quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O Poder da Prece.

Seguiu os conselhos da vizinha e foi bater no culto. Fizera mais despesas que o necessário e estava atolada em dívidas. Só de cartão eram mais de dez mil. O colégio dos meninos estava atrasado já três meses, tivera que implorar para o diretor financiar a dívida. E o pior é que já não podia pedir para ninguém, todos já tinham participado com algum e não queriam nem ouvir falar de mais empréstimos:  Tá me achando com cara de otário, rasgou o cunhado quando ela chegou de mansinho, pedindo conselho em forma de notas de cem. Apelar para a mãe já não podia, o irmão tinha proibido a velha de soltar mais algum, embora aqui e acolá descolasse uns trocados para a merenda dos netinhos. O ex-marido continuava surdo a suas súplicas. Pagava a pensão e ela que se virasse. Sua nova família também tinha necessidades e uma mulher equilibrada na contabilidade da casa. O desespero faz milagres, pensou ela e se entregou de alma às preces, suplicando ao senhor que mal conhecia de perto, a solução de seus problemas. Depois da celebração a vizinha a chamou a conversar com o pastor, sugeriu que ela se abrisse, contasse tudo ao representante do senhor e seguisse seus santos conselhos. Saiu da igreja com a alma leve. Parecia que todos os problemas tinham sido desencarnados de seus ombros. Chegou à casa silenciosa, com fácies angelicais, motivo de espanto dos filhos famintos, e se recolheu a sua santa tarefa. Orou a noite toda, tudo prometendo, tudo pedindo. O sol que ainda nem bem nascera a encontrou de joelhos, o tronco debruçado sobre a cama, num cochilo divino, quando o irmão bateu forte na porta. Ainda no velório quis saber do primo corretor quanto achava que valia a casa da mãe. Dividiu a resposta por três e ninguém entendeu seu tosco sorriso.         

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