terça-feira, 8 de abril de 2025

Vagabundo

Não ligo muito se me chamam vagabundo. Afeito à concepção primordial da palavra, até me encanta ser um ser que vaga pelo mundo desfrutando de suas delícias, sem saber bem como elas vieram até minha pessoa. Não há nada de vago no real aproveitamento do que uma vida simples e honesta tem a nos oferecer. Os andarilhos são testemunhas do que o caminhar em vão tem a inspirar o espírito e a imaginação. Trabalhar é coisa de quem não tem o que fazer, muito ao contrário dos meritocratas e produtivistas que dormem tarde e acordam cedo, ou pelo menos é o que pregam a quem procuram enganar. Não a toa a meditação está cada dia mais receitada para quem procura o aperfeiçoamento de sua plasticidade cerebral. O stress tem valor contra os perigos das florestas e das esquinas, mas experimentado a exaustão, promove um irremediável encurtamento do calendário da vida vivida. O jeito certo seria vagar? Não sei de mais ninguém além de mim, mas procuro aproveitar ao máximo os momentos de puro ócio, quando a vida parece parada o suficiente para me perder dentro dela e me sentir eterno, mesmo que não passe de um sincero vagabundo. 

domingo, 6 de abril de 2025

Festa Cancelada

Se pecar é humano e o homem lá de cima foi criado para perdoar os deslizes de suas criaturas, para que são feitas e até escritas as leis? Nunca alguém me abordou na esquina ou em mesa de bar para comentar sobre a página 12 do Diário da União de hoje, mas todas as ações de governo devem estarem devidamente registradas lá, senão vira outra coisa, golpe por exemplo. Só se oficializa um golpe depois dele ter sido perpetrada. "Nove Dedos, Picolé de Xuxu e o CareXandão serão exportados, sem nenhuma taxação, para China, lugar de Comunistas. Revogue-se todas as disposiçoes em contrário. Brasília 09.01.2023". Antes de executado, um golpe só pode ser registrado em Minutas. Estas, mesmo que impressas no Palácio do Governo, não têm poder de ofício. Servem apenas como testemunha de acusação. Mas pecar é humano e pode e deve ser perdoado, ou não? Antes que as urnas decidam definitivamente a questão, as ruas gritarão seus sins e seus nãos. Se a chuva deixar, é claro!!!! 

sábado, 5 de abril de 2025

Depois da...

Depois da terceira o mundo ganha um brilho que não pode ser chamado estranho, vamos dizer especial. As bordas se insinuam, as cores parecem pedir para sair das coisas que as aprisionavam. O ritmo ganha tempo, ou seria o contrário? Tanto faz. A realidade dos compromissos e a incompreensível solidão dos corpos elementares perdem o que têm de insólitos, para se perderem numa dimensão plena de luz e pura energia. E quem não escapa da ventania que varre para longe os percalços e os odores se descobre vítima da íntima impressão de completude estóica com a vida e o mundo irresponsável da verdade. 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Defesa

Sempre defenderei o direito de qualquer um, preto ou branco, feio ou bonito, rico ou pobre, tricolor ou alvinegro, de ser idiota e de estribuchar. Se defender das besteiras que faz ou diz, é tão humano quanto se admirar das proezas dos bebês e dos pets. A perfeição não nos pertence. A mediocridade nos persegue que nem mosquito em noite quente, sem ar ou ventilador. E se não há sentido real para a nossa existência, embora as religiões insistam em dizer o contrário, não há razão para não nos agarrar com berros e chifres às nossas declaradas convicções, nem todas muito sinceras, mas não custa nada fingir que o mundo gira da esquerda para a direita e que o aquecimento global é culpa dos intrépidos comedores de polenta. O pensamento mediano deve ser defendido no que ele representa como estatistica, não por ter elevado o sertanejo a objeto de arte. E quem pode dizer que aquela sofrência não tem justificativa sincera, principalmente neste universo de feeds, curtidas e nudes? A individualidade é "minha" e de quem aperta botões de modo automático, só pelo prazer de compartilhar o presente. O que importa é causar, estar permanentemente no furdunço do mexerico. A verdade é um sofisma fabricado por interesses escusos e nenhum compromisso com a dialetica das incertezas.