quarta-feira, 26 de março de 2014

Meio Século

Fazer cinquenta anos não foi mais difícil que colocar mais de trinta familiares na exígua sala de meu modesto apartamento. Mas acabou tudo bem. Todos elogiaram a comida da Livramento, minha valorosa e paciente secretária. Tive a sorte de passar por poucos e indignos de nota pequenos problemas.  A saúde nunca foi abalada a sério, a não ser as inevitáveis dores osteomusculares consequentes a uma ininterrupta atividade física e uma rinite que pouco perturba o sono. Perdi um pai e uma irmã com muita dor e algum conformismo. Vivo há 25 anos com uma mulher dedicada e amorosa com quem divido as despesas da casa e criação de duas lindas, inteligentes e pouco trabalhosas mocinhas. Minha falta de fé e racionalidade diante da vida e da morte faz de mim um pessimista. Não dos que vivem reclamando de tudo. Mais para um fatalista. Procuro poucas respostas, embora esteja sempre lendo. Prefiro as ficções. Gosto de pensar em paralelo com os outros. A noção do “enquanto isso” me fascina. Sou um pobre animal que gosta de comer bem e se pudesse dividiria mais. Perdi o bigode no último carnaval, com a devida licença da mulher e acho que passarei algum tempo com este novo visual. Seria preocupação em parecer velho? Acho que sim, embora prefira explicar como um recomeço.

3 comentários:

  1. Meu querido e admirado primo, sempre me fascina sua forma de ver a vida e descreve-lá. Seu meio século não te fez diferente e sim deixou mais charmoso em todos os aspectos, na sua irreverência, na sua sutileza, e na sua aparência física...Parabéns pela vida.

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    1. Elogios de uma tão conceituada e sensível pessoa como você muito me envaidece e estimula a tentar sempre ser uma pessoa melhor. Obg.

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