
Estava deitado na rede da varanda do alpendre que circunda
toda a casa grande, sem saber o que pensar, vendo por ver, enxergando nada,
entendendo que o tudo é invenção do pouco juízo da simplória condição humana,
quando a voz vinda da sala de visita me despertou do onírico estado e me
arrepiou a pele e a paz. Não podia acreditar no que ouvia. Aquele som não
pertencia ao mundo que eu conhecia e o primeiro lampejo de razão que me ocorreu
foi que brotara de minha própria e saudosa memória. Estava convencido disso
quando ela se repetiu. “Té, venha já aqui”. O tom pareceria autoritário para
quem não estivesse acostumado com ele, mas para mim nada mais natural se tratando
de um pai solicitando a presença de um filho. Levantei da rede num pulo de gato
para atender ao chamado vindo de dez longos anos. Atravessei a
porta sem pressa, tímido, tomado pelo medo de não ser real e mais ainda pela
possibilidade de ser. Mas ele estava lá, em pé, atrás da cadeira de balanço,
olhando direto para mim, com um sorriso esboçado no rosto, os braços semiabertos
aguardando e solicitando meu abraço. O cheiro do sabonete Phebo era
inconfundível e inebriante. Mesmo que quisesse não saberia o que falar, então
fiquei preso naquele abraço pela eternidade que só os sonhos nos concedem.
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