terça-feira, 28 de outubro de 2014

Cabra da Peste

Não é irreal. Certo dia, andando numa Rua do Leblon, ouvi um bêbado num boteco de esquina, berrando alto contra Nordestinos, ou seria Paraíbas, nem lembro direito. É claro que não era comigo, e aquilo sequer me abalou. Estava em terra estranha e sozinho; e a figura nem merecia atenção sequer do dono do bar. Mas o que ficou gravado me resgatou a memória agora com os desabafos preconceituosos contra nordestinos eleitores de quem lhes garante o Bolsa Família. Não acredito nem de longe que isso venha de porção estatisticamente significativa da população sulina. Muito menos de gente bem informada. É só analisar os números com pouco cuidado que veremos que a percentagem dos votos da Dilma é praticamente a mesma no Nordeste e Sudeste(37 contra 36,7%, se não me engano). Entendo o fenômeno mais como uma revolta daqueles que se viram de uma forma ou de outra prejudicados pelo “enriquecimento” de uma classe antes miserável, que teve seus salários aumentados em índice acima da inflação, o que os fez ascenderem à condição de pobres. E os motivos de revolta não param por aí. O sistema de cotas nas Universidades Públicas fez estrago na classe média alta. Sei que passei bem para a Universidade Pública que escolhi por ter feito o ensino médio - sou do tempo do Científico - em escola privada de renomada qualidade. Poucos foram meus colegas oriundos de escola pública. Este simples fato empurrou inúmeros estudantes da classe média alta para as caras Universidades Privadas que se multiplicaram desde então, estreitando a folga orçamentária de muitos. Sei que o assunto merece discussão, a tal da meritocracia está na boca de meio mundo, e o principal argumento contra, que inclusive foi o meu, é que se devia ensinar a pescar, não dar o peixe. Mas quanto tempo leva uma pessoa para aprender a pescar o suficiente para sua sobrevivência? Enquanto isso, devemos deixá-la morrer de fome, enquanto sobra postas fritas nas mesas de tantos? Concordo que pouco se tem feito pelo ensino fundamental. Entendo que a escola em tempo integral é de urgente necessidade e que a carreira de professor precisa de urgentíssima valorização. Proponho que discutamos à luz muito maior do que a do interesse próprio, procurando entender que política é o gerenciamento de opostos. 

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