terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Bom Senso?

Sempre tive desassossego por qualquer tipo de atividade burocrática, embora reconheça que as normas escritas são tão essenciais quanto as não registradas no impessoal papel. A burocracia da lei é a forma mais segura e democrática de se estabelecer a normatização do que é permitido ou não em uma sociedade. Infelizmente, como quase tudo na vida, possui efeitos colaterais, especialmente quando se erra na dose. As normas consuetudinárias, não definidas em lei,  refletem a cultura e os valores éticos e morais da sociedade, e mudam conforme os ventos e realidades históricas. Dito isso, venho aqui revelar que um dia já fui chefe do meu serviço. Como homem de ação, investia quase todo meu empenho na atividade prática do setor sob minha responsabilidade e condenava a segundo plano os atos que se resumiam a caneta e papel, fato que me fez cometer confessados erros que fiz questão de pagar antes que os juros ficassem exorbitantes e impagáveis. O que menos gostava eram das reuniões com a Direção e os Chefes dos outros setores. Embora a Diretora fosse minha colega e muito minha amiga pessoal, nunca suportei sem impaciência sua prolixidade no encaminhamento das ditas reuniões. Mas foi numa delas que aprendi uma lição sobre normas não estabelecidas. Num dado momento daquela fatídica reunião pedi a palavra e diante do problema em pauta apelei para o BOM SENSO como solução lógica e natural para a questão. Foi quando o chefe de outro setor, de quem guardava não pequena antipatia, cortou minha palavra e argumentou em português duro e simples, que apelar para o tal do Bom Senso era desconhecer a natureza humana. Se todos tivessem, o mundo seria uma maravilha, e ponto final. Fechei a boca, assinei em baixo de sua manifestação, e nem tive coragem de sair da reunião que se prolongou por longas e burocráticas horas. Nem lembro o que ficou resolvido, mas isso não tem nenhuma importância. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário