Não é irreal. Certo dia, andando numa Rua do Leblon, ouvi um
bêbado num boteco de esquina, berrando alto contra Nordestinos, ou seria
Paraíbas, nem lembro direito. É claro que não era comigo, e aquilo sequer me
abalou. Estava em terra estranha e sozinho; e a figura nem merecia atenção sequer
do dono do bar. Mas o que ficou gravado me resgatou a memória agora com os
desabafos preconceituosos contra nordestinos eleitores de quem lhes garante o
Bolsa Família. Não acredito nem de longe que isso venha de porção
estatisticamente significativa da população sulina. Muito menos de gente bem informada.
É só analisar os números com pouco cuidado que veremos que a percentagem dos
votos da Dilma é praticamente a mesma no Nordeste e Sudeste(37 contra 36,7%, se
não me engano). Entendo o fenômeno mais como uma revolta daqueles que se viram
de uma forma ou de outra prejudicados pelo “enriquecimento” de uma classe antes
miserável, que teve seus salários aumentados em índice acima da inflação, o que os fez
ascenderem à condição de pobres. E os motivos de revolta não param por aí. O
sistema de cotas nas Universidades Públicas fez estrago na classe média alta.
Sei que passei bem para a Universidade Pública que escolhi por ter feito o
ensino médio - sou do tempo do Científico - em escola privada de renomada
qualidade. Poucos foram meus colegas oriundos de escola pública. Este simples
fato empurrou inúmeros estudantes da classe média alta para as caras Universidades
Privadas que se multiplicaram desde então, estreitando a folga orçamentária de
muitos. Sei que o assunto merece discussão, a tal da meritocracia está na boca
de meio mundo, e o principal argumento contra, que inclusive foi o meu, é que
se devia ensinar a pescar, não dar o peixe. Mas quanto tempo leva uma pessoa
para aprender a pescar o suficiente para sua sobrevivência? Enquanto isso,
devemos deixá-la morrer de fome, enquanto sobra postas fritas nas mesas de
tantos? Concordo que pouco se tem feito pelo ensino fundamental. Entendo que a
escola em tempo integral é de urgente necessidade e que a carreira de professor
precisa de urgentíssima valorização. Proponho que discutamos à luz muito maior
do que a do interesse próprio, procurando entender que política é o
gerenciamento de opostos.
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