sábado, 4 de abril de 2020

Voltar ao Normal?

Qual a definição de Normalidade? Podemos voltar à vida Normal depois de um tempo doente, em férias ou só porque resolvemos dar um tempo, ou mesmo por imposição de governamental? Me parece que não podemos retornar ao que nunca existiu. Ontem eu não era o que sou hoje. Até meu peso mudou, encolheu, e minha relação com o outro é diferente da que foi no segundo que o ponteiro comeu. Somos máquinas mutantes, tal os vírus e suas idiossincrasias involuntárias. 
Voltar ao trabalho não pode ser considerado voltar ao normal, com tantas ruas vazias, o posto fidelizado fechado e me pegando de tanque quase seco e o cruzar com mascarados legais ou não passeando sozinhos, cada um com seu motivo, no início de um dia nublado, mas sem promessa de chuva.  
O normal anda longe de se impor nos corredores do hospital, a começar pelo setor de rouparia, que sequer sabia a localização, e onde me deparo com funcionários ainda tontos pelo inopinado das circunstâncias. Encontrei um abraço de boas vindas tolhido pelo medo do contágio e percebi que as relações também mudaram. Um medo escondido de transmitir e/ou receber, mesmo que involuntariamente, um mal secreto que ninguém sabe ao certo se carrega. As segundas orientações sobre a nova rotina, o novo normal, me chegam pelo colega que está deixando o estar. É assim, é assado. Isso pode, aquilo ainda está indefinido. Mais dúvidas que certezas, quase sempre é assim. De roupa trocada vou direto ao meu setor. Ser saudado com a afirmação sincera de que fizera falta, dá um consolo e força para esquecer que preferiria ter ficado em casa, recolhido e protegido da tempestade  que nenhum barco quer enfrentar. Só quando me encontro irreconhecível, como um recém nascido que acabara de nascer, e tudo fosse novidade, principalmente minha "tosca" e mascarada presença, é que pergunto o que mudara no mês que estive ausente e o que a pandemia trouxera de novo à rotina do trabalho. Quase nada. Ainda bem, que bom, menos mal, que chato, verdadeiro absurdo!!!!! Fui mudando do otimismo para a indignação quase que como descendo degrau por degrau no entendimento de que tudo mude para nada mudar. O normal continua se impondo à nossa percepção de mundo. Nos acostumamos tanto com o habitual que mal percebemos as mudanças que se impuseram na gente e no mundo. 

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