terça-feira, 13 de março de 2012

Dia do Namorado


Ninguém passava pela calçada incólume ao par de coxas na porta do bar. Quem não conhecia o João olhava de soslaio e seguia adiante, a água na boca afogando a inveja do “felizardo”. Os que o conheciam de vista davam boa tarde, sorriam amarelo e iam sonhar mais adiante com a imagem impudica fresca na memória. Havia muitos outros, mas os que interessavam ao nosso felizardo eram os companheiros que viriam sentar a mesa com ele para beber e jogar conversa fora.
“Senta aí cara, a Rosinha não se incomoda não”, fingia um tom casual, mal disfarçando o orgulho.
Com pouco a mesa estava lotada. Rosinha, flor arrodeada de zangões, monopolizava o papo e as atenções, com muito respeito, é claro, ninguém ultrapassava o sinal.
“Mulher de amigo meu pra mim é homem”, todos tentavam se convencer, mas estava difícil pra burro.
Diante do mictório dois deles comentaram.
“Eu não disse que o cara não era bicha coisa nenhuma”, afirmava um.
“É, pra pilotar um avião daqueles tem que ser muito macho”, confirmava o outro.
“Foi criado pela Avó, é só pinta”, explicava.
 Enfim os pombinhos se despediram. Era o primeiro dia dos namorados deles.
“Tinham muito que comemorar”, disse João sem deixar nada escondido nas entrelinhas, enquanto Rosa se enroscava despudoradamente em seu corpo, que só soltou quando dobraram a esquina.
“Passa a grana boneca”, estendeu a mão gulosa.
“Já sabe né, bico calado”, obrigado.
Enquanto a boazuda se afastava faceira ele entrou no carro do namorado. 


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