sábado, 30 de agosto de 2025

moeda

Dois lados 
Da mesma moeda 
Que de encontram
No ar 

Carinho que 
se respira 
Sem o preciso 
Explicar.

Mania de ser
Diferenfe
Corpo suspenso
No ar.

Sorriso 
De tantos caminhos 
Sem ser incerto 
O sonhar. 

Cantigas

Cantigas antigas
Tão minhas amigas
Tão simples cantigas
Boas que só de sonhar.
Sem fá, nem de ré,
Andadas a pé.
Esquecidas do lá 
Moram além do que há. 
Imprecisas no si,
Não sabem mentir.
Perderam o dó 
Na sombra do sol.
Mandaram que o mi
Gostasse de ti. 



estranho

Quando a gente pensa
O mundo parece estranho.
Carinho de menos,
Carência de humildade.
Sorriso venenos,
Antipatia da verdade.
Rumos incertos,
Juros sem fundos,
Manias de fazer
Tudo o que não 
Devia acontecer. 
Universo do estranho 
Coisas difíceis 
De entender.
Caminhos sem volta 
Para não poucos 
Sofrer. 


sábado, 23 de agosto de 2025

Cólica

Quando o sol 
For maior que o céu,
Mais salgado 
Que o sal,
Mais doce 
Que o mel,
Vou engolir tudo,
Remoer bem moído 
E cagar bem tranquilo,
Numa bosta de paixão.

Vigilante

Olhando para dentro
A gente se descobre 
Tão só quanto nasceu.
Se não fosse a mãe,
O que seria de cada um? 

Não há encontro
De dois no infinito.
Só um desejo de mar,
Um raio de sol
Invadindo as razões 

Não há colo
Suficiente para a dor,
Nem peito que alimente 
Os sonhos que a gente 
Quer sempre ter. 

Olhando para fora
O mundo não é grande,
Mas suficiente para a
Maneira imperfeita 
De o entender. 

sábado, 16 de agosto de 2025

Baron Vermelho

Se batons fossem eternamente vermelhos o mundo mal respiraria branco ou rosa. Os fluxos não respeitariam regras ou ideias. As redes balançariam sem fim ao embalo do doce fluir. Prazer seria detalhe. Brincar um retalho. Viver em três palavras. Fácil serem quatro. Tudo sem porque. Cheiro de suvaco. Tentar ser um. E ser dois. Dor na alma. Talvez no rim. Onde está você? Vento corre frio. Mudar para o que não encanta. Jogo besta de quem não tem o que justificar. Queria sentir a ferida esquecida, a agulha profunda que preenche a ausência do desejo da dor. 

luta

Perseguir a luta
De um destino sem fim.
Fonte de luz que flutua
Entre o azul e o carmin.

Quando menos se espera
O destino já passou.
Resta uma torpe quimera
Do brinquedo que quebrou. 

Brincar parece até briga,
Barulho brinca de canção.
Cachaça é quase desgraça
Fumaça é pura ilusão.

Manias que flutuam 
Entre desejo e utopia
Achar graça da bagunça 
Louça suja sobre a pia.

Lembrar que o amanhã 
Não existe na justa
Intenção do puro ser.

Cadê meu caminho?
O que me prometeram?
Sigo só e sozinho! 









sexta-feira, 15 de agosto de 2025

haikai 1

Não devo acreditar 
Em Santos e heresias.
Durmo no silêncio que 
Habita todas as utopias.



Dados

Apostei tudo 
Em algo maior que eu.
Os dados rolaram doidos 
E a sorte não me deu.

Acreditar nunca 
Foi o meu forte,
Olhar para o sul sim
Sempre foi meu Norte. 

O vento do mar
Insiste me perseguir 
Frio que aprendi acalentar 
No calor do doce Rio. 

Navego além do luar
Carente de todo estio.
Seco de tanto esperar
O sabor do próximo navio.

Onda a pureza do céu,
Onde a beleza do mar?
Onde se perde a ilusão 
Se é proibido sonhar?

Bazófia

Não há direito animal maior que o de estribuchar. O bicho acoado vira fera, pela simples perspectiva do tudo ou nada. Toda boa estratégia de guerra deve permitir uma rota de fuga ao inimigo. Uma fera sem opções tem tudo para virar um monstro imprevisível. Os vencidos, principalmente os que foram por pura força bruta, recuam anunciando suas razões e desencantos, mas reconhecem a derrota e seguem adiante na perspectiva de alcançar melhor sucesso no futuro. Afinal o mundo gira e o pavão de hoje será o espanador do futuro, como não cansa de dizer um dileto amigo. Mas o que fazer com os pavões que não percebem a toza das penas? Os que estufam o peito, escondem sua decadência sob tosca maquiagem laranja e piam ou pupilam as mais absurdas idiossincrasias sobre toda comunidade aviária ou não? A turbulência sempre fez parte dessa aventura animal sobre a crosta terrestre, onde nenhum deus conseguiu a unanimidade para proporcionar a harmonia natural a sua suposta criação. Alguns tentam a pacificação com o eterno através do livre-arbitrio, o que outros se utilizam e confundem com liberdade sem fim. A tecnologia permitiu a possibilidade de se espalhar qualquer coisa que brota de qualquer oca cabeça, sem o medo do retalhiamento real e imediato. Pouco importa se o gatilho do inimigo é mais veloz se eu posso atingi-lo de longe, seja com calúnias e difamações. O escrúpulo não incomoda ao pavão sem penas que conta com a plateia de minhocas que ele tem até nojo de bicar. Ou seria só medo de perder a mesmo que torpe e simplória platéia? O mundo é grande. Os mares ocupam 2/3 da superfície da Terra. Nenhum império durou para sempre. 

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

A Cabeça do Santo

O sertão com seus milagres e romarias faz um par ideal e um cenário mais que perfeito para a literatura fantástica latino americana. Gabo não é personagem do enredo, mas se faz presente, juntamente com Rulfo, na perceptível inspiração sobre a autora. O encanto só aumenta quando uma voz da música popular, por sinal nordestina, dá o arremate final neste misterioso mundo de destinos que se cruzam movidos por uma "força estranha", produto final de três vetores que sabem se complementar: coragem, perdão e amor. Numa escrita rápida, quase direta, se não fosse os necessários flash back, a autora consegue prender a nossa atenção e instalar aquele pingo de mistério suficiente para não se querer parar antes de desvendar o mistério. Para tal ela se utiliza de capítulos relativamente curtos, poucos relevantes personagens e uma inusitada e mística verdade. As vozes que brotam da cabeça não são menos importantes que as que nascem dos pés. Como se cada parte do corpo fosse importante e única em sua necessidade. A riqueza da literatura fantástica não está no que tem de fuga da realidade, mas do que tem a propor sobre nossa cruel verdade. 

sábado, 9 de agosto de 2025

Fácil.

É fácil ser pai quando se admira e se orgulha das crias que a gente pariu. Não é a toa que o eu mais tu se confundem com elas e tudo acaba num retumbante nós. Uma bagunça só, feliz e bem arrumada. Os quartos vazios se embaralham com a cama conjunta curtindo de Monteiro a Harry Potter. Eu e elas debaixo do chuveiro, esperas sob o sol equatorial na soleira da escola. Tantas praias, tantos "adeus sol, "até amanhã colégio". Lembranças que não se perdem e insistem no encantar. Não há mundo grande o suficiente para nos afastar. A chuva que cai aqui, um dia vai cair acolá. Os pingos são eternos. Meus dois pingos de amor. Chuva de luz independente que pede permissão por pura educação e gentileza. Corrente de gente que sabe o que quer e faz. Espelho da mãe, sorriso do pai. 

testamento

Se a vida fosse apenas isso, já seria bem mais do que bom. Elegi tantos amigos que pude descartar alguns e não poucos. Deixarei pouca herança, mas torço que seja o suficiente para o desejo de quem vai ficar. Sonhei pouco e distante. Lembranças são fáceis de esquecer, e não me escravizam. Vivi tudo numa intensidade tão concreta que até poderia me despedir sem saudade. Mas ainda é cedo e a lua nem se mostrou no manto negro do céu da noite que me acolherá. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

..fluenciar

Abro a TV para entreter o café da manhã e só fico sabendo de home matando Mulher que não aguenta mais ser tratada como bicho, velhinhos sendo enganados por exploradores da inocência de outros tempos, estressados de tudo pilotando armas em forma de automóveis e motos. Desligo com a impressão certa de que verdadeira crise é a da razão, e não a da moral, como propagam tantas personagens midiaticas que enchem o peito para se proclamarem "influencers". Há pouca coisa que renego tanto e fujo do que essa gente que quer dizer o que devo pensar e ser. Personagens existem e devem ser aplaudidos. Não nego ser seguidor de uns pouquíssimos Youtubers. O Porta e os Buenos da vida me fazem rir e pensar. Difícil se isolar no lago de Walden. Deitar na rede da varanda às quatro da manhã com um bom texto na mão é uma tentativa.  Assistir o nascer do sol com a perspectiva de um despertar diferente é uma sincera ilusão. Não custa nada e faz um bem danado a uma alma que não tem a intenção de influenciar ninguém. 

domingo, 3 de agosto de 2025

abraço

O que quero maior que um abraço? Um cheiro no cangote, um beijo sincero na bochecha, nem sei. Dúvidas me pertencem e me impulsam. Coisas tal que nem saudade. Presença matéria que se vai, lembrança de vida eterna que se impõe na realidade não só  da genética, mas num só desejo de sonhar. 

sábado, 2 de agosto de 2025

Idade

Tenho sessenta e poucos anos. Incomodar o mundo com minha idade é enorme arrogância que não ouso, nem quero impingir. Sofrer é algo que se faz melhor sozinho. Dividir a dor me conduz ao esoterismo, algo que me espanta e busco fugir. Adoro esquinas, opções de rumos impossíveis, mas sempre reais. Encruzilhadas onde o improvável se entrega ao imperioso limite do que somos e deve nos pertencer.