Paulo é acadêmico de letras e nos finais de semana vai ao
interior dar aulas de redação a estudantes do ensino médio. Maria é uma de suas
alunas e o está seguindo neste momento no ônibus de volta para a capital, coisa
que Paulo desconhece, pois está sentado três fileiras à frente, onde escreve um
conto. Embevecida pela paixão, ensaiando na imaginação o que dirá ao rapaz tão
logo desembarquem, não sente o cheiro acre dos meliantes que vem desde a última
fileira fazendo um rapa nos passageiros. Toma o maior susto quando o assaltante
puxa-lhe a bolsa com o dinheiro contado para a provável volta e um celular
barato que o vagabundo renega e lhe joga na cara – amanhã seu olho amanhecerá
roxo. Paulo, entretido com sua escrita, permanece alheio ao pedido insultuoso
do bandido que irritado, na certa pensando que se trata de um surdo,
arranca-lhe o caderno da mão e esfrega os dedos exigindo grana. Paulo lhe entrega
as duas notas de cem que ganhou e implora sonoramente pelo prospecto. Depois de
arrebatar as notas com agilidade o ladrão atira o caderno no peito de Paulo que
volta imediatamente a escrever. Encerrado o serviço, o assaltante manda o
motorista abrir a porta da frente e já pisa o primeiro degrau quando estanca e volta
até o falso surdo escritor e pergunta como termina estória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário