sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Hora Sublime

 

Se nesta hora sublime, porque única e definitiva, estou só, devo exclusivamente a minha conduta de vida. Muitos a chamaram de egoísmo, eu sempre a interpretei e expliquei, tanto aos outros como a mim mesmo, como ideal de independência. Todo conceito, entretanto se torna inútil e perde sentido quando nos vemos sós na hora dita final. Não me vem nenhum remorso ou sentimento de ingratidão. Tudo terminou como deveria, determinado pelo que pôde ser feito, por alguém que fez o que quis. Por que procurar culpados onde só existe a inocência do desejo e do puro instinto? Sempre entendi e repeti a mim mesmo nos momentos de solidão, numericamente superiores aos de congregação, que ninguém nasce para ser feliz, mas estamos sempre procurando a paz que nos permita morrer tranquilos. Foi o que perseguiu minha mente-alma inquieta. Entretanto nunca venci o pessimismo que sempre se disfarçou de prevenção em cada instante que antecedeu meus atos. Isso fez de mim um estraga prazeres, um chato estressado e rabugento. A verdade é que colhi o que plantei. E se o pouco de vida que tenho pulsa no meio deste quarto vazio, visitado somente pelas enfermeiras que me injetam paliativos, é porque eu realmente mereci. 

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