quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Tarde nos Pinhões

Sábado a tarde. Mercado dos Pinhões, Fortaleza, Ceará, Nordeste, Brasil. A prefeitura vem utilizando muito bem esse espaço cultural da cidade para promover encontros entre a literatura, artesanato, pintura, música e a culinária. Não sei se pela concomitância com a Bienal, será adiado o deste fim de semana próximo. Tomara que sim, porque ainda não tive coragem de atravessar a cidade para prestigiar a referida feira do livro. Sou um reconhecido ermitão e poucas coisas me fazem deixar o São Gerardo e adjacências. Mas o fato a ser narrado se passou no final de Julho último, durante o encontro entre a música e culinária, ambas animadas pela Café(cantora) e pelo café. Maria Luiza, 3 anos de fofura, não nos deixava quietos, reclamando nossa parceria no salão. Na mesa nos acompanhava um até então desconhecido casal, donos de um restaurante frequentado e elogiado pelo amigo responsável pelas apresentações. Outra novidade era a Cacildes, cerveja que estampa o Muçum e sua ilimitada sede pelo mé. Papo vai, dicas de culinária vem, somos instigados a experimentar a massa do italiano que infelizmente não se preparara o suficiente para suprir tanta fome e desejo de experimentar coisa boa. Mas nada como um bom papo para grifar nosso nome no caderno e muita paciência para esperar que nova remessa de massa fosse cozida. Depois de acabado o estoque da Cacildes e termos enfim cansado a Maria Luiza, o macarrão finalmente chegou, não sem um truque de inversão de prioridades na lista dos pedidos(tenho que confessar esta pequena transgressão ética). A massa estava escandalosamente ao dente, picante, mas deliciosamente suportável, e refém dos esboços de bacon que davam gosto marcante ao conjunto. Todos reunidos nas duas mesas de plástico que juntas congregavam os oito comensais, quando o gourmet do grupo se levanta e nos brinda, ouvido a ouvido, com um áudio, supostamente da ex presidenta Dilma se manifestando de forma pouco inteligível, desconexa e digna de todas as risadas que ele esperava compartilhar. Surpreendido pela temática política inesperada e fiel a minha falta de covardia diante do debate ideológico, me peguei o questionando sobre a desinteligência descarada do atual presidente. Foi o suficiente para seu espanto em me descobrir um "apoiador de corrupto". Respirei três vezes e perguntei o que ele lia de ciência política para se inteirar sobre o que estava ocorrendo no país e no mundo, após o que ele me brindou com a pérola de que não lia " nenhum porra de livro". Óbvio que não me espantei e incontinenti perguntei se ele era a favor da liberação das armas. É claro que era, né? Perdi a paciência e o taxei de proto fascista. Se não fosse as Cacildes talvez tivesse ficado quieto, mas calar nunca foi meu forte. Confesso ter pouca paciência com a ignorância fascista que toma como verdade tudo em que acredita e não procura promover uma consciência crítica que poderia até lhe dar argumentos para defender sua proposta, mas enxerga na ausência do conhecimento um caminho mais fácil de viver com sua pouca consciência. Viva o livro. Sábado tem Bienal. 22.08.19

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