segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A Morte do Amigo

A fila avança lentamente ao lado do caixão do amigo.
O véu fino não esconde a careca e o bigode ridículo, que a mulher não permitiu ser tirado, nem depois de morto. O grupo se junta num canto. Fala-se pouco, um fungado aqui outro ali. É Sexta; finda a tarde.
Enterrado o amigo, se despedem sem palavras. Um adeus de mão é mais que suficiente. Falar abriria a barreira que retêm as lágrimas.
Meia hora depois o primeiro chega ao bar. Logo são dois; ninguém gosta de beber sozinho. Bebem devagar, sem sede. O álcool sobe devagar à cabeça e as palavras vão se tornando mais soltas e espontâneas. Os celulares tocam uníssonos, as mulheres reclamam do despautério. Dão a sincera e óbvia desculpa:
-         Ele adorava esta cerveja de sexta!
-         Era sempre o primeiro a chegar!

Depois da missa de sétimo dia combinam se encontrar para beber o amigo. Hoje são três:
-         Nunca faltou uma sexta!
-         Só saia quando apagavam a luz do bar!
-         Era quem dividia a conta!

Mês seguinte estão no bar, quando chega o quarto:
-         Porra vocês não foram pra missa de mês?
-         Aquele ateu lá queria saber de missa, gostava mesmo era de tomar uma gelada;
-         Saia sempre por último já melado;
-         Dividia a conta e sempre pagava menos que todo mundo.

Ano seguinte: estão todos lá:
-         Poxa, esquecemos a missa de ano;
-         Se fosse a minha ele não teria ido;
-         É, mas ninguém aqui me diz que ele não faz falta;
-         Era um irreverente!
-         Um brinde ao amigo que nunca saiu da nossa mesa!


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