quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Fitness com o Cão

Findo o programa desligou a TV e foi pro quarto. Abriu o guarda-roupa e, diante do espelho da porta, passou a se analisar, conforme sugeriu a moça da TV. Tirou a blusa e se indignou com as estrias e os pneuzinhos laterais. Agora a saia. Lá estava a famigerada celulite e a bunda arriada. Os braços não passaram no teste do adeusinho. Inconformada com a silhueta lembrou-se da receita da doutora: comer menos e gastar mais calorias. Passar mais fome, impossível. Restavam-lhe os famigerados exercícios. Academia nem sonhar, com o seu salário mínimo! Andar era a solução mais prática, saudável e barata, ensinava a curvilínea professora do vídeo.
Dia seguinte, tão logo chegou do trabalho, botou short, camiseta e tênis, mas não conseguiu passar do portão. A rua escura e deserta não era nada convidativa. Desistiu da caminhada. Tomou um belo copo d’água e foi dormir. Acordou de madrugada com um furo na barriga que entupiu com meio pacote de creme-cracker. Às cinco horas, com as calorias queimando sua consciência, deu uma olhada na rua. O céu ainda começando a clarear não oferecia segurança. Esperou meia-hora e tentou novamente. A rua começava a se animar. Tinha apenas vinte minutos, mas já era um começo. Tão logo pisou a calçada, passou um caminhão lotado de operários em enorme arruaça: assobios e gritos de "gostosa". Desistiu.
Chegou desolada no trabalho. Desabafou com as colegas. “Queria perder uns quilinhos que estavam sobrando, mas não tinha coragem de caminhar sozinha na rua”. “Procura companhia mulher!”, sugeriu a sarada colega.
Deixou a bolsa em casa, correu à vizinha e fez o convite. “Bem que eu tinha vontade, mas esse esporão no calcanho me incomoda até nos afazeres de casa!”. No jardim o cachorro da vizinha veio brincar com ela. Afagando-lhe o pêlo, achou a solução. “Tudo bem”, concordou a vizinha.
Guiada e protegida pelo pastor, sentia-se segura. Nem ligava quando o rapaz da padaria elogiava o cão e perguntava pelo telefone do animal. “Ô piada mais sem graça”, ressabiava e seguia calada. Todo santo dia era a mesma coisa.  “Dá o número do bichinho vai!”, implorava o moço, e ela nem dava bola.
Passado três meses consultou novamente o espelho e ficou animada com o progresso. Comprou uma malha de ginástica com o décimo. Queria mostrar ao mundo e ao moço da padaria suas orgulhosamente conquistadas curvas.
“Vendi o cão, minha filha”, a vizinha deu a notícia com uma entonação de pesar. Desolada, mas animada pela nova silhueta, enfrentou o medo. Chegou incólume a calçada da padaria. O moço estava lá, sentado no caixa. Passou bem devagar e nenhuma reação da parte dele. Seguiu caminho. “Não me viu”, pensou e acelerou o passo.
Nos dias seguintes a mesma coisa. O rapaz olhava pra ela e não dizia nada. Resolveu tomar a iniciativa. “Não vai perguntar pelo cão?”. “Ah, paguei à tua vizinha um bom preço por ele, os menino estavam já me deixando doido”, e
se virou para atender uma cliente. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário