terça-feira, 11 de novembro de 2014

Falso Surdo Escritor

Paulo é acadêmico de letras e nos finais de semana vai ao interior dar aulas de redação a estudantes do ensino médio. Maria é uma de suas alunas e o está seguindo neste momento no ônibus de volta para a capital, coisa que Paulo desconhece, pois está sentado três fileiras à frente, onde escreve um conto. Embevecida pela paixão, ensaiando na imaginação o que dirá ao rapaz tão logo desembarquem, não sente o cheiro acre dos meliantes que vem desde a última fileira fazendo um rapa nos passageiros. Toma o maior susto quando o assaltante puxa-lhe a bolsa com o dinheiro contado para a provável volta e um celular barato que o vagabundo renega e lhe joga na cara – amanhã seu olho amanhecerá roxo. Paulo, entretido com sua escrita, permanece alheio ao pedido insultuoso do bandido que irritado, na certa pensando que se trata de um surdo, arranca-lhe o caderno da mão e esfrega os dedos exigindo grana. Paulo lhe entrega as duas notas de cem que ganhou e implora sonoramente pelo prospecto. Depois de arrebatar as notas com agilidade o ladrão atira o caderno no peito de Paulo que volta imediatamente a escrever. Encerrado o serviço, o assaltante manda o motorista abrir a porta da frente e já pisa o primeiro degrau quando estanca e volta até o falso surdo escritor e pergunta como termina estória. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário