sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Barril de Pólvora

Não peço nem aceito perdão por não crer no pecado. Somos responsáveis pelo que fazemos ou dizemos e estamos sujeitos as destemperanças e atropelos. Para isso existem as leis e suas interpretações, com atenuantes e agravantes. E se não é passível de punições legais, apenas um caso de rusgas e desentendimentos familiares ou entre amigos? Haverá contenda  sem um que de real, mesmo que sutil? De uma ferida mal curada, de um senão escondido nos recônditos de nossa memória afetiva? Não, não há espaço para pedido de perdão e sim de escancaramento de traumas, de falsos silêncios, de mágoas acumuladas e guardadas a sete chaves. Catarse e não perdão. Acredito no subliminar que camufla nossos preconceitos e que por vezes, quando menos se espera, por uma faísca surgida na China ou em Madri, cai no meio da palha do contido e acende, acorda nossos demônios. Não somos anjos, muito ao contrários, somos barris esperando explodir, somos um revolver implorando por um dedo inocente que puxe o gatilho do alivio, e dispare uma bala perdida, sem rumo certo, mas que deixe livre o tambor da dor reprimida. Não esperemos lógica nessa dor. Em se tratando de humano, quase nada é feito de razão, muito menos os traumas que se escondem por trás de um sorriso calmo e simpático. Chego a entender que nossa capacidade de raciocínio trouxe um desastre evolutivo à nossa espécie. Não somos seres de paz, de amor, de perdão e de entendimento. Somos uma bomba pronta a explodir. 

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