quinta-feira, 22 de março de 2012

Vergonha


Calorão. Sede braba. O bebedouro ocupado pelo cara que saiu tossindo grosso. Um embrulho subiu até a boca. Nãaaaa. Cruzou a rua e entrou no bar. Pediu uma garrafinha de mineral e um copo plástico. Enquanto esperava o copo descobriu o rapaz que tomava uma gelada num canto escondido do bar. As pernas amoleceram. Sentou na cadeira mais próxima. Matou a sede, ficou a vontade. Diante da indiferença achou por bem ir embora, a aula já devia ter começado. Quando voltou o bar estava fechado. Virou freguesa. Só na sexta seguinte reencontrou a razão de seu desejo. Já estava grandinha demais para tanto pudor. Perguntou se podia tomar um gole. Duas horas depois estava esparramada na cama, tonta do gozo, grogue de prazer, feliz pelo sonho realizado. O barulho da descarga desperta a atenção. Fixa-se na porta. Sorri diante da expectativa da imagem idolatrada. Ele aparece de camisa passada, cheiro de sabonete. Tira a carteira do bolso de trás. Escolhe algumas notas que coloca sobre a cabeceira. Como ela não reclama entende que é o bastante e sai apressado. Chora, consumida pela vergonha, por seis dias e seis noites. Quando ele chega a encontra na mesa de sempre. Comem e bebem mais do que o de costume. Toma a conta da mão dele. “Hoje quem paga sou eu”.   07.10.05

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