terça-feira, 29 de setembro de 2020

Condução Coercitiva

Não é irreal. Certo dia, andando por uma Rua do Leblon, ouvi um bêbado num boteco de esquina, berrando alto contra Nordestinos, ou seria Paraíbas, nem lembro direito. É claro que não era comigo, e aquilo, apesar de estar sozinho, não me abalou a ponto de temer por meu bem-estar físico; e a figura não merecia atenção sequer do dono do bar. O ano era 2014 e Dilma acabara de vencer a eleição. Muitas vozes se insurgiam contra o populismo do Bolsa Família, que havia garantido os votos de milhões de famintos. O destemido bebum repetia o que ouvia na TV e nas esquinas da Classe Média Brasileira. O salário mínimo ganhava força diante da inflação, as empregadas tinham suas carteiras assinadas e jovens negros e de escola pública sentavam nos bancos das universidades públicas. Como não se insurgir contra tal mudança de enredo social? Tudo isso já foi tão dito e batido que prefiro voltar a atenção ao insulto contra o Bolsa Família. E volto não por vontade própria, mas porque esse mesmo instrumento de amparo social agora ocupa a agenda de quem reverberou as mesmas queixas daquele inconformado baconiano de uma certa esquina do Leblon. Não ouso me insurgir contra qualquer medida que traga arrefecimento da trágica condição econômica por que passa não menos de 30% de nossa população. Enquanto vivermos a ditadura da agiotagem institucional que é a rolagem da dívida pública, enquanto os mais ricos pagarem menos imposto que os mais pobres, e uma imensa reserva de oferta de trabalho impeça a valorização do capital laboral, não poderemos deixar de contar com essa “condução coercitiva” (https://youtu.be/wZbqVXnhVAw), comparação infeliz feita um dia por alguém que ao ver sua popularidade aumentada resolveu seguir pelo mesmo caminho que antes execrava. Ainda bem!!!

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