terça-feira, 10 de junho de 2025

Calos

... Quem falou 

que seria fácil?

Abrir portas de 

ferrolhos enferrujados.

Romper frestas

que escondem 

curiosidades. 

Bater, 

malhar em ferro frio,

criar calos,

quebrar ossos,

cegos para o longe, 

esquecidos do destino.  

Naturalmente

... Não há arco-íris

que explique as 

cores do mundo. 

Ventos e nuvens 

passeiam pelos céus, 

sem medo de tempestade. 

Há grãos suficientes para

aquiescer qualquer 

pretensão de grande rocha. 

A natureza do fogo é queimar, 

mas encanta. 

O sonho nasce na segurança

do sono, mas perturba. 

A paz não habita a

pena de uma pomba.

Da guerra é a última sombra. 


Labirinto

 Afinal

tudo é espanto, 

nenhuma dor,

algum pranto. 

Passo sem caminho,

destino inutilmente

incerto. 

Sorver tudo que

restou por perto, 

sem remorso,

se perder no 

labirinto para 

sempre aberto. 

Inocente mente

Quero viver

até quase sempre,

sentindo cada dor

do infinito presente, 

desejando o fim, 

assim como quem 

inocente mente. 

Desonestidade

 O assim

e o assado

se confundem

nas entrelinhas

da natural 

desonestidade,

tanto alheia

quanto nossa;

estupidamente 

humana. 

Prato sujo

As palavras passeiam 

por caminhos incertos

até caírem desajeitadas

num pedaço qualquer de papel.

Serão sinceras?

Sonham suas novelas?

Embalam como doces

ou insultam tal o fel?

Terminam por vezes

escondidas atrás de retratos, 

restos de comida

que sujam os pratos, 

mas jamais perdem 

a força da intenção. 

Multas

 Nunca pedi

para ser perdoado. 

Esquecido talvez,

compreendido jamais. 

Furei muito 

sinal fechado.

Pago todas as multas

com grandes doses 

de orgulho. 

Suores

 Madrugadas

nem sempre são frias.

Algumas são tão quentes

quanto a pele de uma 

mulher ardente.

Nos acorda suados

com uma língua

entre os dentes,

sem saber se é verdade

ou se vive o que sente.  

Ícaros

 Percorro o mundo dos 

sonhos e me perco

esquecido entre as 

ilusões do mérito. 

Quanto querer cabe 

na realidade do possível?

Multidões pulam 

em abismos. 

Ícaros inocentes 

acreditam em asas. 

Se é preciso tentar, 

seja cos pés no chão.

Energia

 Depois de pintar

o céu de azul, 

flertar com as nuvens,

e instigar o labor das plantas, 

o sol beija calorosamente 

a terra que o seduz. 

Veredas

Sonhando alto,

passeio com as nuvens.

De pé no chão

sou comido pelas formigas.

Se há veredas no meio,

todas são minhas inimigas.  

Seca

 Chuva no solo certo

seria um presente de Deus. 


Calor e dor rimam

aqui em baixo, na Terra. 


Não pertencem aos 

desígnios dos céus. 

Covas

 Os passos são 

curtos para 

justificar os destinos. 

Sorrisos impossíveis, 

carinhos perdidos

nas entrelinhas 

entre o querer e o poder. 

A cova que nos espera,

chora a teimosia do 

insuportável respirar. 

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Defesa

Abdicar da simplicidade de uma cerveja antes do almoço é quase como desistir da doçura da vida. Enquanto se ouve a frigideira chiar na cozinha, se examina sem dor as intempéries do mundo das ideias e dos fatos. Para que sofrer sem analgésico legal? 

A dor que não preenche uma mínima alma não tem permissão de se fazer sentir. Toma-se um gole bem gelado, arrasta-se tudo que cabe na garganta e joga-se ela fora num sórdido e único escarro. 

Se pedisse para sofrer, não seria assim, jeito bobo, sem motivo aparente, besteira em forma de gente. Sofreria de fato completo, peito aberto, coração sem desculpa, alma plena de pecado, orgulhoso de cada um. Minuto em que se exalta a veracidade de cada incompreensível destino. 

Há lapso incrível entre o que se deseja e o que se entende ser. Os pingos se chocam, as vírgulas carecem de razão, a gramática se embaralha numa modesta intenção de originalidade. Há um terrível anseio de sempre mais na concepção inefável da imortalidade. 

terça-feira, 27 de maio de 2025

Templo

Abrir portas e janelas,
deixar o tempo correr 
por toda a casa,
da sala à cozinha. 

Só não deixar que 
entre no quarto: 
templo sagrado 
dedicado à pequena morte
e ao grande amor. 

sábado, 24 de maio de 2025

Pronto

O chafaris secou,
Sei nem de que fonte.
Desejo que encontra
Seu impreciso fim.

É preciso descansar.
Deixar para outras ideias
A imagem imaculada
Da eternidade e imaginar 
Que a beleza está na 
Tão própria existência.


Sorrisos

...Risos são aqueles
Que prescindem de sentido.

Vislumbre de chuva 
Que não vai cair,

Cordas que encantam,
Notas dissonantes
De louca canção.

Dormir sonhando 
A luz que ficou escondida 
Na pura sombra 
Que pouca gente faz.

As garrafas que sobram 
Perdidas nas sargetas,
Abandonadas onde 
Nenhum deus pode 
Entender,
Deixam rastros de uma 
Viagem que ninguém
Ousa esquecer..

domingo, 11 de maio de 2025

Matriarcado

A música nasce longe e me atrai até a Praça do Pueblo de Machu Picho. Olhando o céu escuro que chora uma fina garoa percebo luzes de holofotes que dançam de um lado para outro. O barulho na praça chega a ser ensurdecedor, mas a alegria é contagiante. Garrafas se esvaziam enquanto corpos se movem alegres, bocas se beijam, mãos se enlaçam e braços levantam os que sucumbiram ao torpor do álcool. Os balões acima do palco anunciam que toda a festa é direcionada a elas: às mães. Os povos andinos preservam o culto à Mãe Terra. A Deusa que lhes acolhe e dá o sustento: o alimento e o ninho. E o que mais simboliza o acolhimento do que os braços de uma mãe? Nascemos seres perdidos no tempo e no espaço, e certamente não estaríamos ocupando e perambulando pela vida se não contassemos com o calor e alimento do seio materno. Mas hoje sou eu que quero ampará-la, levanta-la do chão onde dorme tão quieta, e acolhendo-a bem colada a minha alma, dizer que a amo e que nunca será esquecida enquanto existir a vida que ela me deu.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Caviar

... Nada mais a esquerda que um voto fora de sua classe. Por isso até sorrio orgulhoso quando me acusam de apreciador de caviar. Lembro que já comi e gostei, mas não ando sonhando em espalhar aquelas bolinhas gelatinosas sobre a minha torrada e sair postando nas redes que sou chique e realizado. Prefiro a boa e proletária geleia de goiaba. Um guacamole  é quase exótico para muitos, mas entra no meu cardápio semanal. As ovas de esturjão deveriam ser acessíveis a todos, assim como o arroz com passas, a picanha, os ovos de páscoa, as cervejas artesanais e os voos para a Disney, embora eu prefiro Paris. Eu e o Chico.    

terça-feira, 8 de abril de 2025

Vagabundo

Não ligo muito se me chamam vagabundo. Afeito à concepção primordial da palavra, até me encanta ser um ser que vaga pelo mundo desfrutando de suas delícias, sem saber bem como elas vieram até minha pessoa. Não há nada de vago no real aproveitamento do que uma vida simples e honesta tem a nos oferecer. Os andarilhos são testemunhas do que o caminhar em vão tem a inspirar o espírito e a imaginação. Trabalhar é coisa de quem não tem o que fazer, muito ao contrário dos meritocratas e produtivistas que dormem tarde e acordam cedo, ou pelo menos é o que pregam a quem procuram enganar. Não a toa a meditação está cada dia mais receitada para quem procura o aperfeiçoamento de sua plasticidade cerebral. O stress tem valor contra os perigos das florestas e das esquinas, mas experimentado a exaustão, promove um irremediável encurtamento do calendário da vida vivida. O jeito certo seria vagar? Não sei de mais ninguém além de mim, mas procuro aproveitar ao máximo os momentos de puro ócio, quando a vida parece parada o suficiente para me perder dentro dela e me sentir eterno, mesmo que não passe de um sincero vagabundo. 

domingo, 6 de abril de 2025

Festa Cancelada

Se pecar é humano e o homem lá de cima foi criado para perdoar os deslizes de suas criaturas, para que são feitas e até escritas as leis? Nunca alguém me abordou na esquina ou em mesa de bar para comentar sobre a página 12 do Diário da União de hoje, mas todas as ações de governo devem estarem devidamente registradas lá, senão vira outra coisa, golpe por exemplo. Só se oficializa um golpe depois dele ter sido perpetrada. "Nove Dedos, Picolé de Xuxu e o CareXandão serão exportados, sem nenhuma taxação, para China, lugar de Comunistas. Revogue-se todas as disposiçoes em contrário. Brasília 09.01.2023". Antes de executado, um golpe só pode ser registrado em Minutas. Estas, mesmo que impressas no Palácio do Governo, não têm poder de ofício. Servem apenas como testemunha de acusação. Mas pecar é humano e pode e deve ser perdoado, ou não? Antes que as urnas decidam definitivamente a questão, as ruas gritarão seus sins e seus nãos. Se a chuva deixar, é claro!!!! 

sábado, 5 de abril de 2025

Depois da...

Depois da terceira o mundo ganha um brilho que não pode ser chamado estranho, vamos dizer especial. As bordas se insinuam, as cores parecem pedir para sair das coisas que as aprisionavam. O ritmo ganha tempo, ou seria o contrário? Tanto faz. A realidade dos compromissos e a incompreensível solidão dos corpos elementares perdem o que têm de insólitos, para se perderem numa dimensão plena de luz e pura energia. E quem não escapa da ventania, que varre para longe os percalços e os odores, se descobre vítima da íntima impressão de completude estóica com a vida e o mundo irresponsável da verdade. 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Defesa

Sempre defenderei o direito de qualquer um, preto ou branco, feio ou bonito, rico ou pobre, tricolor ou alvinegro, de ser idiota e de estribuchar. Se defender das besteiras que faz ou diz, é tão humano quanto se admirar das proezas dos bebês e dos pets. A perfeição não nos pertence. A mediocridade nos persegue que nem mosquito em noite quente, sem ar ou ventilador. E se não há sentido real para a nossa existência, embora as religiões insistam em dizer o contrário, não há razão para não nos agarrar com berros e chifres às nossas declaradas convicções, nem todas muito sinceras, mas não custa nada fingir que o mundo gira da esquerda para a direita e que o aquecimento global é culpa dos intrépidos comedores de polenta. O pensamento mediano deve ser defendido no que ele representa como estatistica, não por ter elevado o sertanejo a objeto de arte. E quem pode dizer que aquela sofrência não tem justificativa sincera, principalmente neste universo de feeds, curtidas e nudes? A individualidade é "minha" e de quem aperta botões de modo automático, só pelo prazer de compartilhar o presente. O que importa é causar, estar permanentemente no furdunço do mexerico. A verdade é um sofisma fabricado por interesses escusos e nenhum compromisso com a dialetica das incertezas. 

domingo, 30 de março de 2025

Lindeza

Quem não acha 
A mãe bonita,
Não nasceu para filho.
Mães são sempre belas,
Dentro seja da camisola 
Ou em vestido de passarela.
Rosto de mãe 
É puro encanto.
Embala sonhos,
Enxuga prantos .
Mulher que é mãe 
Se torna linda,
Pintura gravada
Na moldura da eternidade,
Carinho esculpido
Em saudade infinda. 

quinta-feira, 27 de março de 2025

Caminhos

Caminhos são tantos
Quantas as possibilidades.
Pais e Mães respondem
Por toda e sincera vontade.
Filhos são tão improváveis
Quanto a incerta realidade.
Herdar o nariz
Ou a média das alturas
É tão indiferente
Quanto ousar 
Dividir sonhos. 
A matéria que nos une
Devia ser suficiente 
Para nos fazer únicos. 
Caminhos são tantos 
Quanto são as verdades. 






sábado, 22 de março de 2025

Assinaturas

Nada mais para fazer senão lembrar. Enquanto assisto a vida correr para lá e cá, entre tantos rostos para quem sou um perfeito invisível, passeio o pensamento por aqueles que se fizeram saudade. Revejo as lições da infância, as pequenas palmadas pela pequena malcriação, as brigas por motivos incertos, as pequenas e grandes confidências, os cafunés que valiam moedas, os braços que me carregavam para a cama, os xaropes e infusões que aliviavam as incômodas gripes, as viagens vividas e as nunca realizadas, os olhares cheios de compreensão, mas também de repreensão, tudo assim embaralhado, coisas e fatos tão cotidianos que fica difícil explicar o porquê de permanecerem registradas na memória. Enquanto o mundo gira, e com ele cada um de nós, vira dúvida nosso sonho de eternidade. Será que somos esse sonho? A resposta é tão incerta quanto é real a presença de todos que assinaram o caderno de minha história. 

Ausência Anunciada

Não é dor.
Passa bem perto 
De uma ausência 
Anunciada. 
Sabe aquela cantiga
Que a gente sabe 
Que vai ouvir,
Mas teima em mudar
O dial ao mínimo acorde? 
Mas sempre chega o dia,
E a gente sente 
Tanto cheiro conhecido,
Ouve todos os conselhos 
Reincidentes,
Lembra de cada 
Minuto de embalo
E de real companheirismo,
Que fica difícil não
Sucumbir a um sentimento 
De vazio. 
Assim se conta e faz 
História. 
Um dia de cada vez. 
O amanhã não pertence 
A quase ninguém.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Corações

Mais um coração veio morar e pulsar no meu peito. Meu eletro espiritual não é feito de linhas, mas de nomes: Seu Teúnes, Dona Helena, Tiquinha, Hermênio, Tio Vicente, Tio Egberto, Primo Edmilson, cada um e tantos outros fazem parte e contam um muito de mim. As lágrimas que me surgem ao lembrá-los "quase" secam ao senti-los bater forte aqui dentro e saber que se instalaram de forma tão mansa e natural quanto é a justa realidade de uma vida plena de amor. Eles me ajudam a empurrar cada gota de sangue, aparecem nos sonhos que me acordam no meio das noites e se insinuam misteriosamente em cada arco-iris de madrugada úmida. 
Entao tá.
Então tum.
Ausência carente de dor.
Então tá 
Então tum.
Doce sentir esse calor.
Então tá 
Então tum
Guardo todos com muito amor. 

terça-feira, 11 de março de 2025

Abismo

Cadê a solidão que

abandonei na esquina,

sem migalha ou gota? 

Pode ter chovido.

Do chão um pão seco nasceu. 

Criança maldita. 

Nenhuma mãe quer. 

Tua sorte é a franqueza. 

Tiro no meio da testa.

Abismo que a planta do pé anuncia. 

Vazio que o horizonte empresta.

Afago de mão fechada e vazia. 

segunda-feira, 3 de março de 2025

Carnaval

Tomara que chova.
Três dias parecem pouco
Para quem nunca
Esqueceu o que é brincar.

Chuva de alegria 
Passo dado sem galocha.
Chuva de euforia.
Para quem não se importa.

Lá vem ela.
Gabriela que sobe telhados
Odor de gente 
Sem pena dos enjeitados.

Queimar incensos
Adorar tantos deuses 
Quantos eles são.

Consumir a alegria 
Sem a parcimônia 
Nos desejos eternos. 



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Torpor

Delícia 
Essa sensação estranha
E concreta 
De não pertencimento.
Nenhum sonho
Cabe no momento,
Só uma nuvem
Que passa sem permissão,
Canto de galo 
Em pleno sol a pino.
Vento que leva 
Para bem longe 
A pipa do menino. 
E depois da curva, 
Entre mil encruzilhadas,
Decidir pela mais longa,
Mais infinita
Das estradas. 

sábado, 25 de janeiro de 2025

sábado, 18 de janeiro de 2025

Existência

Existir na música.
Discutir se é  melhor 
A cerva ou o Vinho
Com direito
A passeios entre
Goles de água.
A embriaguez inerente
Ao desejo imenso 
Do pleno existir.
Cravar os dentes 
Na carne que nos pertence.
Nas coxas que nos enquadram ,
Nos livros que ensinam a
Sonhar mais do que se deve..

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Alma

Perde-se a alma
Na insensatez dos percursos,
Nos descaminhos dos sentidos,
Nos desvarios dos discursos,
Nos lampejos dos destinos,
Na miséria da imposicao,
Na glória não alcançada
Nos  pedidos de perdão
Na vitória nunca sonhada,
No sossego da solidão. 

sábado, 11 de janeiro de 2025

tristeza

Trago tristeza intrínseca
Dentro de mim. 
Ela em geral se insurge
Estravaza tal alegria.

Quer ser diferente
Vestir roupa de outro
Fantasia fora de época
Carnaval em puro Natal.

Quem há de entender
A dissincronias do ser?
Como buscar o céu 
Onde se desconhece o mal. 

Amor 2

Homem sem desejos
E muitos sonhos.
Sigo a nota sem 
Entender o tom.

Pra que discutir 
A música que encanta 
Se a harmonia está perfeita
Para o tempo que quero?

Viver perto de quem amo
É tal ganhar a eternidade,
É sentir que o amanhã 
É só mais um passo.

Quando choro 
Não há dor.
Simples prazer de saber
Que o que sobra é amor. 





Amor

Amor rima com luz,
Com o calor de teu corpo.
Viver sem nenhuma cruz,
Seguir caminho torto,

Cada dobra um destino 
Exalando todo ensejo
E o que começou com um beijo
Só acaba quando termina
A solidão do próximo desejo.