Tudo louco

Vigarista.

 

Cada muito

Que um ganha

Cresce o tanto

Que apanha

 

Cada pouco

Que se esquece

Perde o homem

Ganha a prece.

 

10.10.09

O Tempo que me Resta

 

Quanto tempo ainda me resta.

Quantos passos até a eternidade.

Quantos sonhos por viver.

Quanta procura inútil pela verdade.

Quantos sorrisos para distrair.

Quantos abraços para consolar.

Quantos beijos a distribuir.

Quanto prazer a gozar

 

Nosso tempo é questão de quantidade.

Os verbos são de fácil rimar.

A vida tem uma só realidade:

Nascer, aprender e se doar.

30.04.09

 

sábado, 19 de dezembro de 2020

Páginas em Branco

 

Páginas em branco

Não deveriam existir.

É que nem uma vida

Sem amar, só fingir.

 

Elas pedem o carinho

Da caneta a escrever

Tal qual faz

Minha boca

Quando quer beijar você.

Uns e Outros

 

O Um quis saber

Do Outro

O que eles tinham

Em comum.

 

Cada qual

É Um no outro.

Cada qual

Outro pro Um.

 

Não sou Outro

E Um não seria

Se amanhã

Nascesse o dia

E não restasse nenhum.

 

30.11.11

Tempo Deus

 

Serenamente

Adormeço nos braços

Do deus tempo.

Senhor que governa

Indiferente,

Alheio ao bem e ao mal.

Professor que ensina:

Lutar pelo incerto

É quase obrigação;

Esperar

Pelo impossível

É viver a um passo da loucura.

21.12.11

Fb

 

Sim, Não e Talvez

 

Três mundos há

Que pouco se confundem,

Mas se complementam

E até mesmo se revezam.

 

O mundo do sim:

Confortável,

Mas aborrecido.

 

O mundo do não:

Frustrante,

Mas honesto.

 

E o mundo do talvez:

Melhor nem falar

Desse infame.

 

30.11.11

 

Vacinas

Há alguns e não poucos anos, percorrendo os corredores do Hospital São José de Doenças Infecciosas, fui amargamente apresentado a uma enfermaria ampla, com vários leitos, dividida por crianças queimando de febre e pintadas por bolinhas vermelhas. Sim, o Sarampo era mal para além de comum, não um caso inusitado vindo de outras paragens onde o sistema vacinal não é tão bom como o brasileiro. O General Ministro da Saúde reconhece o que muitos patricios negam ou querem fechar os olhos para não ver, fundamentados tão somente na cega fé em seu mito salvador: mesmo sendo um país de segunda ordem, temos um sistema vacinal de primeiro mundo. As vacinas mudaram e mudam a realidade de inúmeros males que afligem a humanidade desde passadas eras. Meus pais me contavam que tiveram Varíola na infância, doença que só conheci nos livros. Os agentes de indução ativa de imunidade recontam a história das pneumonias e meningites de minha rotina médica. A Pediatria tem no calendário vacinal um dos pilares indissociaveis da boa prática diária. Negar o valor das vacinas é retroceder em muito nas conquistas que a ciência médica promoveu pela saúde do ente vivo. Mas tudo bem! Quem não quiser tomar a vacina que vá para nem sei onde. Para a China não dá, já na terra vermelha dos olhos apertados, a vacina é obrigação social. Difícil encontrar um lugar que não sonhe com uma devida imunização. Mas não percam as esperanças. Enterrem que nem Avestruz a cabeça no buraco da ignorância e rezem para tudo dar certo. 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Solidão

Quais os riscos a que estamos sujeitos pelo continuo isolamento? Cruzoe enfrentou todos e uns mais, e sobreviveu para contar a história, pela qual Defoe ainda faturou uns trocados. Ouço muitos falarem que estão ficando loucos, estressados e até desesperados. Quer saber: não acredito!!! É certo que precisamos dos amigos e do trabalho para nos realizar. Mas amigos ligam para os outros, conversam por vídeo, trocam sugestões e informações e compartilham músicas favoritas. O contato pode ficar até bem maior que o de antes. O que muda é a seleção da companhia, ou alguém descobriu a fórmula de conversar e se imiscuir com os facistas que saíram do armário e se exibem orgulhosos de seus preconceitos e ideias reacionárias? 

É só isso ai!

A percepção de meu parco entendimento é de que estou imerso mais num mundo de possibilidades do que de vera realidade. Ao assistir o desenibido discurso reacionário de mentes consideravelmente brilhantes me invade a incerteza em minhas tão próprias ideias de mundo, e um trisco de dúvida quer me se insinuar na fé que teimo em ter no alheio pensar.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Faminto

Quando nasci, o carneiro reinava nos céus do sul que encobria a casa de meus pais. Os cincos longos anos, sem o choro inquieto de menino novo, se encheram de luz com a chegada do mim que sou eu. Já nasci faminto. Um chá doce de erva doce me arrefeceu a fome de peito, e de amor, e de afeto, e de constante atenção que alimento até hoje. Sou um faminto!!! 
Vieram depois anos de parcimonioso fartura, quando o necessário bastava e ninguém sentia falta do que não tinha. O quintal repleto de frutas, a feira na sexta do bairro, o homem do fígado, o frango assado de todo sagrado domingo, os amigos da rua, os primos, as aventuras imaginárias de toda e qualquer meninice. Com a adolescência vieram os amores. Ah os amores!!!! Impossível enumera-los. De concreto quase nenhuma. Coisas de menino que nunca quis crescer. 

Começo

 

Sei que vou

Morrer

Mais tarde do que mereço.

 

Chorar a solidão

De dentro

Do berço.

 

Carente

De sorriso

Rezando

Um terço.

 

Porque

Tudo tem o fim,

De um tão incerto

Começo.

 

17.12.11

Bipolar

 

Vivo dividido

Entre dois mundos.

Um que não me quer

E outro que renego.

 

Quando eu grito

Fingem-se de surdos.

Quando pedem minha atenção

Brinco de ser cego.

 

2011

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Casa Caverna

 A casa é o máximo refúgio onde se é tudo e ao mesmo tempo ninguém. É no espaço privado que revelamos o nosso melhor e autêntico eu, não temos que negar ou doar, mas somente ser o que queremos ou pensamos que devemos ser. A casa é a prisão voluntária - trazemos sua chave no bolso – e também o castelo onde reinamos esquecidos e ausentes de um mundo supostamente real. Durante esse ano nunca foi tão comum encontramo-nos em casa. Fechar a porta na sexta a tarde e só abri-la na segunda pela manhã. Ligar para o amigo dos bares de outrora e descobri-lo sereno e sozinho com seu copo de cerveja na mão, ouvindo sua música preferida e esperando ansioso pela nossa ligação. As vezes dá uma agonia, e ansiamos por respirar o ar impuro da rua, ouvir vozes ruidosas de outras gentes, olhar para o lixo que se acumula nas esquinas que viraram entulho do que ninguém mais quer. A casa virou nosso cinema da quarta a noite, nosso happy hour de toda sexta, nosso futebol do Sábado a tarde e o restaurante do Domingo em família. Pode até parecer estranho, mas o fato é que finalmente voltamos a nossa caverna, onde nos protegemos das intempéries do tempo e dos bichos papões que sempre alimentaram nossos medos e aterrorizaram nossos sonhos. O inusitado do nosso momento é o tamanho do nosso inimigo de hoje, infinitamente minúsculo e paradoxalmente tão temível. Ficar em casa e longe da invisível e mortal partícula viral virou uma missão nada impossível, para quem consegue conviver consigo mesmo e entende que não estamos sozinhos no mundo. 

Bom Senso?

Sempre tive desassossego por qualquer tipo de atividade burocrática, embora reconheça que as normas escritas são tão essenciais quanto as não registradas no impessoal papel. A burocracia da lei é a forma mais segura e democrática de se estabelecer a normatização do que é permitido ou não em uma sociedade. Infelizmente, como quase tudo na vida, possui efeitos colaterais, especialmente quando se erra na dose. As normas consuetudinárias, não definidas em lei,  refletem a cultura e os valores éticos e morais da sociedade, e mudam conforme os ventos e realidades históricas. Dito isso, venho aqui revelar que um dia já fui chefe do meu serviço. Como homem de ação, investia quase todo meu empenho na atividade prática do setor sob minha responsabilidade e condenava a segundo plano os atos que se resumiam a caneta e papel, fato que me fez cometer confessados erros que fiz questão de pagar antes que os juros ficassem exorbitantes e impagáveis. O que menos gostava eram das reuniões com a Direção e os Chefes dos outros setores. Embora a Diretora fosse minha colega e muito minha amiga pessoal, nunca suportei sem impaciência sua prolixidade no encaminhamento das ditas reuniões. Mas foi numa delas que aprendi uma lição sobre normas não estabelecidas. Num dado momento daquela fatídica reunião pedi a palavra e diante do problema em pauta apelei para o BOM SENSO como solução lógica e natural para a questão. Foi quando o chefe de outro setor, de quem guardava não pequena antipatia, cortou minha palavra e argumentou em português duro e simples, que apelar para o tal do Bom Senso era desconhecer a natureza humana. Se todos tivessem, o mundo seria uma maravilha, e ponto final. Fechei a boca, assinei em baixo de sua manifestação, e nem tive coragem de sair da reunião que se prolongou por longas e burocráticas horas. Nem lembro o que ficou resolvido, mas isso não tem nenhuma importância. 

sábado, 12 de dezembro de 2020

Besteira

A gente é feito
De fazer besteira.

Poder andar
Pela trilha,
E preferir
Correr pela beira. 

Saber 
múltiplas verdades,
E pensar de 
Uma só maneira. 

Olhar a
Vastidão do tudo,
E não ver nada
Que se queira.

Colher rios
De Riquezas, 
E nenhuma rosa
Que se cheira. 

A gente é feito
De fazer besteira. 

Quando não se 
Está olhando 
Para trás,
Aponta a vontade 
Para um horizonte
Infinito.
Mal se lembra
Que a felicidade 
Pode estar em colar 
Ombro a ombro
E descobrir que a 
Irmandade é o reduto
Do que há de mais bonito.

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Panos e Peles

Os panos que me 

cobrem são só isso: 

os panos que me cobrem. 

Sou feito de carne e osso,

pele e pelos; matéria dura e macia;

tão pura quanto encharcada

de ilusão e de drogas:

umas líquidas, poucas gasosas. 


Os panos que me cobrem

escondem as rugas e mazelas, 

cicatrizes e dobras 

que ninguém de deu,  

e que cultivei na deliciosa,

quase que silentemente,

na orgia das curvas que andei. 

sábado, 5 de dezembro de 2020

Valoroso Pessimismo

O voluntário sofrer é o desejo não revelado e subliminar de quem se insurge contra a real e sedimentada normalidade da suposta razão humana. O que resta senão um valoroso e combativo pessimismo? O ardor do combate e sua dopaminérgica consequência é o sobra de uma luta sem esperança de vitória. O soco que se dá no oco do vão do inimigo que se esquiva da luta, por contar com a inequívoca certeza dos pontos garantidos na decisão dos jurados, nunca é em vão. Ele serve ao entendimento do que deve ser feito, e nunca a resignação diante de uma luta injusta e inútil. Muito se fala em felicidade, e quase nada em atitudes. A fé que redime é a mesma que estagna. Se querer tivesse a força do fazer, qualquer boa intenção seria uma grande ação e ninguém seria obrigado a pedir perdão, nem um pouco de comida. 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Desigualdade

O entendimento conceitual de que "eleitos e oprimidos" sempre fez parte da "coerência" histórica é a principal justificativa para a morosidade com que essa diferença seja combatida e tratada como anti natural. A proposta evolucionista teria dado um caráter científico para tal realidade, afinal quem desconhece que a história é feita de vencedores e vencidos e contada pelos primeiros? Os que interpretam a teoria de Darwin desta maneira esquecem que inexiste a proposição do conceito da exploração do outro, mas simplesmente uma luta por espaço e sobrevivência. Felizmente, poucos são os que defendem com fervor a crueldade como forma de tratar os que não tiveram chance de escalar os " picos da gloria" econômica. A história do século 20 nos ensina que a proposição de uma sociedade de bem estar social no mundo ocidental foi conquistada após uma grave crise econômica entremeada de duas grandes guerras mundiais. O fato de haver uma opção socialista estatizante a rivalizar com a noção capitalista de um mercado livre teve uma influência significativa e notória. Há a suspeita de que esse período dourado de melhor entendimento entre os humanos tenha sido mero acidente ocorrido em área restrita e européia do globo terrestre. A oposta suspeita mais otimista é de que vivemos um momento histórico de crise economico-existencial que nos catapultará a um estado de maior equilíbrio e harmonia. Particularmente torço e luto pela última, mas confesso meu pessimismo quanto a vitória da lógica, que exige uma equanimidade pelo menos razoável entre os individuos, sobre a emoção quase religiosa que nos diferencia aos extremos entre criadores e criaturas.