Os dias passam
sem sede,
sem chuva
e sem rede.
Há água no
copo, o céu
anda limpo
e quente,
bom prum
cafuné enquanto
se embala.
Um texto não lido é como um amor não correspondido. Neste espaço quero compartilhar um pouco de meus escritos, dar e pedir sugestões de leituras,filmes, músicas e ...
Os dias passam
sem sede,
sem chuva
e sem rede.
Há água no
copo, o céu
anda limpo
e quente,
bom prum
cafuné enquanto
se embala.
...
Ontem sonhei
com a sorte.
Estava serena,
sem fé e
sem pena;
sem medo
e morena,
coberta
de mel.
...
O homem que eu
devia ser quando
era menino
se perdeu no destino,
se enrolou
na ilusão.
...
Só vou
quando o mar
se apagar;
a luz, de meios olhos,
fugir,
e a música,
acalanto de
minha vida,
resolver
se calar.
O que tenho
para dar é
meu mais puro
anseio,
minha vontade
de sofrer e o
respeito pelo meio.
Sorrir é para
os fracos e os loucos.
O amor chega
a mim pelo
correio.
...
Sou
o exato
que não
querem de mim.
O pesadelo sem dono,
a luta sem rival.
Aquilo que
deixei para trás.
Tudo que não
devia ser igual.
Sentado na porta do bar,
O velho sem dentes
Nada tem de seu,
Mas também nada perdeu.
A mão nervosa espera a moeda:
Gota de piedade que faz esquecer
Que não tem nada para lembrar.
20/06/02.
Queria ter amado mais
do que quis ou pude.
Queria ter sido mais
do que quis ou fui.
Queria ter feito mais
do quis ou fiz.
Queria ter podido mais
do que quis.
Queria ter querido mais
Do que pude.
Queria ter sido igual
ao que fui.
Com mais querer
e mais poder.
Com mais amor
e mais ação.
Como um artista
famoso de televisão.
O3/10/02.
Se o tempo é o
conjunto,
A vida é o
encadeamento.
Se a saudade é a
lembrança,
A arrogância é o
desprezo.
O amor é a junção de
dois.
Se mais são, vira reunião.
Infinitos enquanto:
Cada um é único.
15/05/02
Conheço a morte
Desde a mais tenra idade,
Dela, não minha.
Descobria-a pequenina,
Estranha criatura
Com gosto de água.
Já moça bela e faceira,
Persegui sem sucesso,
Seu formoso rastro de fogo.
Mulher feita afinal,
Quando quis se me entregar,
Fugi de seu frio glacial.
Hoje velho:
Perdi a ilusão e o medo.
Fiquei só com a vontade
De descobrir seu segredo.
21/02/03.
De certeza não digo,
Pode ser imaginação.
Por três vezes
A morte me chamou
E eu simplesmente disse não.
Da primeira era menino
Mas já tinha entendimento
Reclamei a vida roubada,
Tinha tudo o que fazer,
E Ela ouviu meu lamento.
Da segunda estava ocupado
Com a mulher e as filhas;
Como deixá-las desamparadas?
Que homem era eu então?
E Ela foi minha amiga.
Quando chamou da terceira
A mulher virara estrela,
As meninas já eram mulher;
Velho arrogante e teimoso
Não pulei em sua cela.
Cansada de ser rejeitada,
Nunca mais apareceu.
Acho que desistiu,
Me deixou virar serpente.
Ri do que sobrou de eu.
13/02/03.
Não qualifico nada,
Vivo o possível,
Faço o que gosto.
A felicidade não é uma conquista,
É a cessação dos desejos,
Herança da auto-anulação.
Tudo é acaso.
A paz é ficção.
O amor não existe.
A consciência da mortalidade
E da inutilidade da vida
É fardo pesado demais
Para um homem sem fé carregar.
03/04/03.
Vive sem pressa,
Mulher menina,
Teu sonho de princesa.
Corsa graciosa,
Giras inquieta,
Enches de alvoroço
Os olhos que te cobiçam.
Cintura fina
Peito empinado
Boca pequena
Lábio encarnado.
Quero esquecer
Tudo que aprendi,
E me perder pra sempre
No teu mundo sem pecado.
11/10/03
Fugi,
Corri feito um louco
Ao entender que me amas.
Chegaria ao inferno
Antes de imaginar
Como seria se me odiasses.
03/04/03.
Hoje vou dormir mais cedo,
Condenar à irrealidade
do mundo dos sonhos
este dia que me esqueceu.
Hoje ninguém
Me desejou bom-dia
Ou me ofereceu um café.
Ninguém pediu minha ajuda
Ou quis minha opinião.
Ninguém me olhou,
Ninguém me tocou,
Ninguém me beijou.
São quase dez da noite
E ninguém me desejou.
Quero dormir e esquecer
Este dia único e estranho
Em que mais me senti vivo
mesmo sem ter existido.
02/04/03.
Suicida intermitente,
Morro a cada fim de dia.
Sem brilho, nem bilhete.
O sol me desperta pela manhã.
Despertar contínuo,
Pela chama do amigo.
Raios de vida
Viciada no perigo.
Lâminas me cortam
Cordas me enlaçam
Fogos me queimam
Janelas me encantam.
Corpo, não reconheço
Alma, nunca sofri.
Visitante da morte,
Vida? jamais vivi.
2004
Nasci em dia de chuva.
A água que banhou minha Mãe
Ao deixar a maternidade
Fez-se escassa no filho que acabara de ter.
Sou um ser desidratado,
Tenho sede insaciável.
Quero tanto
Que não sei o quê.
Minha vida é uma busca
Calma e intranquila.
Hoje estou feliz,
Amanhã implorarei a morte.
Não choro por nada;
Sou indiferente aos fatos.
Tudo é o que tem de ser.
Se não acredito em razões,
Por que tenho tanta sede?
A cachoeira da vida
É goteira em minha fonte.
Sou chão estéril,
Se plantando, nada dá.
Não foi por acaso que
Nasci no Nordeste seco
Do meu país.
Minha colheita está perdida e
Não tenho a quem recorrer.
Não creio em Deus,
Muito menos nos homens
Que ele não criou.
Chega um tempo
que não se teme
mais a morte.
Se vir ligeira,
será por pura sorte.
Mas se chegar
sem pressa, pelo
menos dará tempo
de pedir perdão.
Um rabisco
perseguia o outro,
e quando parecia
que ia dar em
pobre poesia,
acabou em uma
boa prosa
O calor
de teus dedos
no aconchego
das primeiras horas,
me desperta para
o que há de vida
na criança que
não mais chora.
Domingo é um dia Fantástico.
Praia, almoço, soneca.
Cinema com as crianças.
Dormir cedo depois do sexo.
Segunda-feira
Acorda a mulher com um beijo no
cangote. Sente o cheiro do amor impregnado nos lençóis. As bocas se encontram
num beijo apaixonado. O corpo se assanha, mas é hora de trabalhar.
Terça-feira
Acorda com o despertador. Dá um
beijo no rosto da mulher. Sente uma vontade danada de urinar e corre para o
vaso. Dá uma encostada na bunda dela e sussurra um “até mais tarde” cheio de
segundas intenções.
Quarta-feira.
Acorda a força. Passeia a mão pela anca saliente e diz que está morto de fome. Espera pelo pão quentinho que mandou a empregada comprar. Antes
de sair bate na porta do banheiro e avisa: “Tchau amor”.
Quinta-feira
Acorda todo moído. Resmunga para
a esposa que vai trocar o colchão no sábado. Toma um banho morno para relaxar.
Quase dorme fazendo a barba. Não tem fome nem tempo para comer. Antes de passar
a chave grita que esta saindo.
Sexta-feira
Acorda animado e assobiando o
toque de despertar. Toma uma ducha fria cantando “hoje é sexta-feira, traga
mais cerveja...”. Depois de elogiar o café pede para a empregada avisar a
patroa que ele vai chegar tarde.
Sábado
Só levanta na hora do almoço. A
mulher nem olha para ele. Liga a televisão para ver o jornal e adormece. O
telefone o desperta para o jogo com os amigos. Sai de fininho, mas nem
precisava, pois a mulher já saíra há tempos para o cabeleireiro.
Sinto fome.
A fraqueza do corpo
Invade a cabeça
Que rodopia,
Levada pelo Saci,
Para o reino
Sem volta da miséria.
Sinto frio.
O sangue virou pedra,
Tal qual o sentimento.
Os olhos não choram
A dor alheia.
As mãos não se estendem
Para dar o cobertor.
Sinto sede.
Quero tudo
O que não posso ter.
A língua seca
Não sabe beijar.
A pele engelhada
Já não encanta.
Sinto dor.
Os nervos pulsam.
O suor negro
Poreja na pele branca.
Grito sem lembrar
Que o vizinho é surdo
E o amor está longe.
14.01.05
Nua sob lençol branco
Repousa silente,
Cheio de encanto,
O corpo da adolescente.
Arquejando ele assiste,
Com dor e sem pressa,
A verdade contundente
Do quase nada que lhe resta.
Vira-se sem respeito,
Coça o pescoço,
Esfrega o peito numa
Inquietude sem alvoroço.
Magoado pela vergonha
Parte em busca de vingança.
Enquanto a menina sonha,
Ele acredita, tem esperança.
A pele sedosa se cala,
Não se arrepia.
Despreza esse amor
De tão pouca valia.
Respira fundo
Acalmando o peito
Enquanto mãos trêmulas
Passeiam pelo corpo, sem
jeito
O sorriso da inocente.
Só aumenta seu horror.
A folia de um mundo
inconsciente
Alimenta sua alma de dor
Quer fugir,
Mas o orgulho lhe prende.
Quer amar,
Mas o desejo não vem
Quer morrer,
Mas o coração não para.
Quer matar,
Mas sua mão é covarde
Quer compreender,
Mas a menina esta muda.
Quer esclarecer,
Mas a criatura não ouve.
23.09.05
Inspirado em
“Memórias de Minhas Putas
Tristes” de GGM.
amar,
verbo impossível
para quem
tem olho cinza.
amar,
verbo impossível
para quem
tem riso seco.
amar,
verbo impossível
para quem
tem perna dura.
amar,
verbo impossível
para quem
tem mão macia.
amar,
verbo impossível
para quem
tem ouvido inquieto.
amar,
verbo impossível
para quem
tem boca gulosa.
amar,
verbo impossível
para quem
tem coração mudo.
2005