segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Perdendo Tempo


Motorizado, há muito estaria lá. Andando, economizo gasolina e gasto a caloria da deliciosa cocada da sobremesa. Não me incomoda, pelo contrário, me dá um grande prazer, nem me envergonha, o tempo que tenho para perder vendo a vida de perto nos garotos que conversam animados, um com tênis no pé, o outro de bola na mão; na velha que quase tomba, pela força centrífuga da idade ao dobrar a esquina; na moça de terno que luta contra o suor tentando proteger a maquiagem exigida pela ocupação; no rapaz forte que carrega pilhas de papéis para dentro do colégio, certamente gastando mais energia que eu; no flanelinha que aponta em vão a vaga para a senhora grudada no volante do fusca branco; na moça que, cansada de distribuir os panfletos, repousa o bumbum, que nem a calça jeans apertada consegue levantar, no meio-fio quente de três da tarde; no palhaço que vende mais um candidato para quem quiser se enganar; na farmacêutica que espera o próximo doente de queixo na mão.
Chego ao meu destino e descubro que terei de desperdiçar mais tempo. O painel eletrônico no centro da enorme sala chama a vez do 89 e no pedaço de papel que me deram está grafado 98. Tenho mais nove unidades indeterminadas de tempo para tentar traduzir a vida em palavras.  

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