terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Cafuné

 Os dias passam

sem sede, 

sem chuva

e sem rede. 


Há água no 

copo, o céu

anda limpo

e quente,

bom prum 

cafuné enquanto

se embala. 

Amarga Sorte

...

Ontem sonhei

com a sorte.


Estava serena,

sem fé e 

sem pena;


sem medo 

e morena,

coberta 

de mel. 

Falsa Promessa

 ...

O homem que eu 

devia ser quando 

era menino

se perdeu no destino,

se enrolou 

na ilusão. 

Decisão

 ...

Só vou

quando o mar 

se apagar;

a luz, de meios olhos, 

fugir,

e a música,

acalanto de 

minha vida,

resolver 

se calar. 

Pranto sem Lágrima

O que tenho

para dar é

meu mais puro

anseio,

minha vontade

de sofrer e o

respeito pelo meio.


Sorrir é para 

os fracos e os loucos. 


O amor chega 

a mim pelo 

correio. 

Pesadelo sem Dono.

...

Sou 

o exato 

que não 

querem de mim. 


O pesadelo sem dono,

a luta sem rival.


Aquilo que 

deixei para trás.


Tudo que não 

devia ser igual. 

Sem Lembranças

 

Sentado na porta do bar,

O velho sem dentes

Nada tem de seu,

Mas também nada perdeu.

                  

A mão nervosa espera a moeda:                 

Gota de piedade que faz esquecer               

Que não tem nada para lembrar.

 

20/06/02.

Galã de Novela

 

Queria ter amado mais

do que quis ou pude.                        

Queria ter sido mais

do que quis ou fui.                                     

 

Queria ter feito mais

do quis ou fiz.                                  

Queria ter podido mais

do que quis.                                               

 

Queria ter querido mais

Do que pude.                                             

Queria ter sido igual

ao que fui.                                        

 

Com mais querer

e mais poder.                                            

Com mais amor

e mais ação.                                               

Como um artista

famoso de televisão.                                                     

O3/10/02.

Enquantos.

 

Se o tempo é o conjunto,

A vida é o encadeamento.

 

Se a saudade é a lembrança,

A arrogância é o desprezo.

 

O amor é a junção de dois.

Se mais são, vira reunião.

                                                    

Infinitos enquanto:                                  

Cada um é único.                                                                           

 

15/05/02

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Uma Velha Conhecida

 

Conheço a morte

Desde a mais tenra idade,

Dela, não minha.

 

Descobria-a pequenina,

Estranha criatura

Com gosto de água.

 

Já moça bela e faceira,

Persegui sem sucesso,

Seu formoso rastro de fogo.

 

Mulher feita afinal,

Quando quis se me entregar,

Fugi de seu frio glacial.

 

Hoje velho:

Perdi a ilusão e o medo.

Fiquei só com a vontade

De descobrir seu segredo.   

 

21/02/03.

Três Chamados da Morte

 

De certeza não digo,

Pode ser imaginação.

Por três vezes

A morte me chamou

E eu simplesmente disse não.

 

Da primeira era menino

Mas já tinha entendimento

Reclamei a vida roubada,

Tinha tudo o que fazer,

E Ela ouviu meu lamento.

 

Da segunda estava ocupado

Com a mulher e as filhas;

Como deixá-las desamparadas?

Que homem era eu então?

E Ela foi minha amiga.

 

Quando chamou da terceira

A mulher virara estrela,

As meninas já eram mulher;

Velho arrogante e teimoso

Não pulei em sua cela.

 

 

 

Cansada de ser rejeitada,

Nunca mais apareceu.

Acho que desistiu,

Me deixou virar serpente.

Ri do que sobrou de eu.

 

 

13/02/03.

 

Sóbrio

 

Não qualifico nada,

Vivo o possível,

Faço o que gosto.

 

A felicidade não é uma conquista,

É a cessação dos desejos,

Herança da auto-anulação.

 

Tudo é acaso.

A paz é ficção.

O amor não existe.

 

A consciência da mortalidade

E da inutilidade da vida

É fardo pesado demais

Para um homem sem fé carregar.

 

03/04/03.

Mulher Menina

 

Vive sem pressa,

Mulher menina,

Teu sonho de princesa.

 

Corsa graciosa,

Giras inquieta,

Enches de alvoroço

Os olhos que te cobiçam.

 

Cintura fina

Peito empinado

Boca pequena

Lábio encarnado.

 

Quero esquecer

Tudo que aprendi,

E me perder pra sempre

No teu mundo sem pecado.

 

11/10/03

Maratona

 

Fugi,

Corri feito um louco

Ao entender que me amas.

 

Chegaria ao inferno

Antes de imaginar

Como seria se me odiasses.

 

03/04/03.

Solidao 3

 

Hoje vou dormir mais cedo,

Condenar à irrealidade

do mundo dos sonhos

este dia que me esqueceu.

 

Hoje ninguém

Me desejou bom-dia

Ou me ofereceu um café.

Ninguém pediu minha ajuda

Ou quis minha opinião.

 

Ninguém me olhou,

Ninguém me tocou,

Ninguém me beijou.

São quase dez da noite

E ninguém me desejou.

 

Quero dormir e esquecer

Este dia único e estranho

Em que mais me senti vivo

mesmo sem ter existido.

02/04/03.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Suicida Desenfreado

 

Suicida intermitente,

Morro a cada fim de dia.

Sem brilho, nem bilhete.

O sol me desperta pela manhã.

 

Despertar contínuo,

Pela chama do amigo.

Raios de vida

Viciada no perigo.

 

Lâminas me cortam

Cordas me enlaçam

Fogos me queimam

Janelas me encantam.

 

Corpo, não reconheço

Alma, nunca sofri.

Visitante da morte,

Vida? jamais vivi.

 

2004

 

 

 

 

Seco

 

Nasci em dia de chuva.

A água que banhou minha Mãe

Ao deixar a maternidade

Fez-se escassa no filho que acabara de ter.

 

Sou um ser desidratado,

Tenho sede insaciável.

 

Quero tanto

Que não sei o quê.

 

Minha vida é uma busca

Calma e intranquila.

Hoje estou feliz,

Amanhã implorarei a morte.

 

Não choro por nada;

Sou indiferente aos fatos.

Tudo é o que tem de ser.

 

Se não acredito em razões,

Por que tenho tanta sede?

 

A cachoeira da vida

É goteira em minha fonte.

Sou chão estéril,

Se plantando, nada dá.

 

Não foi por acaso que

Nasci no Nordeste seco

Do meu país.

Minha colheita está perdida e

Não tenho a quem recorrer.

Não creio em Deus,

Muito menos nos homens

Que ele não criou.   

 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Destemor

Chega um tempo

que não se teme 

mais a morte. 


Se vir ligeira,

será por pura sorte. 


Mas se chegar 

sem pressa, pelo

menos dará tempo

de pedir perdão. 

Desilusão

Um rabisco 

perseguia o outro,

e quando parecia

que ia dar em 

pobre poesia,

acabou em uma 

boa prosa

Aconchego

O calor 

de teus dedos

no aconchego 

das primeiras horas, 

me desperta para

o que há de vida

na criança que 

não mais chora. 

Esplendor

De todas as ruas
Por onde andei
Nenhuma tem 
O encanto da tua. 

Calçada livre
E segura,
Sem pudores 
Ou manias. 

Caminhos
De quem 
Sabe onde pisa
E o que quer. 

Conceitos 
Que se misturam,
Esplendor de quem 
Sabe ser mulher. 

Sexo Fantástico

Domingo é um dia Fantástico.

Praia, almoço, soneca.

Cinema com as crianças.

Dormir cedo depois do sexo.

 

Segunda-feira

Acorda a mulher com um beijo no cangote. Sente o cheiro do amor impregnado nos lençóis. As bocas se encontram num beijo apaixonado. O corpo se assanha, mas é hora de trabalhar.

 

Terça-feira

Acorda com o despertador. Dá um beijo no rosto da mulher. Sente uma vontade danada de urinar e corre para o vaso. Dá uma encostada na bunda dela e sussurra um “até mais tarde” cheio de segundas intenções.

 

Quarta-feira.

Acorda a força. Passeia a mão pela anca saliente e diz que está morto de fome. Espera pelo pão quentinho que mandou a empregada comprar. Antes de sair bate na porta do banheiro e avisa: “Tchau amor”.

 

Quinta-feira

Acorda todo moído. Resmunga para a esposa que vai trocar o colchão no sábado. Toma um banho morno para relaxar. Quase dorme fazendo a barba. Não tem fome nem tempo para comer. Antes de passar a chave grita que esta saindo.

 

Sexta-feira

Acorda animado e assobiando o toque de despertar. Toma uma ducha fria cantando “hoje é sexta-feira, traga mais cerveja...”. Depois de elogiar o café pede para a empregada avisar a patroa que ele vai chegar tarde.

 

Sábado

Só levanta na hora do almoço. A mulher nem olha para ele. Liga a televisão para ver o jornal e adormece. O telefone o desperta para o jogo com os amigos. Sai de fininho, mas nem precisava, pois a mulher já saíra há tempos para o cabeleireiro.     

Sensações

 

Sinto fome.

A fraqueza do corpo

Invade a cabeça

Que rodopia,

Levada pelo Saci,

Para o reino

Sem volta da miséria.

 

Sinto frio.

O sangue virou pedra,

Tal qual o sentimento.

Os olhos não choram

A dor alheia.

As mãos não se estendem

Para dar o cobertor.

 

Sinto sede.

Quero tudo

O que não posso ter.

A língua seca

Não sabe beijar.

A pele engelhada

Já não encanta.

 

Sinto dor.

Os nervos pulsam.

O suor negro

Poreja na pele branca.

Grito sem lembrar

Que o vizinho é surdo

E o amor está longe.

 

14.01.05  

Amor Adormecido

 

Nua sob lençol branco

Repousa silente,

Cheio de encanto,

O corpo da adolescente.

 

Arquejando ele assiste,

Com dor e sem pressa,

A verdade contundente

Do quase nada que lhe resta.

 

Vira-se sem respeito,

Coça o pescoço,

Esfrega o peito numa

Inquietude sem alvoroço.

 

Magoado pela vergonha

Parte em busca de vingança.

Enquanto a menina sonha,

Ele acredita, tem esperança.

 

A pele sedosa se cala,

Não se arrepia.

Despreza esse amor

De tão pouca valia.

 

 

Respira fundo

Acalmando o peito

Enquanto mãos trêmulas

Passeiam pelo corpo, sem jeito

 

O sorriso da inocente.

Só aumenta seu horror.

A folia de um mundo inconsciente

Alimenta sua alma de dor

 

Quer fugir,

Mas o orgulho lhe prende.

Quer amar,

Mas o desejo não vem

Quer morrer,

Mas o coração não para.

Quer matar,

Mas sua mão é covarde

Quer compreender,

Mas a menina esta muda.

Quer esclarecer,

Mas a criatura não ouve.

 

23.09.05

Inspirado em

“Memórias de Minhas Putas Tristes” de GGM.

 

Magia

E por algo mais mágico
que um compartilhado desejo,
os instantes se misturam
num amontoado de múltiplas 
e possíveis aspirações. 

As horas que espantam no agora, 
não passam de meras pétalas
choradas num arvoredo 
de continuo recomeço. 

Se partimos para lá, 
voltamos de lá para cá.

Teimamos na insistência de um tempo
que nos quer prisioneiro, 
mas também se mostra
incapaz de nos amarrar
a elos que nunca pedimos. 

Pensar o amanhã como 
algo que nascerá tarde demais,
é nos entregar nas mãos 
de uma torpe certeza,
e perder a perspectiva 
honesta do mais puro 
suspiro de doloroso prazer.

Por isso festejamos 
cada passo como 
novo recomeço, 
e voltando como ao útero materno,
renascemos para a vida,
como se fossemos 
vivê-la pela primeira vez.

Amar, verbo impossível.

amar,

verbo impossível

para quem

tem olho cinza.

 

amar,

verbo impossível

para quem

tem riso seco.

 

amar,

verbo impossível

para quem

tem perna dura.

 

amar,

verbo impossível

para quem

tem mão macia.

 

amar,

verbo impossível

para quem

tem ouvido inquieto.

 

amar,

verbo impossível

para quem

tem boca gulosa.

 

amar,

verbo impossível

para quem

tem coração mudo.

 

2005