quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A Inviabilidade da Experiência Humana - Diário da Queda -


Somos culpados por nossos atos ou vítimas infelizes de experiências vivenciadas? Carregamos o estigma das marcas da cruz que tivemos que um dia carregar ou somos capazes de ultrapassar barreiras e assumir atitude inversa àquela que nos foi impingida? Diante de crimes hediondos, infelizmente tão banalmente comuns, procura-se sempre encontrar uma razão, um porquê para o indesculpável ato. Muitos alegam: maus tratos na infância, opressão socioeconômica, desilusões amorosas, orgulho ofendido. É difícil fazer um julgamento imparcial de um criminoso que alega ter matado por amor, por isso precisamos de um júri popular para decidir, como representantes da sociedade, sua pena. Mas quem julgará o indivíduo que marcado por seu passado comete um “crime” contra si próprio? Em “Diário da queda” três membros de uma mesma família judia, avô, pai e filho sofrem traumas que marcaram indelevelmente suas vidas. O avô veio para o Brasil após sobreviver a Auschwitz. Passou os seus últimos anos escrevendo uma enciclopédia onde diz como deve ser o mundo, mas guarda para si a dor que o atormenta. O resultado podia ser outro? Seu filho, mesmo depois de assistir a derrocada do pai, assume com sucesso o negócio da família, torna-se um pai atento e um marido amoroso. O neto, no caso o narrador, autor confesso e comparsa de uma infeliz brincadeira que quase aleija um pobre colega gói (não judeu), tem sua consciência atormentada pelo ato e tenta esconder sua culpa no álcool e nos casamentos fracassados que acumula na vida adulta. A questão judaica é a base da pirâmide, o trauma coletivo universal que se imbrica na alma e ganha altura nas atitudes individuais de cada um de seu povo. Já que não se pode simplesmente enterrar no esquecimento as feridas sofridas, tem-se que decidir entre se esconder por detrás das cicatrizes ou, a partir delas e por causa delas, construir uma outra e nova vida.  

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