sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Velho Lavrador


Quem viveu ou passou pelo interior conhece este retrato:
Um velho lavrador sentado num banco do alpendre de uma casa de reboco, a face marcada de rugas, o chapéu de palha derreado na cabeça, a roupa herdada, amarelada de tão surrada, a perna abraçada, a havaiana fina, o calcanho roído, sobre o banco. Pita um cigarro de palha, o cachorro sarnento recostado por ali. No terreiro em frente da casa uma galinha do pescoço pelado no comando de seus pintinhos, um bode velho e um jumento tão magros quanto o dono. A caatinga reflete o dourado do sol. O calor amenizado vez e outra por uma brisa morna.  A cigarra substitui o barulho da enxada inútil nos tempos de seca. O olhar perdido procura no infinito uma gota de nuvem que nunca vem. Quem quiser pode parar, sentar por ali e sempre poderá ter um dedo de prosa, ouvir uma história dos tempos passados, dos bons invernos e das terríveis secas. Aprender como preparar a terra, semear um grão de milho ou feijão. É um homem simples e humilde que trata de doutor todo mundo que calça sapato, dirige um automóvel, ou mora na capital. Nem pensar em recusar o cafezinho feito na hora pra esquentar o colóquio.
Hoje, no caminho para o trabalho, vi um velho que me pareceu ser um velho lavrador tangido pela seca para a cidade. Estava sentado num banco de alvenaria, na pequena varanda de uma casa do subúrbio, na certa de um filho ou parente. O cigarro de filtro parecia estranho em sua boca. Nenhuma presença humana ou animal por perto. Tinha o olhar perdido, procurava um lugar no infinito. Via além da grade de ferro na frente da casa. A fumaça e o barulho dos carros e ônibus lhe eram indiferente. Estava longe. Uma lágrima solitária inundava o sulco da face pela certeza de que jamais reverá ao seu sertão.

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