sexta-feira, 25 de junho de 2021

Em Vão

 ...


Nunca fui artista

muito menos quis ser rei.


Carrego a cruz

do pecado que não

admitirei.


Curto a angústia da vida

lembrando da morte 

que sempre vem. 

Espelho

...


Não é que não

me importe, 

seja indiferente.


É que namoro

o ceticismo

e antipatizo

com a noção do 

Bem ou Mal. 


Por isso me esquivo,

deixando para 

o espelho o que 

nenhum discurso 

é capaz. 

Pesadelo

...

Dormir.
 
Sonhar,
Acordar por fingir.

Dormir,
Sonhar sem conta
Até acabar. 

Dormir no silêncio,
Sonhar com o fim.
Acordar no sonho
Mas só despertar
No Ruído do mundo
Que espera por mim. 

domingo, 20 de junho de 2021

Conserto

Consertar a alegria do mundo.
Apagar os pingos dos is.
Abolir todas as vírgulas,
Caminho incerto por onde ir. 

Correr de todas as lutas
Pular sem fé os abismos
Pintar o preto de branco.
Almas abertas aos sorrisos.

Cantar a delícia dos atalhos.
Não se esconder dos desvios.
Somar sonhos e temores
Afundar tolos navios.

Colher as flores do chão.
Plantar em cada lugar
Andar a toa sem sapatos
Na beira mar ao luar. 












sábado, 19 de junho de 2021

Iluminado!!!!

Se projetar ao infinito
Pela renovada possibilidade
Do deslumbramento.

Experimentar a magia
No recôndito concreto
De toda e cada única célula.

Contar com o mesmo sol
Nascendo a cada amanhã 
Desenhando entre nuvens
Um delicioso mistério. 


sábado, 12 de junho de 2021

Assimetrias

Os sorrisos se diluem,
Chora lá que eu canto cá, 
Em estranhas assimetrias.

Nessa dança tudo vale,
Especialmente mentir,
Desde que o odio
Seja sincero.

Nesse passo
O riso passa. 
Nao cai bem
Gozar de quem tem 
A barriga vazia. 

Nova Criação

...
E tudo ficou
Tão claro,
Tão raro,
Tão puro.

O mundo 
Se descobriu 
No avesso 
Do escuro.

Portas 
Se abriram.
Caíram todos
Os muros.

Jardins 
Ganharam cor,
E os frutos
Ficaram maduros.

O céu 
Beijou a Terra.
O Sol se entendeu
Com a Lua.

Mulheres e Homens,
Num único abraço
Ocuparam 
Todas as Ruas. 

terça-feira, 8 de junho de 2021

Por vir

...

A serenidade

dos instantes 

que precedem 

o fim. 


Fechar os olhos

e prever sem anseio

porvir com a mais 

inocente imaginação.


Se pegar já

pensando

onde vai deixá-lo:

Numa gaveta 

mofada e secreta

ou exposta na  

prateleira da atitude. 

domingo, 6 de junho de 2021

Aurora

Tanto o dia quanto a noite têm seus encantos , mas a magia se revela justo nos instantes de transição. Se o crepúsculo nos convida ao mundo enigmático dos sonhos, a aurora nos instiga a realizar um sempre novo amanhã.

sábado, 5 de junho de 2021

Dimensão

Amplo é o céu 
Todo pintado de azul,
Brincadeira de rosa e 
Choque de resistência
A tudo que se quer luz
Entre o Norte e o sul. 

A terra engravidou.
Será anjo ou peste
O que ninguém espera
Ver ou entender,
Mas já se espalha
Desde o leste até o oeste.



sexta-feira, 4 de junho de 2021

CPI, Emoções Humanas e Ciência Médica

    Entendo a CPI da Covid como um palco político onde os posicionamentos dos seus integrantes ficam bem caracterizados e é bom e justo que assim seja. Não se pode esperar uma total isenção vindas de qualquer dos lados. Ambos os discursos estão bem estabelecidos e o juízo final só será dado na eleição de 2022, isso se nenhum outro fato surgir até lá, o que não é difícil de acontecer num mundo líquido como o nosso. O que conta a favor dos governistas é a distância temporal que nos afasta de Outubro do próximo ano, desvantagem que a oposição tenta amenizar com a imputação direta de culpa do atual governo pela má administração que nos levou a triste situação sanitária que nos encontramos. Encontrar a digital incriminadora na microscópica arma que dizimou quase meio milhão de brasileiros me parece uma tarefa quase impossível, já que o mundo da retórica e das interpretações são tão inúmeros quanto insondáveis. Por outro lado, se não é possível encontrar resíduos de pólvora nas mãos do acusado, pode-se reunir evidências suficientes para se produzir correlação indireta entre causa e efeito. Um exemplo muito claro foi a prematura e declarada aversão a uma vacina proveniente de um país comunista com o apoio de um governador de oposição. Promover aglomerações, não usar máscara em espaços públicos, se declarar publicamente contra o lockdown determinado por quem vive o problema mais diretamente, promover o uso de drogas contra o vírus, são atitudes que não se espera de quem carrega a responsabilidade de dirigir o país. Administrar com seriedade exige o necessário distanciamento das opiniões pessoais. Quando a neurociência nos revela que nenhuma  decisão é tomada sob a hegemônica ditadura da razão - a "simpatia" está intrinsecamente presente e estamos todos continuamente agindo conforme comanda nossas emoções e desejos - exercitar a racionalidade é um desafio que só frutifica com muito esforço e reflexão, embasados principalmente na prática da tolerância. É procurando o que há de "subliminar" nas ações humanas que podemos iluminar as obscuras idiossincrasias do dia a dia. Reconhecendo o ser humano como entidade não somente orgânica, mas eminentemente psíquica, a medicina resgata seus primórdios nos bruxos e feiticeiros da idade antiga e misturam em seu caldeirão terapêutico as especiarias que salvam vidas com as que "prometem" curas. O efeito placebo é reconhecidamente uma realidade. Não é insignificante a prática médica de se prescrever algo, embora sem evidência de eficácia cientificamente comprovada, aos pacientes como forma segura de estimular sua fé e lhe dar o conforto de estar sendo cuidado. Essa assim "justificada" prática tem porém alguns inconvenientes e sérios problemas. O primeiro seria simplesmente o financeiro. Gastar com o que não funciona é claro desperdício de recursos que poderiam ser melhor alocados. Mesmo porque não há melhor placebo que uma empática e esclarecedora conversa. O segundo é quando o próprio médico perde a dimensão do que faz e passa a acreditar no efeito efetivo e milagroso de sua prescrição. Não podemos exigir que todo médico seja um cientista, mas devemos desejar que todos ajam conforme a boa prática de ajudar ao máximo e prejudicar o mínimo possível. Ao entrarmos finalmente no ponto dos efeitos colaterais das drogas, caímos num buraco de três vias possíveis. A cova mais rasa e mais comum é a prescrição de drogas inócuas que vão estimular tão somente o psiquismo curador no paciente. Drogas que nem são citadas nos compêndios farmacológicos, mas que são utilizadas em grande escala, que felizmente não tem efeitos colaterais exceto o já citado  financeiro. O segundo poço não tão raso seria a prescrição de drogas por falha na avaliação diagnostica, quase sempre justificada pelo pecar antes por excesso que por omissão, numa clara ditadura do medo que suplanta o conhecimento e a experiência, exemplificado pelos uso de antibióticos em infecções virais. O buraco se aprofunda e se torna mais escuro quando caímos no submundo das "especulações". É óbvio que nenhuma droga surgiu do nada. Muita observação foi necessária até que se estabelecesse um comprovado efeito terapêutico de cada uma delas. A experimentação e sua alma gêmea, a estatística, geraram uma filha singular a quem deram o nome de Ciência. Menina estranha, de hábitos cautelosos, mas questionadora, avessa às verdades de primeira hora, mas incansável na luta movida pela curiosidade, determinação e pelo inquieto desejo de saber sempre mais. Poucos a entendem muito bem, pois sua linguagem não é muito inteligível para quem tem pressa e simplesmente aceita cegamente tudo que vê pela frente. E é justamente nesse lapso de comunicação e entendimento que vingam as curas mágicas, onde até grandes e renomados médicos e "cientistas" se perdem da racionalidade e se entregam às suas crenças. Salvar o mundo, ser o Super Homem protetor da Humanidade é um sonho adormecido dentro de todos nós. Encontrar a fórmula mágica que nos torne invencíveis faz parte do imaginário de todos os mortais. Julgar a  racionalidade como objetivo último de nossa existência me parece tão utópico quanto indesejável, afinal somos "limbicamente" instruídos para a emoção. Mesmo com esse entendimento não podemos prescindir do uso da observação imparcial e concreta dos fatos, nos dando inclusive o direito de revermos todas as posições no futuro, mas principalmente reconhecendo que somos seres vivos e  portanto mortais.