sábado, 4 de outubro de 2025

Poder

Possibilidades 
Não se perdem,
São impedidas.

Entre o dom
De existir, ou
Simplesmente ser,
Há um mar,
Mesmo que oculto,
De pura e obscura 
Intencionalidade. 


quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Canções

Canções são compostas
Nas partituras da vida,
No amor que não aconteceu 
No sonho que virou ferida.

No compasso das notas,
A gente vai esquecendo
As dores que já não importam,
Os restos que fomos deixando. 

E só no último acorde
Entendemos o que é preciso.
Palavras perdidas no tempo
Coladas num último sorriso. 


sábado, 20 de setembro de 2025

Cronos.

Cronos meu bem.
Lembro, 
Vero vagamente 
Do tempo em que 
Você não existia.

Tudo era um misto 
De dor e euforia
Confusão de gente
Que pouco sabia,
A noite era assim,
Maior que o dia.
E chorava quem 
Pouco entendia. 

Você chegou 
E embolsou a alegria.
Contou para todos
Que aquela euforia
Era coisa de louco,
E o que sim só valia
Era a contagem de cada 
Luz incontável do dia. 

Acordar para dormir 
Em cama macia.
Dormir para acordar
Virou foi mania.
Anotar os segundos,
Construir agendas,
Correr porque o mundo
Prendas outras exigia.

Trocar oferendas
Viajar entre as fendas
Do que existe e o deveria, 
Estradas tortas e tantas vias,
Dobras que toldam a imaginação 
E deixam topes qualquer 
Bobo coração. 

Cair não pede inocência 
Só as crianças merecem perdão.
O fundo do poço exige tanta 
Luta quanto resignação. 




Desatino

Quando as crianças dormem
Os ratos invadem as mansões. 
Fantasmas estampados nas paredes.
Redes se embaralham nas emoções.

Um copo a mais que se insinua
Outro corpo acolá pedindo mais
Pouco resta além desse desejo,
Senhor do destino sem capataz.

E quando parece que tudo está findo 
Surge um sorriso de tudo capaz.
Lampejo de beijo, melado e preciso,
Alvo perfeito prum sopro de paz. 


quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Conflitos

Brigar por causa de políticos é atitude que não interessa a ninguém que considere discutir a política importante e essencial para qualquer sociedade. O voto(candidato) quase nunca se identifica totalmente com o posicionamento de quem reflete sobre as coisas do mundo. Ele vai para quem mais se aproxima dos seus ideais. Não se vota na pessoa, mas na ideia que melhor reflete seu modo de pensar. A radicalização e o dogmatismo, assim como o discurso de que o sistema político é corrupto e não merece confiança, interessa aos autoritários e aos que não sabem, nem querem discutir as complexas questões políticas, econômicas  e sociais que nos afligem.

sábado, 13 de setembro de 2025

Verdade

A verdade flutua entre o que é bom e útil até o que se esconde nas entrelinhas das vontades. É fácil abrir o verbo e se declarar dono dela, esquecendo que a menina é sorrateira, cheia de manias e lindamente independente. Talvez seja mais fácil encontrá-la numa birra de menino chorão, reclamando para si o brinquedo que outro pai comprou para seu filho, do que na retórica inflamada de quem só enxerga o mundo atravéz da lente da hipocrisia e da própria psicopática paranóia. Muitos apelam para o sobrenatural, buscando uma divina intervenção para seu discurso e procurando no sagrado as justificativas que lhes dêem a inapelavel razão. Na interminável luta entre a emoção e a razão só ganha quem entende a fluidez do que nos move. 

sábado, 6 de setembro de 2025

Paz

A paz flutua solta
No meio do céu azul.
Tá vendo aquele passaro?
Sou eu mais tu. 

Labirintos imaginários,
Correntes de ar 
Que assobiam 
Sem querer parar. 

Sussuros de desejos
Condenados ao sentir. 
Carícias infindas 
Sem o medo de cair. 

E quando o sol se deitar
Restará dois serenos corpos 
Cansados a sonhar 
Com a viagem a seguir. 

sábado, 30 de agosto de 2025

moeda

Dois lados 
Da mesma moeda 
Que de encontram
No ar 

Carinho que 
se respira 
Sem o preciso 
Explicar.

Mania de ser
Diferenfe
Corpo suspenso
No ar.

Sorriso 
De tantos caminhos 
Sem ser incerto 
O sonhar. 

Cantigas

Cantigas antigas
Tão minhas amigas
Tão simples cantigas
Boas que só de sonhar.
Sem fá, nem de ré,
Andadas a pé.
Esquecidas do lá 
Moram além do que há. 
Imprecisas no si,
Não sabem mentir.
Perderam o dó 
Na sombra do sol.
Mandaram que o mi
Gostasse de ti. 



estranho

Quando a gente pensa
O mundo parece estranho.
Carinho de menos,
Carência de humildade.
Sorriso venenos,
Antipatia da verdade.
Rumos incertos,
Juros sem fundos,
Manias de fazer
Tudo o que não 
Devia acontecer. 
Universo do estranho 
Coisas difíceis 
De entender.
Caminhos sem volta 
Para não poucos 
Sofrer. 


sábado, 23 de agosto de 2025

Cólica

Quando o sol 
For maior que o céu,
Mais salgado 
Que o sal,
Mais doce 
Que o mel,
Vou engolir tudo,
Remoer bem moído 
E cagar bem tranquilo,
Numa bosta de paixão.

Vigilante

Olhando para dentro
A gente se descobre 
Tão só quanto nasceu.
Se não fosse a mãe,
O que seria de cada um? 

Não há encontro
De dois no infinito.
Só um desejo de mar,
Um raio de sol
Invadindo as razões 

Não há colo
Suficiente para a dor,
Nem peito que alimente 
Os sonhos que a gente 
Quer sempre ter. 

Olhando para fora
O mundo não é grande,
Mas suficiente para a
Maneira imperfeita 
De o entender. 

sábado, 16 de agosto de 2025

Baron Vermelho

Se batons fossem eternamente vermelhos o mundo mal respiraria branco ou rosa. Os fluxos não respeitariam regras ou ideias. As redes balançariam sem fim ao embalo do doce fluir. Prazer seria detalhe. Brincar um retalho. Viver em três palavras. Fácil serem quatro. Tudo sem porque. Cheiro de suvaco. Tentar ser um. E ser dois. Dor na alma. Talvez no rim. Onde está você? Vento corre frio. Mudar para o que não encanta. Jogo besta de quem não tem o que justificar. Queria sentir a ferida esquecida, a agulha profunda que preenche a ausência do desejo da dor. 

luta

Perseguir a luta
De um destino sem fim.
Fonte de luz que flutua
Entre o azul e o carmin.

Quando menos se espera
O destino já passou.
Resta uma torpe quimera
Do brinquedo que quebrou. 

Brincar parece até briga,
Barulho brinca de canção.
Cachaça é quase desgraça
Fumaça é pura ilusão.

Manias que flutuam 
Entre desejo e utopia
Achar graça da bagunça 
Louça suja sobre a pia.

Lembrar que o amanhã 
Não existe na justa
Intenção do puro ser.

Cadê meu caminho?
O que me prometeram?
Sigo só e sozinho! 









sexta-feira, 15 de agosto de 2025

haikai 1

Não devo acreditar 
Em Santos e heresias.
Durmo no silêncio que 
Habita todas as utopias.



Dados

Apostei tudo 
Em algo maior que eu.
Os dados rolaram doidos 
E a sorte não me deu.

Acreditar nunca 
Foi o meu forte,
Olhar para o sul sim
Sempre foi meu Norte. 

O vento do mar
Insiste me perseguir 
Frio que aprendi acalentar 
No calor do doce Rio. 

Navego além do luar
Carente de todo estio.
Seco de tanto esperar
O sabor do próximo navio.

Onda a pureza do céu,
Onde a beleza do mar?
Onde se perde a ilusão 
Se é proibido sonhar?

Bazófia

Não há direito animal maior que o de estribuchar. O bicho acoado vira fera, pela simples perspectiva do tudo ou nada. Toda boa estratégia de guerra deve permitir uma rota de fuga ao inimigo. Uma fera sem opções tem tudo para virar um monstro imprevisível. Os vencidos, principalmente os que foram por pura força bruta, recuam anunciando suas razões e desencantos, mas reconhecem a derrota e seguem adiante na perspectiva de alcançar melhor sucesso no futuro. Afinal o mundo gira e o pavão de hoje será o espanador do futuro, como não cansa de dizer um dileto amigo. Mas o que fazer com os pavões que não percebem a toza das penas? Os que estufam o peito, escondem sua decadência sob tosca maquiagem laranja e piam ou pupilam as mais absurdas idiossincrasias sobre toda comunidade aviária ou não? A turbulência sempre fez parte dessa aventura animal sobre a crosta terrestre, onde nenhum deus conseguiu a unanimidade para proporcionar a harmonia natural a sua suposta criação. Alguns tentam a pacificação com o eterno através do livre-arbitrio, o que outros se utilizam e confundem com liberdade sem fim. A tecnologia permitiu a possibilidade de se espalhar qualquer coisa que brota de qualquer oca cabeça, sem o medo do retalhiamento real e imediato. Pouco importa se o gatilho do inimigo é mais veloz se eu posso atingi-lo de longe, seja com calúnias e difamações. O escrúpulo não incomoda ao pavão sem penas que conta com a plateia de minhocas que ele tem até nojo de bicar. Ou seria só medo de perder a mesmo que torpe e simplória platéia? O mundo é grande. Os mares ocupam 2/3 da superfície da Terra. Nenhum império durou para sempre. 

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

A Cabeça do Santo

O sertão com seus milagres e romarias faz um par ideal e um cenário mais que perfeito para a literatura fantástica latino americana. Gabo não é personagem do enredo, mas se faz presente, juntamente com Rulfo, na perceptível inspiração sobre a autora. O encanto só aumenta quando uma voz da música popular, por sinal nordestina, dá o arremate final neste misterioso mundo de destinos que se cruzam movidos por uma "força estranha", produto final de três vetores que sabem se complementar: coragem, perdão e amor. Numa escrita rápida, quase direta, se não fosse os necessários flash back, a autora consegue prender a nossa atenção e instalar aquele pingo de mistério suficiente para não se querer parar antes de desvendar o mistério. Para tal ela se utiliza de capítulos relativamente curtos, poucos relevantes personagens e uma inusitada e mística verdade. As vozes que brotam da cabeça não são menos importantes que as que nascem dos pés. Como se cada parte do corpo fosse importante e única em sua necessidade. A riqueza da literatura fantástica não está no que tem de fuga da realidade, mas do que tem a propor sobre nossa cruel verdade. 

sábado, 9 de agosto de 2025

Fácil.

É fácil ser pai quando se admira e se orgulha das crias que a gente pariu. Não é a toa que o eu mais tu se confundem com elas e tudo acaba num retumbante nós. Uma bagunça só, feliz e bem arrumada. Os quartos vazios se embaralham com a cama conjunta curtindo de Monteiro a Harry Potter. Eu e elas debaixo do chuveiro, esperas sob o sol equatorial na soleira da escola. Tantas praias, tantos "adeus sol, "até amanhã colégio". Lembranças que não se perdem e insistem no encantar. Não há mundo grande o suficiente para nos afastar. A chuva que cai aqui, um dia vai cair acolá. Os pingos são eternos. Meus dois pingos de amor. Chuva de luz independente que pede permissão por pura educação e gentileza. Corrente de gente que sabe o que quer e faz. Espelho da mãe, sorriso do pai. 

testamento

Se a vida fosse apenas isso, já seria bem mais do que bom. Elegi tantos amigos que pude descartar alguns e não poucos. Deixarei pouca herança, mas torço que seja o suficiente para o desejo de quem vai ficar. Sonhei pouco e distante. Lembranças são fáceis de esquecer, e não me escravizam. Vivi tudo numa intensidade tão concreta que até poderia me despedir sem saudade. Mas ainda é cedo e a lua nem se mostrou no manto negro do céu da noite que me acolherá. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

..fluenciar

Abro a TV para entreter o café da manhã e só fico sabendo de home matando Mulher que não aguenta mais ser tratada como bicho, velhinhos sendo enganados por exploradores da inocência de outros tempos, estressados de tudo pilotando armas em forma de automóveis e motos. Desligo com a impressão certa de que verdadeira crise é a da razão, e não a da moral, como propagam tantas personagens midiaticas que enchem o peito para se proclamarem "influencers". Há pouca coisa que renego tanto e fujo do que essa gente que quer dizer o que devo pensar e ser. Personagens existem e devem ser aplaudidos. Não nego ser seguidor de uns pouquíssimos Youtubers. O Porta e os Buenos da vida me fazem rir e pensar. Difícil se isolar no lago de Walden. Deitar na rede da varanda às quatro da manhã com um bom texto na mão é uma tentativa.  Assistir o nascer do sol com a perspectiva de um despertar diferente é uma sincera ilusão. Não custa nada e faz um bem danado a uma alma que não tem a intenção de influenciar ninguém. 

domingo, 3 de agosto de 2025

abraço

O que quero maior que um abraço? Um cheiro no cangote, um beijo sincero na bochecha, nem sei. Dúvidas me pertencem e me impulsam. Coisas tal que nem saudade. Presença matéria que se vai, lembrança de vida eterna que se impõe na realidade não só  da genética, mas num só desejo de sonhar. 

sábado, 2 de agosto de 2025

Idade

Tenho sessenta e poucos anos. Incomodar o mundo com minha idade é enorme arrogância que não ouso, nem quero impingir. Sofrer é algo que se faz melhor sozinho. Dividir a dor me conduz ao esoterismo, algo que me espanta e busco fugir. Adoro esquinas, opções de rumos impossíveis, mas sempre reais. Encruzilhadas onde o improvável se entrega ao imperioso limite do que somos e deve nos pertencer. 

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Procura

O amigo que procuro 
Não tem medo do escuro
Descobre no instinto 
O que não deveria ser
Mas acaba  sendo o 
A gente não sabe se quer. 

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Sofrência

... Melhor sofrimento 
É o fingido.
O que dura um 
Simples porre,
E acorda esquecido.
Fossa é coisa para se
Cultivar por puro querer.

A revolta não dura muito.
Olhar para um futuro
Que ficou bem para trás.
Abandonado ao esquecimento.
Hoje nunca é tarde demais.

O amanhã sempre nos 
Espera com um calor 
Novo e sem sentido. 
Uma lágrima fria,
Carente se emoção.
Um suspiro calado,
Mão que não esquece 
O toque da outra mão. 

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Carinho

O carinho chega devagar. Ave que plana serena, sem pressa, sobre o ninho. Para que essa brisa se podemos simplesmente acreditar? Cheiro que insulta os mais doces sentidos. Sábios lamberes que sabem insultar. Membros que se perdem no que há de melhor do encontro. Solidão no desejo de infindo prazer. 

sorte

... Talvez seja preciso
Acreditar na sorte.
Jogar a moeda para cima 
E entender que cada cara 
Se entende bem com a coroa.
Os pares se encontram
Com os impares e as 
Equações se enquadram
No que há de melhor 
No infinito improvável.

Sorte é contar com o 
Imperfeito. 
Saber que é bom 
De qualquer jeito.
Entender o ridículo 
De se entender perfeito. 
Fugir da certeza e
procurar estar no 
Incessantemente perto. 




terça-feira, 10 de junho de 2025

Calos

... Quem falou 

que seria fácil?

Abrir portas de 

ferrolhos enferrujados.

Romper frestas

que escondem 

curiosidades. 

Bater, 

malhar em ferro frio,

criar calos,

quebrar ossos,

cegos para o longe, 

esquecidos do destino.  

Naturalmente

... Não há arco-íris

que explique as 

cores do mundo. 

Ventos e nuvens 

passeiam pelos céus, 

sem medo de tempestade. 

Há grãos suficientes para

aquiescer qualquer 

pretensão de grande rocha. 

A natureza do fogo é queimar, 

mas encanta. 

O sonho nasce na segurança

do sono, mas perturba. 

A paz não habita a

pena de uma pomba.

Da guerra é a última sombra. 


Labirinto

 Afinal

tudo é espanto, 

nenhuma dor,

algum pranto. 

Passo sem caminho,

destino inutilmente

incerto. 

Sorver tudo que

restou por perto, 

sem remorso,

se perder no 

labirinto para 

sempre aberto. 

Inocente mente

Quero viver

até quase sempre,

sentindo cada dor

do infinito presente, 

desejando o fim, 

assim como quem 

inocente mente. 

Desonestidade

 O assim

e o assado

se confundem

nas entrelinhas

da natural 

desonestidade,

tanto alheia

quanto nossa;

estupidamente 

humana. 

Prato sujo

As palavras passeiam 

por caminhos incertos

até caírem desajeitadas

num pedaço qualquer de papel.

Serão sinceras?

Sonham suas novelas?

Embalam como doces

ou insultam tal o fel?

Terminam por vezes

escondidas atrás de retratos, 

restos de comida

que sujam os pratos, 

mas jamais perdem 

a força da intenção. 

Multas

 Nunca pedi

para ser perdoado. 

Esquecido talvez,

compreendido jamais. 

Furei muito 

sinal fechado.

Pago todas as multas

com grandes doses 

de orgulho. 

Suores

 Madrugadas

nem sempre são frias.

Algumas são tão quentes

quanto a pele de uma 

mulher ardente.

Nos acorda suados

com uma língua

entre os dentes,

sem saber se é verdade

ou se vive o que sente.  

Ícaros

 Percorro o mundo dos 

sonhos e me perco

esquecido entre as 

ilusões do mérito. 

Quanto querer cabe 

na realidade do possível?

Multidões pulam 

em abismos. 

Ícaros inocentes 

acreditam em asas. 

Se é preciso tentar, 

seja cos pés no chão.

Energia

 Depois de pintar

o céu de azul, 

flertar com as nuvens,

e instigar o labor das plantas, 

o sol beija calorosamente 

a terra que o seduz. 

Veredas

Sonhando alto,

passeio com as nuvens.

De pé no chão

sou comido pelas formigas.

Se há veredas no meio,

todas são minhas inimigas.  

Seca

 Chuva no solo certo

seria um presente de Deus. 


Calor e dor rimam

aqui em baixo, na Terra. 


Não pertencem aos 

desígnios dos céus. 

Covas

 Os passos são 

curtos para 

justificar os destinos. 

Sorrisos impossíveis, 

carinhos perdidos

nas entrelinhas 

entre o querer e o poder. 

A cova que nos espera,

chora a teimosia do 

insuportável respirar. 

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Defesa

Abdicar da simplicidade de uma cerveja antes do almoço é quase como desistir da doçura da vida. Enquanto se ouve a frigideira chiar na cozinha, se examina sem dor as intempéries do mundo das ideias e dos fatos. Para que sofrer sem analgésico legal? 

A dor que não preenche uma mínima alma não tem permissão de se fazer sentir. Toma-se um gole bem gelado, arrasta-se tudo que cabe na garganta e joga-se ela fora num sórdido e único escarro. 

Se pedisse para sofrer, não seria assim, jeito bobo, sem motivo aparente, besteira em forma de gente. Sofreria de fato completo, peito aberto, coração sem desculpa, alma plena de pecado, orgulhoso de cada um. Minuto em que se exalta a veracidade de cada incompreensível destino. 

Há lapso incrível entre o que se deseja e o que se entende ser. Os pingos se chocam, as vírgulas carecem de razão, a gramática se embaralha numa modesta intenção de originalidade. Há um terrível anseio de sempre mais na concepção inefável da imortalidade. 

terça-feira, 27 de maio de 2025

Templo

Abrir portas e janelas,
deixar o tempo correr 
por toda a casa,
da sala à cozinha. 

Só não deixar que 
entre no quarto: 
templo sagrado 
dedicado à pequena morte
e ao grande amor. 

sábado, 24 de maio de 2025

Pronto

O chafaris secou,
Sei nem de que fonte.
Desejo que encontra
Seu impreciso fim.

É preciso descansar.
Deixar para outras ideias
A imagem imaculada
Da eternidade e imaginar 
Que a beleza está na 
Tão própria existência.


Sorrisos

...Risos são aqueles
Que prescindem de sentido.

Vislumbre de chuva 
Que não vai cair,

Cordas que encantam,
Notas dissonantes
De louca canção.

Dormir sonhando 
A luz que ficou escondida 
Na pura sombra 
Que pouca gente faz.

As garrafas que sobram 
Perdidas nas sargetas,
Abandonadas onde 
Nenhum deus pode 
Entender,
Deixam rastros de uma 
Viagem que ninguém
Ousa esquecer..

domingo, 11 de maio de 2025

Matriarcado

A música nasce longe e me atrai até a Praça do Pueblo de Machu Picho. Olhando o céu escuro que chora uma fina garoa percebo luzes de holofotes que dançam de um lado para outro. O barulho na praça chega a ser ensurdecedor, mas a alegria é contagiante. Garrafas se esvaziam enquanto corpos se movem alegres, bocas se beijam, mãos se enlaçam e braços levantam os que sucumbiram ao torpor do álcool. Os balões acima do palco anunciam que toda a festa é direcionada a elas: às mães. Os povos andinos preservam o culto à Mãe Terra. A Deusa que lhes acolhe e dá o sustento: o alimento e o ninho. E o que mais simboliza o acolhimento do que os braços de uma mãe? Nascemos seres perdidos no tempo e no espaço, e certamente não estaríamos ocupando e perambulando pela vida se não contassemos com o calor e alimento do seio materno. Mas hoje sou eu que quero ampará-la, levanta-la do chão onde dorme tão quieta, e acolhendo-a bem colada a minha alma, dizer que a amo e que nunca será esquecida enquanto existir a vida que ela me deu.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Caviar

... Nada mais a esquerda que um voto fora de sua classe. Por isso até sorrio orgulhoso quando me acusam de apreciador de caviar. Lembro que já comi e gostei, mas não ando sonhando em espalhar aquelas bolinhas gelatinosas sobre a minha torrada e sair postando nas redes que sou chique e realizado. Prefiro a boa e proletária geleia de goiaba. Um guacamole  é quase exótico para muitos, mas entra no meu cardápio semanal. As ovas de esturjão deveriam ser acessíveis a todos, assim como o arroz com passas, a picanha, os ovos de páscoa, as cervejas artesanais e os voos para a Disney, embora eu prefiro Paris. Eu e o Chico.    

terça-feira, 8 de abril de 2025

Vagabundo

Não ligo muito se me chamam vagabundo. Afeito à concepção primordial da palavra, até me encanta ser um ser que vaga pelo mundo desfrutando de suas delícias, sem saber bem como elas vieram até minha pessoa. Não há nada de vago no real aproveitamento do que uma vida simples e honesta tem a nos oferecer. Os andarilhos são testemunhas do que o caminhar em vão tem a inspirar o espírito e a imaginação. Trabalhar é coisa de quem não tem o que fazer, muito ao contrário dos meritocratas e produtivistas que dormem tarde e acordam cedo, ou pelo menos é o que pregam a quem procuram enganar. Não a toa a meditação está cada dia mais receitada para quem procura o aperfeiçoamento de sua plasticidade cerebral. O stress tem valor contra os perigos das florestas e das esquinas, mas experimentado a exaustão, promove um irremediável encurtamento do calendário da vida vivida. O jeito certo seria vagar? Não sei de mais ninguém além de mim, mas procuro aproveitar ao máximo os momentos de puro ócio, quando a vida parece parada o suficiente para me perder dentro dela e me sentir eterno, mesmo que não passe de um sincero vagabundo. 

domingo, 6 de abril de 2025

Festa Cancelada

Se pecar é humano e o homem lá de cima foi criado para perdoar os deslizes de suas criaturas, para que são feitas e até escritas as leis? Nunca alguém me abordou na esquina ou em mesa de bar para comentar sobre a página 12 do Diário da União de hoje, mas todas as ações de governo devem estarem devidamente registradas lá, senão vira outra coisa, golpe por exemplo. Só se oficializa um golpe depois dele ter sido perpetrada. "Nove Dedos, Picolé de Xuxu e o CareXandão serão exportados, sem nenhuma taxação, para China, lugar de Comunistas. Revogue-se todas as disposiçoes em contrário. Brasília 09.01.2023". Antes de executado, um golpe só pode ser registrado em Minutas. Estas, mesmo que impressas no Palácio do Governo, não têm poder de ofício. Servem apenas como testemunha de acusação. Mas pecar é humano e pode e deve ser perdoado, ou não? Antes que as urnas decidam definitivamente a questão, as ruas gritarão seus sins e seus nãos. Se a chuva deixar, é claro!!!! 

sábado, 5 de abril de 2025

Depois da...

Depois da terceira o mundo ganha um brilho que não pode ser chamado estranho, vamos dizer especial. As bordas se insinuam, as cores parecem pedir para sair das coisas que as aprisionavam. O ritmo ganha tempo, ou seria o contrário? Tanto faz. A realidade dos compromissos e a incompreensível solidão dos corpos elementares perdem o que têm de insólitos, para se perderem numa dimensão plena de luz e pura energia. E quem não escapa da ventania, que varre para longe os percalços e os odores, se descobre vítima da íntima impressão de completude estóica com a vida e o mundo irresponsável da verdade. 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Defesa

Sempre defenderei o direito de qualquer um, preto ou branco, feio ou bonito, rico ou pobre, tricolor ou alvinegro, de ser idiota e de estribuchar. Se defender das besteiras que faz ou diz, é tão humano quanto se admirar das proezas dos bebês e dos pets. A perfeição não nos pertence. A mediocridade nos persegue que nem mosquito em noite quente, sem ar ou ventilador. E se não há sentido real para a nossa existência, embora as religiões insistam em dizer o contrário, não há razão para não nos agarrar com berros e chifres às nossas declaradas convicções, nem todas muito sinceras, mas não custa nada fingir que o mundo gira da esquerda para a direita e que o aquecimento global é culpa dos intrépidos comedores de polenta. O pensamento mediano deve ser defendido no que ele representa como estatistica, não por ter elevado o sertanejo a objeto de arte. E quem pode dizer que aquela sofrência não tem justificativa sincera, principalmente neste universo de feeds, curtidas e nudes? A individualidade é "minha" e de quem aperta botões de modo automático, só pelo prazer de compartilhar o presente. O que importa é causar, estar permanentemente no furdunço do mexerico. A verdade é um sofisma fabricado por interesses escusos e nenhum compromisso com a dialetica das incertezas. 

domingo, 30 de março de 2025

Lindeza

Quem não acha 
A mãe bonita,
Não nasceu para filho.
Mães são sempre belas,
Dentro seja da camisola 
Ou em vestido de passarela.
Rosto de mãe 
É puro encanto.
Embala sonhos,
Enxuga prantos .
Mulher que é mãe 
Se torna linda,
Pintura gravada
Na moldura da eternidade,
Carinho esculpido
Em saudade infinda. 

quinta-feira, 27 de março de 2025

Caminhos

Caminhos são tantos
Quantas as possibilidades.
Pais e Mães respondem
Por toda e sincera vontade.
Filhos são tão improváveis
Quanto a incerta realidade.
Herdar o nariz
Ou a média das alturas
É tão indiferente
Quanto ousar 
Dividir sonhos. 
A matéria que nos une
Devia ser suficiente 
Para nos fazer únicos. 
Caminhos são tantos 
Quanto são as verdades. 






sábado, 22 de março de 2025

Assinaturas

Nada mais para fazer senão lembrar. Enquanto assisto a vida correr para lá e cá, entre tantos rostos para quem sou um perfeito invisível, passeio o pensamento por aqueles que se fizeram saudade. Revejo as lições da infância, as pequenas palmadas pela pequena malcriação, as brigas por motivos incertos, as pequenas e grandes confidências, os cafunés que valiam moedas, os braços que me carregavam para a cama, os xaropes e infusões que aliviavam as incômodas gripes, as viagens vividas e as nunca realizadas, os olhares cheios de compreensão, mas também de repreensão, tudo assim embaralhado, coisas e fatos tão cotidianos que fica difícil explicar o porquê de permanecerem registradas na memória. Enquanto o mundo gira, e com ele cada um de nós, vira dúvida nosso sonho de eternidade. Será que somos esse sonho? A resposta é tão incerta quanto é real a presença de todos que assinaram o caderno de minha história. 

Ausência Anunciada

Não é dor.
Passa bem perto 
De uma ausência 
Anunciada. 
Sabe aquela cantiga
Que a gente sabe 
Que vai ouvir,
Mas teima em mudar
O dial ao mínimo acorde? 
Mas sempre chega o dia,
E a gente sente 
Tanto cheiro conhecido,
Ouve todos os conselhos 
Reincidentes,
Lembra de cada 
Minuto de embalo
E de real companheirismo,
Que fica difícil não
Sucumbir a um sentimento 
De vazio. 
Assim se conta e faz 
História. 
Um dia de cada vez. 
O amanhã não pertence 
A quase ninguém.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Corações

Mais um coração veio morar e pulsar no meu peito. Meu eletro espiritual não é feito de linhas, mas de nomes: Seu Teúnes, Dona Helena, Tiquinha, Hermênio, Tio Vicente, Tio Egberto, Primo Edmilson, cada um e tantos outros fazem parte e contam um muito de mim. As lágrimas que me surgem ao lembrá-los "quase" secam ao senti-los bater forte aqui dentro e saber que se instalaram de forma tão mansa e natural quanto é a justa realidade de uma vida plena de amor. Eles me ajudam a empurrar cada gota de sangue, aparecem nos sonhos que me acordam no meio das noites e se insinuam misteriosamente em cada arco-iris de madrugada úmida. 
Entao tá.
Então tum.
Ausência carente de dor.
Então tá 
Então tum.
Doce sentir esse calor.
Então tá 
Então tum
Guardo todos com muito amor. 

terça-feira, 11 de março de 2025

Abismo

Cadê a solidão que

abandonei na esquina,

sem migalha ou gota? 

Pode ter chovido.

Do chão um pão seco nasceu. 

Criança maldita. 

Nenhuma mãe quer. 

Tua sorte é a franqueza. 

Tiro no meio da testa.

Abismo que a planta do pé anuncia. 

Vazio que o horizonte empresta.

Afago de mão fechada e vazia. 

segunda-feira, 3 de março de 2025

Carnaval

Tomara que chova.
Três dias parecem pouco
Para quem nunca
Esqueceu o que é brincar.

Chuva de alegria 
Passo dado sem galocha.
Chuva de euforia.
Para quem não se importa.

Lá vem ela.
Gabriela que sobe telhados
Odor de gente 
Sem pena dos enjeitados.

Queimar incensos
Adorar tantos deuses 
Quantos eles são.

Consumir a alegria 
Sem a parcimônia 
Nos desejos eternos. 



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Torpor

Delícia 
Essa sensação estranha
E concreta 
De não pertencimento.
Nenhum sonho
Cabe no momento,
Só uma nuvem
Que passa sem permissão,
Canto de galo 
Em pleno sol a pino.
Vento que leva 
Para bem longe 
A pipa do menino. 
E depois da curva, 
Entre mil encruzilhadas,
Decidir pela mais longa,
Mais infinita
Das estradas. 

sábado, 25 de janeiro de 2025

sábado, 18 de janeiro de 2025

Existência

Existir na música.
Discutir se é  melhor 
A cerva ou o Vinho
Com direito
A passeios entre
Goles de água.
A embriaguez inerente
Ao desejo imenso 
Do pleno existir.
Cravar os dentes 
Na carne que nos pertence.
Nas coxas que nos enquadram ,
Nos livros que ensinam a
Sonhar mais do que se deve..

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Alma

Perde-se a alma
Na insensatez dos percursos,
Nos descaminhos dos sentidos,
Nos desvarios dos discursos,
Nos lampejos dos destinos,
Na miséria da imposicao,
Na glória não alcançada
Nos  pedidos de perdão
Na vitória nunca sonhada,
No sossego da solidão. 

sábado, 11 de janeiro de 2025

tristeza

Trago tristeza intrínseca
Dentro de mim. 
Ela em geral se insurge
Estravaza tal alegria.

Quer ser diferente
Vestir roupa de outro
Fantasia fora de época
Carnaval em puro Natal.

Quem há de entender
A dissincronias do ser?
Como buscar o céu 
Onde se desconhece o mal. 

Amor 2

Homem sem desejos
E muitos sonhos.
Sigo a nota sem 
Entender o tom.

Pra que discutir 
A música que encanta 
Se a harmonia está perfeita
Para o tempo que quero?

Viver perto de quem amo
É tal ganhar a eternidade,
É sentir que o amanhã 
É só mais um passo.

Quando choro 
Não há dor.
Simples prazer de saber
Que o que sobra é amor. 





Amor

Amor rima com luz,
Com o calor de teu corpo.
Viver sem nenhuma cruz,
Seguir caminho torto,

Cada dobra um destino 
Exalando todo ensejo
E o que começou com um beijo
Só acaba quando termina
A solidão do próximo desejo.